1
– UMA PARANÓIA GLOBAL:
"Cercada
por mitos e impregnada de intensa propaganda oficial, a expressão “guerra fria”
se baseia num princípio fundamental: a partir do fim da II Guerra Mundial, e
particularmente a partir de 1949 (ano em que a União Soviética produziu a sua
primeira bomba atômica), tamanho era o poderio militar (nuclear) dos EUA e da
União Soviética, que evitavam se destruir passando a se chocar diplomaticamente
em locais onde não haveria risco de conflito nuclear. Esta seria a equação
básica para as relações internacionais e, na medida em que o conflito EUA X
URSS é ideológico e de aniquilação mútua, o mundo teria de se posicionar
entre um e outro, formando áreas de influência e blocos diplomáticos. A verdade
oficial (proclamada tanto pelo governo norte-americano como pelo governo
soviético), que a propaganda incutia em uma ou outra população, era que
enquanto uma nação tentava se defender, a outra se expandia, e tudo não passava
de uma formidável luta entre a liberdade e a tirania, a defesa da paz contra o
expansionismo militarista." (BARROS, Edgard Luiz de. A Guerra Fria. São
Paulo: Atual; Campinas: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1988, p.
5.).
2 – A GUERRA FRIA
CLÁSSICA:
Formalmente,
a Guerra Fria tem início com a elaboração da Doutrina Truman, que procurava
conter o expansionismo soviético. No entanto, alguns elementos ocorridos antes
desta Doutrina merecem ser lembrados como uma declaração "informal".
Estamos nos referindo ao lançamento das bombas atômicas sobre o Japão, em agosto
de 1945. Muitos autores consideram que estas bombas não eram necessárias para
fazer o conflito se encerrar e que elas teriam se constituído, na realidade, no
primeiro lance importante da Guerra Fria. Querem dizer com isso que, se o Japão
foi a vítima das bombas, o alvo maior era a URSS. Tratava-se de uma
advertência, pois que a URSS não possuía aquele tipo de arma, mas contava com o
maior exército do mundo. Teria sido uma espécie de aviso: se os soviéticos
pensavam em expansão militar e novas conquistas, ficassem advertidos de que os
americanos não hesitariam em utilizar as novas armas contra eles.
Outro
evento significativo foi a visita que o ex-primeiro ministro inglês, Churchill,
fez aos Estados Unidos. Discursando na cidade de Fulton, Churchill deixou claro
que cabia aos americanos a defesa do mundo livre, uma vez que a Inglaterra não
se achava mais em condições de fazê-lo. Alarmou os americanos ao descrever o
surgimento da "cortina de ferro" que separava os governos
democráticos dos totalitários na Europa. Seu discurso foi eficaz, pois logo
depois o presidente Truman enviou ao congresso a sua mensagem já referida,
solicitando aos congressistas recursos para ajudar os governos turco e grego na
luta contra os comunistas.
Para
implementar o projeto de contenção da URSS, foi constituída a OTAN (Organização
do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar que reúne os Estados Unidos e
os países da Europa Ocidental. Resolveu-se também por uma ajuda financeira aos
países europeus, o Plano Marshall, com o evidente objetivo de recuperar
rapidamente as economias desses países e, com isso, evitar movimentos que
pudessem conduzi-los ao socialismo. É importante lembrar que os recursos do
Plano Marshall foram oferecidos também aos países da Europa Oriental, já sob
domínio soviético, com o intuito de tentar retirá-los da influência de Moscou.
Stalin proibiu que os recursos fossem aceitos. Somente a lugoslávia concordou
em receber a ajuda, abrindo um fosso entre os dois governantes, Tito e Stalin.
A
URSS reagiu a essa movimentação norte-americana. Além de proibir aos
países da Europa oriental o acesso aos recursos do Plano Marshall, Stalin
organizou o Pacto de Varsóvia, aliança militar com os países da Europa
Oriental, numa clara resposta à criação da OTAN. Também nesses países
foram retirados dos governos os elementos de partidos "burgueses",
instituindo-se o sistema de partido único.
Uma
das regiões mais conturbadas dessa época foi a Alemanha. Após a guerra, a
Alemanha fora dividida em quatro setores de ocupação: americano, soviético,
inglês e francês. Em 1949 o setor soviético foi transformado na República
Democrática Alemã, socialista. Os demais setores transformaram-se na Cortina de
Ferro República Federal da Alemanha, capitalista. A cidade de Berlim, antiga
capital da Alemanha, situada na parte oriental, também foi dividida em setores. Os soviéticos
chegaram a bloquear a parte ocidental da cidade tentando fazer com que os
americanos se retirassem, mas o bloqueio não deu certo. Foi então construído o
Muro de Berlim, dividindo a cidade em duas partes, situação que se manteve até
1989.
