LICEU RIBAMAR BRAUN GEOGRAFIA
UNIDADE 01 – REGIONALIZAÇÃO DO
ESPAÇO MUNDIAL: DO PERÍODO BIPOLAR AO PERÍODO MULTIPOLAR
01 –
GEOPOLÍTICA DA GUERRA FRIA:
As alterações
ocorridas no mapa da Europa nos últimos anos são o sinal de que vivemos um
período de transição. É a estruturação da chamada nova ordem mundial, que vem
substituir a velha ordem, marcada pela oposição entre Estados Unidos e União
Soviética, em um período conhecido como guerra fria.
A guerra fria começou
a desenhar-se logo após a Segunda Guerra Mundial. Mais precisamente durante a
Conferência de Potsdam, realizada em Julho de 1945, quando as potências
vencedoras decidiram dividir o território alemão em quatro zonas de ocupação,
controladas, de leste a oeste, respectivamente, por União Soviética,
Inglaterra, Estados Unidos e França. A capital alemã, Berlim, também foi
ocupada e dividida entre os russos a leste, e franceses, ingleses e americanos
a oeste. Veja os mapas abaixo.
Naquele momento, a
bipolaridade que marcou o cenário geopolítico internacional no pós-guerra já
estava configurada. Isso porque as duas grandes potências vencedoras — a
capitalista, representada pelos Estados Unidos, e a socialista, representada
peia União Soviética —tinham projetos antagônicos, não só para a Ale-manha como
também para toda a Europa.
O antagonismo ficou
claramente expresso a partir de 1947, quando o presidente norte-americano Harry
Truman declarou a necessidade de conter os desejos expansionistas soviéticos no
território europeu e, posteriormente, no território asiático.
Em virtude do seu
importante papel na derrota do exército nazista pelo front oriental, desde
fevereiro de 1945 os soviéticos transformaram todo o Leste europeu em uma
grande área ocupada, alegando a necessidade de manter a segurança junto a suas
fronteiras. Desde esse momento estabelecia-se a chamada "cortina de
ferro", com a divisão da Europa em duas regiões geopolíticas: a Europa
ocidental, sob a influência dos Estados Unidos, e a Europa oriental, sob a
influência da União Soviética.
Para dar conta do
projeto de contenção da influência soviética, os Estados Unidos financiaram a
reconstrução e o fortalecimento econômico da Europa, através do Plano Marshal,
e dos países do Leste e Sudeste asiáticos, através do Plano Comecon. Instalaram
um arsenal nuclear nos países da Europa ocidental e envolveram-se em guerras
localizadas, onde existia a oposição capitalismo versus socialismo, como as
guerras da Coréia (1950-1953) e do Vietnã (1960-1973).
Por seu lado, em 1948, a União Soviética
transformou as áreas de ocupação do Leste em governos pró-soviéticos,
controlando-os de forma absolutamente autoritária, e também criou mecanismos de
auxílio e cooperação econômica no interior do bloco socialista, através do
Comecon.
Do ponto de vista do
equilíbrio do poder, a guerra fria também se consolidou com a criação de duas
grandes organizações militares: a Otan4 e o Pacto de Varsóvia, que tinham como
principal objetivo impedir a expansão dos sistemas socialista e capitalista,
respectivamente.
Essas organizações, bem
como as guerras localizadas entre as duas superpotências, foram expressão clara
de como o controle mundial efetivou-se através do chamado "equilíbrio do
terror". A corrida tecnológica que colocou os dois países em posição
militar de destruir o mundo todo, principalmente com as armas nucleares, serviu
como um eficaz mecanismo de controle mundial.
O muro de Berlim,
construído em 1961, para consolidar a divisão da capital, evitando a fuga de
alemães orientais para o lado capitalista, foi o grande símbolo da bipolaridade,
da disputa ideológica e militar entre os dois grandes vencedores da Segunda
Guerra Mundial. Com a sua queda, em 1989, a velha ordem mundial começava a ruir.
Plano Marshall: plano de
financiamento e de investimentos formulado pelos Estados Unidos para
viabilizar a reconstrução da Europa no pós-Segunda Guerra. Tornou-se
conhecido com esse nome numa referencie ao secretário de Estado
norte-americano George Catlett Marshall, idealizado' os programa.
Plano Colombo: criado em 1951
para a "Cooperação Econômica e o Desenvolvimento Social na Ásia e no
oceano Pacifico". O nome deriva de sua sede, Colombo, capital do Sri
Lanka.
Comecon: sigla referente ao Conselho de
Assistência Econômica Mútua dos paises socialistas, criado em 1949 e extinto
em 1991. Foi a organização responsável pela coordenação e pela integração
econômica dos países socialistas aliados à União Soviética.
OTAN: sigla referente á Organização do Tratado
do Atlântico Norte, uma organização militar criada em 1949, sob a liderança
dos Estados Unidos, para defender o Ocidente do inimigo socialista. Reúne os
Estados Unidos aos seus principais aliados ocidentais e ao Japão. Ao
contrario do Pano de Varsóvia, a Otan sobreviveu e até fortaleceu-se após o
fim da Guerra Fria Hoje. vários são os países ex-socialistas que manifestaram
seu desejo de ingressar na organização,
Pacto de Varsóvia: organização
militar criada em 1955. Reunia os países socialistas à União Soviética, que
liderava esta organização na defesa dos interesses socialistas durante a guerra
fria Com a fragmentação da União Soviética, m dezembro de
|
As fronteiras que
delimitam países são sempre algo provisório e passível de mudanças a qualquer
momento, isso acontece porque as relações sociais que se estabelecem no
interior desses, apresentam-se recheadas de contradições de todas as ordens:
que vai da cultural à econômica, neste contexto há uma série de elementos
estimuladores de sizões e constituições de novos Estados Nacionais. Então a
turbulenta passagem da década de 80 para os anos 90, mostra a desestruturação
de alguns países e o surgimento de novos. Isso gerado pela crise do modelo
soviético e do socialismo real, bem como pela explosão do nacionalismo,
fundamentalmente no Leste Europeu, exemplos: A Tchecoslováquia que foi
desmembrada em
república Tcheca e Eslováquia; e a Iugoslávia toda retalhada
e dando origem a novos Estados; a grande URSS, uma das nações mais poderosas do
século XX, desapareceu do mapa mundi, produzindo o surgimento de 15 novos
países.
A configuração
geográfica do continente africano, constituída em grande medida pelo
imperialismo europeu na passagem do século XIX para o XX, deve, segundo
estudiosos, ser redesenhada nas próximas décadas. Somando-se a essas questões
há lutas em alguns pontos importantes e estratégicos do espaço mundial em que o
separatismo e buscas por autonomias são combustíveis que estimulam e aquecem
rivalidades entre grupos que convivem e conflitam no mesmo território, podemos
citar, como exemplo, a região da Palestina, ocupada desde o início da era
cristã por árabes chamados de palestinos, que passou na Segunda metade do
século XX ao controle do povo judeu. Esse processo foi marcado por uma série de
conflitos que mobilizou boa parte dos países e da opinião pública mundial. É
importante também ressaltar a luta dos bascos na fronteira da França com a
Espanha para a constituição do país Basco; e também a busca pela unificação das
Irlandas em que os católicos do norte da ilha são atores principais.
Assim, pensar o espaço
mundial como algo sempre em movimento é uma tarefa que exige compreensão da
realidade cotidiana. Então as realidades específicas estão entrelaçadas e
recheadas de divergências que desafiam e colocam em cheque configurações e
modelos espaciais criados pelo homem, ao longo de sua trajetória. Essas
criações, sempre passíveis de serem recriadas, afinal são frutos de relações
sociais contraditórias, que se estabelecem no grande teatro da humanidade, o
Planeta Terra.
O geógrafo J. W.
Vesentini afirma "que uma das grandes preocupações da Geografia é a
regionalização da superfície terrestre, do espaço que serve de morada para a
humanidade, como ciência do espaço, a geografia vem procurando criar mecanismos
no sentido de propiciar entendimento das formulações e diferenciações espaciais
criadas pêlos homens".
Existem inúmeras
formas de dividir o espaço mundial, dependendo do referencial que se utiliza
isso com o objetivo de facilitar nosso entendimento sobre o assunto. Então
iremos abordar algumas das formas mais conhecidas de regionalização do mundo:
a) Divisão em continentes:

Há como referência
fundamental elementos naturais, principalmente, a questão geológica, este tipo
de regionalização concebe o espaço mundial dividido em cinco grandes massas
continentais: Europa, América, Ásia, África e Oceania.
b) Os “três mundos”:

Durante o período da
guerra fria (1945/1991) este tipo de divisão foi bastante utilizada, baseava-se
em critérios sócio-econômico e ideológico, definia três campos bem diferentes:
·
Primeiro mundo - formado pelo conjunto de países capitalistas desenvolvidos.