Outro
momento extremamente grave dessa primeira fase foi a Guerra da Coreia. Tomada
aos japoneses, em 1945, pelos russos e americanos, a Coreia foi dividida em
duas zonas de ocupação: o Norte ficaria com os soviéticos e o Sul com os
americanos. As duas regiões seriam anexadas depois de um plebiscito.
Entretanto, tropas norte-coreanas invadiram o Sul tentando unificá-lo, gerando
o conflito. Os Norte-americanos desembarcaram rapidamente suas tropas,
procurando rechaçar as do Norte.
A
China também se envolveu no conflito, tumultuando ainda mais. Ante a
perspectiva do confronto aumentar de intensidade e gerar conseqüências
imprevisíveis, as potências chegaram a um acordo, definindo a divisão da Coreia
em duas, situação que ainda hoje existe.
Essa
primeira fase da Guerra Fria terminaria quando a Revolução Cubana ocorreu e, em
seguida, por acordos feitos com a URSS, essa iniciou a construção de
plataformas para lançamento de mísseis na ilha. O presidente Kennedy, dos
Estados Unidos, ordenou o bloqueio da ilha, advertindo os soviéticos de que
Cuba seria invadida se os mísseis não fossem retirados. O mundo
sobressaltou-se, pela perspectiva existente de a Guerra Fria tornar-se um
confronto aberto entre as duas superpotências. Felizmente, os soviéticos
optaram por retirar os mísseis.
A
situação vivida produziu seus efeitos. Ficou claro que, a persistirem as
provocações, em breve o mundo poderia caminhar para a autodestruição. Já de
algum tempo que o primeiro ministro soviético Nikita Kruschev acenava com a
idéia da "coexistência pacífica": o embate entre o mundo capitalista
e o socialista não deveria ocorrer no campo das armas, mas no campo econômico.
Suas idéias ganharam força após a crise dos mísseis cubanos e o conceito de
"coexistência pacífica" passou a ser utilizado para designar as
relações entre as duas superpotências. Para alguns historiadores, isso
significava o fim da Guerra Fria.
1. O que foi a URSS (União das Repúblicas
socialistas Soviéticas)?
Apesar de ser
um país de economia essencialmente agrária e de extrema pobreza de sua
população, a Rússia conseguiu construir um império, que ocupou enorme extensão
de terras no Leste da Europa e no Norte da Ásia. Em 1917, os imperadores
(Czares) foram destituídos do poder pela Revolução Russa de orientação
socialista. Em 1922, o país passa a
denominar-se URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), o primeiro
país socialista do mundo, congregando inicialmente áreas que pertenciam ao
antigo Império Russo. Desde a sua formação até o ano de 1940, a URSS anexou outras
áreas ao seu território, tornando-se também o país mais extenso do mundo, com
mais de 22 400 000Km2.
2. O Socialismo Real Soviético
O socialismo implantado na URSS
esteve muito distante do socialismo pensado por Marx e Engells, pois
apresentava características muito peculiares. Confira:
2.1. Características
a) Instalação de um
governo autoritário;
b) Uma ditadura de
partido único (monopartidarismo);
c) Economia em que o
Estado ditava as leis do mercado: a economia planificada onde havia um forte
planejamento da produção e do consumo;
e) Garantia das
necessidades básicas;
f) Planos qüinqüenais;
Foi a partir do final da Segunda
Guerra Mundial que a URSS conseguiu expandir seu domínio geopolítico na Europa.
Aliados aos EUA, Inglaterra e França contra a Alemanha, os soviéticos tiveram
papel decisivo na derrota dos nazistas. Nos acordos realizados após o conflito (Conferência de Yalta), a União
Soviética garantiu sua hegemonia sobre os países do Leste Europeu, que adotaram
o sistema socialista.
A partir da
Segunda Guerra mundial a URSS alcançou grande crescimento assumindo o lugar de
potência mundial, conseguindo competir com os EUA durante muito tempo.
2.2. As Contradições do Socialismo Real e a Crise
na ex- URSS
a) A aversão da
sociedade ao totalitarismo (ausência de liberdades individuais, proibição de
manifestações religiosas e culturais, perseguição aos opositores do regime,
rígido controle sobre os veículos de comunicação de massa.)
b) O monopartidarismo
c) Os privilégios da
burguesia
d) A incapacidade dos
governos em acompanhar as mudanças ocorridas em países desenvolvidos
capitalistas devido à forte centralização política e econômica
e) Os excessivos
gastos com a indústria bélica
3. As Tentativas de Soluções para as Contradições
do Socialismo Real: A Perestroika e a Glasnost
3.1- A Perestroika
A palavra Perestroika (que em
russo significa reestruturação) passou a designar a tentativa de introdução de
mecanismos de economia de mercado com o objetivo de dar maior impulso à
economia soviética, veja as principais medidas:
a) Abertura da
economia ao capital estrangeiro;
b) Inversão de
prioridades com ênfase às indústrias de bens-de-consumo;
c) Privatização de
empresas estatais;
d) Redução da ajuda
econômicas aos países do Leste Europeu;
3.2. A Glasnost
O maior empecilho para as
mudanças propostas pela Perestroika era
a manutenção de um regime totalitário no
país. Para implementar a reforma econômica, era preciso transparência política.