·
Segundo mundo -
formado pêlos países de economia planificada (socialismo real).
·
Terceiro mundo - formado pêlos países subdesenvolvidos.
Obs.: Esse tipo de divisão do espaço não é
mais tão utilizado hoje, em função da crise do socialismo real e conseqüente
desaparecimento do bloco socialista.
c) Divisão Leste x Oeste

Pautada em critérios
políticos e econômicos foi bastante utilizada durante o período da guerra fria
para identificar os países do bloco soviético (Leste) e os países do bloco
capitalista (Oeste).
d) Divisão Norte x Sul:
Uma das formas mais
utilizadas, nesta virada de século, para dividir o espaço mundial, tendo como
referência fundamenta à questão do desenvolvimento econômico e industrial:
·
Países do Norte - desenvolvidos a altamente
industrializados e que assumem papel de vanguarda do ponto de vista comercial e
tecnológico.
·
Países do Sul - países com condições de
desenvolvimento econômico, social e tecnológico inferiores aos primeiros e que
historicamente ocupam papel periférico dentro da divisão do trabalho, no espaço
mundial.

É importante ressaltar
que os países do sul subdesenvolvidos não constituem um bloco homogêneo,
havendo entre esses países grandes diferenças estruturais, sociais e até no
campo econômico, aliás, coisas que discutiremos com maior fôlego na próxima
unidade.
A oposição entre o
Norte industrializado e o Sul subdesenvolvido é reforçada pela crise do mundo
socialista, que novamente se volta para o sistema capitalista. Como se observa
no mapa, a linha divisória entre o Norte e o Sul não é um paralelo (o Equador
ou o trópico de Câncer) e sim uma linha com várias curvas, que dá voltas para
encaixar melhor um ou outro país. Na parte leste ou oriental, por exemplo, essa
linha dá a volta, vindo bem para o sul, para encaixar a Austrália e a Nova
Zelândia no Norte industrializado. Já no leste asiático, a China e a Mongólia,
situadas bem mais ao norte que esses dois países da Oceania, ficam encaixadas
no Sul subdesenvolvido. Portanto, não se trata dos hemisférios norte e sul
(divididos pelo Equador), como muitas vezes se imagina, e sim de um Norte e um
Sul metafóricos ou econômico-sociais.
e) Os pólos de poder econômico:
Outra forma de dividir
o espaço mundial, pois faz parte de uma tendência da nova ordem mundial que se
concretiza, no mundo, na virada da década de 80 para os anos 90.

Áreas indefinidas no mapa:
·
CEI - Comunidade de Estados Independentes
(ex-URSS) - Por um lado, pode vir a tornar-se uma periferia da Europa; por
outro, pode ocorrer a incorporação das repúblicas meridionais e islâmicas ao
Oriente Médio. Pode também vir a ser um mercado comum efetivo, menos importante
que os três principais.
·
Oriente Médio - Área de disputa entre os três
pólos ou centros importantes, com vantagem momentânea para os Estados Unidos;
pode também vir a ser uma região original pela união dos povos e Estados
islâmicos, com tendência a não se alinhar preferencialmente em nenhum dos três
centros.
Nota.: Observe que a linha divisória
Norte/Sul está representada por um traço bem forte, e a área de influência de
cada um dos três principais centros mundiais de poder está limitada com traços
fracos. Com isso quisemos mostrar que a oposição entre os países ricos ou
industrializados e os países subdesenvolvidos é, algo mais visível e
in¬discutível. A área de influência de cada pólo internacional é por enquanto
fluida, relativamente indefinida, pois em muitos casos essas áreas se
inter-penetram. Por exemplo, na área hipotética de influência dos Estados
Unidos (como o Brasil ou a Argentina) há um aumento dos investimentos europeus.
E na área teoricamente japonesa (como a Coréia do Sul ou Hong Kong), os
investimentos de capitais norte-americanos superam os do Japão. Essas áreas de
influência, portanto, devem ser vistas mais como tendências ou possibilidades e
não como realidades fechadas.
02 – A
NOVA (DE$) ORDEM MUNDIAL:
Desde a queda do Muro
de Berlim, em novembro de 1989, um dos assuntos mais discutidos, na imprensa e
nos círculos acadêmicos, é a emergência de uma Nova Ordem Mundial.
A Nova Ordem
Internacional apresenta basicamente duas facetas, uma geopolítica e outra
econômica. Na geopolítica, a grande mudança foi o fim da Guerra Fria e,
conseqüentemente, da bipolarização de poder entre as duas superpotências,
Estados Unidos e União Soviética, e dos Blocos Militares rivais por elas
comandados. Com isso, abriu-se espaço para um mundo multipolar econômico do que
bélico. Na economia, o grande fato novo é o aprofundamento do processo de
globalização e a formação de blocos econômicos supranacionais.

As principais características da Nova
(Des)Ordem Mundial, são:
a) Multipolaridade: deixa de existir uma
ordem bi-polar e passam a existir novos pólos de poder no cenário mundial. Os
três principais são os Estados Unidos, a Europa Ocidental e o Japão, que
periferizam áreas no espaço mundial.
b) Poder: a lógica dessa ordem caracteriza um
país como superpotência a partir da análise da disponibilidade de capitais,
avanço tecnológico, qualificação da mão-de-obra, nível de produtividade e
índices de competitividade.
c) Internacionalização do Capital: com o fim
do bloco socialista houve a ampliação do comércio e da circulação de capital no
espaço mundial, que passou a interligar os vários mercados existentes.
d) Interdependência: com a ampliação das
trocas comerciais, os mercados ficam dependentes cada vez mais uns dos outros.
Assim, qualquer abalo em uma economia, os efeitos surgirão em economias no
mundo todo.
e) Ricos x Pobres: a diferença econômica e
social entre os países ricos e os pobres intensificaram-se, já que no comércio
mundial há uma dominação por parte dos países ricos, o padrão de vida é muito
mais baixo nos países pobres, etc.
f) Globalização: embora este processo tivera
seu início com as grandes navegações, ele intensificou-se na Nova Ordem
Mundial, já que nela existem fatores que contribuem para o seu avanço, como o
amplo avanço tecnológico, a integração espacial, o avanço nos meios de
transporte e comunicação... sendo que a formação de um mercado global está mis
próxima, embora existam processos que vem por travar seu avanço.
g) Regionalização: a formação de blocos
aparece na Nova Ordem como uma alternativa de proteger as economias dos países
mais da concorrência global e de fortalecer as economias inseridas em um bloco
econômico ou de intensificar o comércio regional. Por isso caracteriza-se como
um processo antagônico e complementar à Globalização.
h) Neoliberalismo: como a globalização
transcende os aspectos econômicos e culturais, a política também passa por
transformações, como a mudança do papel do estado, que se ausenta dos setores
econômicos e sociais, ou seja, tendo seu papel enfraquecido, com um caráter
Neoliberal no espaço mundial.
03 – A
CRISE DO SOCIALISMO SOVIÉTICO
No período existente
da bipolaridade, um dos mecanismos de dominação por parte das duas potências
foram as organizações militares (OTAN e Pacto de Varsóvia), porém para a
manutenção de tais foram aplicados grandes quantidades de capitais no setor
bélico. Nessas circunstâncias, para
agravar a crise soviética, outros fatores contribuíram; tais como:
- as atividades
industriais estavam obsoletas, o que não gerava recursos suficientes para a
população. Isso porque os investimentos soviéticos eram aplicados inicialmente
no seu arsenal nuclear;
- a atividades agrícolas também não conseguiam
produzir alimentos suficientes;
- a corrupção pelos dirigentes do Partido
Comunista que usufruíam de melhores condições de vida em oposição a maioria da
população;
- o autoritarismo do partido que excluía
qualquer liberdade de expressão contrária e etc.
3.1 – As Reformas:
A somatória desses
fatores levaram o país a uma verdadeira crise sócio-econômica que nos anos 80 o
seu novo líder Mikhail Gorbatchov lançou um amplo programa de reformas na
eminência de reestruturar o país economicamente, dando a população liberdade de
consumo numa tentativa de aliviar o quadro crítico social. Tais reformas foram:
A – Perestroika: que significa
reconstrução, fazendo referência a necessidade de reconstruir a economia
soviética sobre novas bases a partir de uma relativa abertura para o capitalismo.
soviética sobre novas bases a partir de uma relativa abertura para o capitalismo.