Dessa forma, foi instituída a glasnost (transparência) com as seguintes medidas:
Objetivo: conceder democracia
para conseguir o apoio do povo a fim de impedir a queda do socialismo.
A partir do
exemplo Russo, a instalação de governos de orientação socialista tornou-se uma
verdadeira febre, chegando a atingir 34% da população mundial no início da
década de 80.
No entanto, a partir
do final dos anos 80, a
situação se inverteu. O socialismo real ingressou numa profunda crise. Nos últimos
anos ocorreu uma verdadeira corrida ao capitalismo e à economia de mercado.
Atualmente, muitos paises socialistas já apresentam aspectos indiscutivelmente
capitalistas, com economia de mercado já consolidada e enorme privatização de
empresas. Vejamos agora quais os principais elementos que determinaram a crise
do mundo socialista.
4.1. Os motivos da crise
a) Os mecanismos de
planificação da economia que tornaram o país impossibilitado de competir no
mercado mundial, com a qualidade dos produtos fabricados por países
capitalistas;
b) Os equívocos da
economia planificada: as metas dos planos eram apenas quantitativas, não havia
preocupação com a qualidade dos produtos; o acesso a bens de consumo, tanto em
quantidade quanto em qualidade, não era disponibilizado para toda a população
da URSS; outras atividades econômicas, como a agricultura por exemplo, não
acompanharam o desenvolvimento industrial; como tudo era determinado pelos
planos governamentais e a avaliação do desempenho era inexistente, não havia
incentivo para o aumento da produtividade.
c) A ausência de
liberdades democráticas;
d) A integração cada
vez mais estreita do planeta e o enfraquecimento da URSS;
e) A diversidade e
rivalidade étnico-nacional (nas antigas URSS, Iugoslávia, Tchecoslováquia);
f) Gastos excessivos
no setor militar na tentativa de ultrapassar as realizações norte-americanas na
corrida armamentista;
“ A crise econômica
soviética teve início nos anos 1970, agravando-se na década seguinte. A
falência do modelo econômico soviético coincidiu com a emergência da revolução
técnico- científica, da globalização e da produção flexível. Pelo fato de ser
uma economia estatizada e planificada, a União Soviética não acompanhou os
avanços tecnológicos dos países
capitalistas desenvolvidos, em boa parte provocados pela acirrada
concorrência do mercado.
Enquanto a economia mundial
crescia baseada nas tecnologias da Segunda Revolução Industrial e no modelo de
produção fordista, a União Soviética, que priorizava investimentos em
infra-estrutura e indústrias pesadas, acompanhou o ritmo dos países
capitalistas. Mas quando eles passaram a incorporar tecnologias informacionais
ao processo produtivo, característica da produção flexível, a União Soviética
não conseguiu acompanhá-los. Por isso, a crise econômica agravou-se. A
necessidade de reformas tornava-se cada vez mais urgente.
MOREIRA, João Carlos
& SENE, Eustáquio de. Geografia para o ensino médio: geografia geral e do
Brasil. São Paulo: Scipione, 2002. p.375.
5.2. A diferença entre a CEI e a ex- URSS.
A CEI não é um país, como era a
URSS, nem foi criada para substituir essa grande potência. É uma organização de cooperação entre antigas
repúblicas que passaram muitos anos ligadas pelo governo central de Moscou,
porém dessa vez cada qual tem assegurada sua soberania.
5.3. Fatores que tem dificultado a maior
integração político – econômica da CEI
a) A disputa pelo
controle do arsenal bélico da ex- URSS;
b) Os constantes
conflitos internos relacionados à diversidade étnica, as disputas de fronteiras
e os protestos contra a interferência russa nos países da CEI;
c) Discussões sobre a
repartição das dívidas deixadas pela URSS;
d) A crise econômica
que afeta a Rússia e, conseqüentemente enfraquece sua liderança na CEI. Tal
crise está diretamente relacionada à adoção de políticas neoliberais de forma
acelerada, liberalização de preços, desvalorização da moeda, a baixa capacidade
em atrair investimentos.
6. A Crise Russa Atual
6.1. Características:
a) Retirada de capital
por parte dos investidores devido aos desequilíbrios na economia e a
instabilidade política durante o governo de Boris Yeltsin.
b) A expansão do crime
organizado – a transição caótica da União Soviética para a economia de mercado
propiciou as condições ideais para a penetração generalizada do crime
organizado nas atividades empresariais da Rússia e das demais repúblicas.