B -
Glasnost:
que significa transparência, onde o objetivo era expressar uma nova relação
entre o poder e a sociedade. Com isso o pluripartidarismo estava lançado no
seio da população.
Com as reformas postas
em práticas por Gorbatchov, as mudanças, tanto no interior da URSS como nos
países do Leste Europeu, começaram a acontecer de uma forma vertiginosa. Em
certos casos ocorreram ‘reformas’ (Hungria, Polônia e Tchecoslováquia, além da
reunificação alemã após a queda do muro em 1989) e ‘revoluções’ (Romênia que
acabou com a morte de seu ditador Nicolae Ceausescu). Assim no início de 1991,
foram realizadas as primeiras eleições democráticas no Leste europeu.
Com relação a união
Soviética, as tensões haviam ampliado após tais reformas provocando divergência
no interior do partido e nesse momento, data o ano de 1989 quando as “três
irmãs” (Lituânia, Letônia e Estônia) declararam-se independentes
aproveitando-se, inclusive da fragilidade das forças do Pacto de Varsóvia.
Posteriormente, em
dezembro de 1991, o grande império vermelho se desmembrava, ou seja, sofria uma
fragmentação político-territorial dando origem a Comunidade dos Estados Independentes
(CEI).
3.2 – A DESINTEGRAÇÃO
DO MUNDO SOVIÉTICO E O PAPEL DA CEI NA ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA E POLÍTICA REGIONAL
3.2.1 AS
CONTRADIÇÕES DO SOCIALISMO REAL E A CRISE DO MUNDO SOVIÉTICO
3.2.2 –
O TOTALITARISMO E A AVERSÃO DO POVO AOS REGIMES SOCIALISTAS:
Em todos os países que
seguiram o modelo soviético, houve a ascensão de uma elite dirigente denominada
de burocracia. Essa elite era formada por membros da cúpula do partido
comunista que exerciam os cargos mais importantes no governo. A burocracia
usufruía o melhor de tudo e para ser manter no poder, geralmente implantava um
regime totalitário, caracterizado: pelo monopolismo partidário (a existência de
um só partido); dogmatismo político e ausência de liberdades individuais. A
ausência de democracia criou uma aversão da sociedade aos governos comunistas,
já que a população, satisfeita em suas necessidades materiais básicas
(educação, saúde, habitação), vislumbrava maior liberdade política e econômica,
pois o socialismo “socializou os bens, mas privatizou os sonhos, enquanto o
capitalismo privatizou os bens, mas socializou os sonhos”
(LEONARDO, Boff, Cadernos do terceiro mundo, 153).
O texto a seguir
exemplifica a distância entre a sociedade e a burocracia governamental na
Polônia.
“Segundo a doutrina
oficial, vivemos num país socialista. Esta tese tem por base a identificação da
propriedade estatal dos meios de produção com propriedade social O ato de nacionalização
teria transferido a indústria, os transportes e os bancos para a sociedade
(...). Esse raciocínio parece ser marxista. Na realidade introduziu se na
teoria marxista um elemento que lhe é estranho, ou seja, a concepção formalista
e jurídica da propriedade (...). A propriedade estatal dos meios de produção
não é senão uma forma de propriedade. Pertencente aos grupos sociais a que
pertence o Estado. (...) A quem pertence o poder do nosso Estado? A um só
partido, praticamente monopolista. (...) Todas as decisões são tomadas
inicialmente pelo partido e mais tarde, pelos organismos oficiais (...).
Nenhuma decisão de importância pode ser tomada e realizada sem ter sido
sancionada pelas autoridades do partido. O partido que governa tem p monopólio
do poder. A classe operária não tem possibilidade de se organizar formando
outros partidos (...). Como qualquer aparelho ele é organizado de maneira
hierárquica. As informações circulam de baixo para cima e as decisões, as
instruções, de cima para baixo. Como em todo aparelho hierarquizado, na origem
das ordens encontram-se urna elite, um grupo de pessoas (...) que elabora as
decisões fundamentais. No nosso sistema, a elite do Partido é ao mesmo tempo a
elite governamental. (...) As decisões da elite são livres e independentes de
qualquer controle por parte da classe operária e do resto da sociedade. (...)
No nosso sistema não há capitais privados. As fábricas, as minas, as
siderurgias, e tudo o que produzem, são propriedades do Estado. Mas, visto que
o Estado se encontra nas mãos da burocracia política central, que dispõe dos
meios de produção e explora a classe operária, a totalidade desses meios de
produção transformou-se num “capital” nacional, centralizado e único. (...) A
quem vende o operário a sua força de trabalho? Aqueles que dispõem dos meios de
produção portanto a burocracia política central. A este título, a burocracia
política central é uma classe dominante: tem o poder exclusivo sobre os meios
de produção, compra a força de trabalho (...) que explora (.,) com o fim de
reforçar e alargar o seu poder sobre a produção e a sociedade.”
(KURON, Jarek & MODZELEWSKI, Natal. Carta ao Partido
Operário Polaco (acertos): Porto, editora Paisagem, 1975, p.23, 42-3) GEOGRAFIA
HOJE - A FORMAÇÃO GEOGRÁFICA DO MUNDO CONTEMPORÂNEO Carlos Walier & e Jorge
Luiz, editora ao livro técnico)
3.3 –
CENTRALIZAÇÃO ECONÔMICA E O MILITARISMO
Os regimes socialistas,
sobretudo a URSS mantiveram um crescimento econômico acelerado e concentrado
nas indústrias de base até a década de 70, porém a partir desse contexto, a
excessiva centralização do poder político e administrativo nas mãos da
burocracia retardou a tomada de decisões e acabou impedindo o desenvolvimento
das novas tecnologias que emergiam como a informática, robótica,
telecomunicações e biotecnologia. Essa situação trouxe o atraso tecnológico dos
setores de bens de consumo (alimentação, vestuário, remédios, eletrodomésticos
e automóveis) repercutindo assim na queda da qualidade e na oferta de produtos.
Esse fato explicava a existência das filas no cotidiano da ex-URSS, em função
da escassez produtiva frente ao crescimento das necessidades de consumo da
população, cada vez mais fascinada pelo modelo de vida dos países capitalistas
desenvolvidos. Ao lado disso os interesses da burocracia em potencializar o seu
poder mediante mais investimentos no setor militar, agravou a divisão do país,
pois enquanto o mundo todo considerava a URSS uma potência bélica, a economia
civil padecia de um crescente atraso tecnológico. Essa contradição é descrita
de forma bem precisa no texto abaixo:
3.4 - A BUSCA DE SOLUÇÕES PARA AS CONTRADIÇÕES DO SOCIALISMO REAL
As contradições
político-econômicas da URSS desencadearam mudanças substanciais, representadas
pela Perestroika (reestruturação econômica) e Glasnost (abertura política),
estas duas diretrizes surgiram com a ascensão de Mikail Gorbatchev ao poder em
1985. Gorbatchev diagnosticou a situação do iminente colapso do país e de sua
periferia imediata e por isso buscou no ocidente apoio político e econômico
para viabilizar tais reformas:
3.4.1 –
AS REFORMAS PROPOSTAS
A)
ABERTURA ECONÔMICA (PERESTROIKA)
• Abertura da economia ao capital estrangeiro
e aproximação com os países ocidentais, sobretudo com os EUA.
• Inversão de prioridades econômica coma
redução dos gastos militares e maior ênfase às indústrias de bens – de –
consumo e à agropecuária para atender aos anseios da população.
• privatização de empresas estatais
problemáticas.
• Redução da ajuda econômica aos países
aliados do bloco socialista, sobretudo do leste europeu.
Objetivos: modernizar a economia
da URSS visando superar o atraso tecnológico e adaptar o país à globalização
para impedir a queda do socialismo.
B) A
ABERTURA POLÍTICA (GLASNOST)
• Maior liberdade de expressão, com
tolerância às criticas contra o
funcionamento de alguns órgãos de comunicação do governo.
• Liberdade religiosa para o funcionamento de
seitas e religiões.
• Anistia política para os expurgados durante
o período stalinista.
• Autonomia para as minorias étnicas que
lutassem pelos seus direitos.
• Pluripartidarismo, quebrando o monopólio do
partido comunista.
Objetivos: conceder democracia para
conseguir o apoio do povo às reformas do governo e assim impedir a derrubada do
socialismo.
4.
PRINCIPAIS TRANSFORMAÇÕES DO MUNDO SOVIÉTICO COM O ESGOTAMENTO DO SOCIALISMO
REAL
4.1 – A
PROLIFERAÇÃO DE CONFLITOS ÉTNICOS E O FIM DA URSS
A liberdade de expressão
com a glasnost trouxe a tona rivalidades históricas entre as etnias de várias
repúblicas (ucranianos, lituanos, armênios e outros) e as minorias russas que
foram impostas nessas repúblicas durante o período ditatorial para a criação de
uma identidade nacional que nunca foi concretizada. As etnias que habitavam as
repúblicas soviéticas aproveitaram o fracasso da Perestroika e a autonomia da
glasnost para declararem a independência das 15 repúblicas sob a liderança da
Rússia, através da liderança de Boris Yeltsin. A fragmentação da URSS dava
origem a 15 novos países, apesar da separação política essas nações mantiveram
laços econômicos criando a CEI - Comunidade dos Estados Independentes que
consiste numa Confederação de repúblicas, com fortes vínculos entre si, mas que
preserva a soberania de cada uma das nações, não possui um governo central, mas
sim um conselho de Chefes de Estados (embora a Rússia exerça certa liderança
política, econômica e cultural). Tem urna moeda comum, o rublo, que circula em
todas as repúblicas. Esta união foi oficializada pelo acordo de Minsk.
Atualmente é mais que uma simples comunidade econômica, havendo livre
circulação de bens, serviços, pessoas e mercadorias. “A abertura à expressão
política para sociedade em massa deu vazão à pressão contida das identidades
nacionais - distorcidas, reprimidas e manipuladas durante o stalinismo. A busca
por fontes de identidade distintas da decadente ideologia comunista provocou o
esfacelamento da ainda frágil identidade soviética, enfraquecendo o Estado
soviético de forma decisiva. O nacionalismo, inclusive o russo, tomou-se a
expressão máxima dos conflitos entre sociedade e Estado, sendo o fator político
imediato que culminou no processo de desintegração da União Soviética.”
(Castels, 1999).

4.2 - A
TRANSIÇÃO DO MUNDO SOVIÉTICO PARA O CAPITALISMO E A INSTABILIDADE ECONÔMICA DA
CEI
A derrubada dos
regimes comunistas representou a abertura do Leste Europeu para a economia de
mercado. Os países da região, a começar pela Rússia, adotaram políticas
neoliberais de forma acelerada, com a privatização de empresas estatais,
liberação de preços e corte dos investimentos sociais. Em conseqüências de
medidas houve aumento de preços com a elevação da inflação e conseqüentemente
instabilidade financeira. O governo de alguns países como a Rússia foram
obrigados a desvalorizar suas moedas, o que agravou o quadro de desequilíbrio
culminando com a quebra da bolsa de valores do país. A instabilidade econômica
tem reduzido as perspectivas de inserção da CEI na economia global em função
dos seguintes fatores:

4.3 - A EXPANSÃO DO CRIME ORGANIZADO NOS PAÍSES DA CEI
Na nova Rússia, o
crime organizado migrou do antigo mercado negro dos tempos do comunismo para
setores da economia que não foram devidamente regulamentados. Sob a bênção de
políticos e burocratas corruptos ¾ mais de 2.500 funcionários estão sob
investigação judicial ¾, cerca de 200 organizações criminosas controlam desde o
comércio de pedras preciosas até a pescaria comercial. Nas maiores cidades, a máfia
russa controla todos os tentáculos do mercado de entretenimento, incluindo as
grandes agências de modelos. Numa outra versão da prostituição na Rússia, as
manequins só conseguem bons contratos se dormirem com o mafioso certo.”... A
transição caótica da União Soviética para a economia de mercado propiciou
condições ideais para a penetração generalizada do crime organizado nas
atividades empresariais da Rússia e das demais repúblicas. Também induziu a
proliferação de atividades criminais originárias da Rússia e da ex-União
Soviética, tais como o tráfico ilegal de armas, materiais nucleares, metais
raros, petróleo, recursos naturais e moeda. As organizações criminosas
internacionais associaram-se a centenas de redes das máfias pós-soviéticas,
muitas delas organizadas em torno de determinadas etnias (chechenos, azeris,
georgianos, etc.), para lavar dinheiro, adquirir propriedades de valor e
assumir o controle de negócios lucrativos, tanto legais quanto ilegais. Um
relatório de 1994 sobre o crime organizado, realizado pelo Centro de Análise de
Política Social e Econômica do Gabinete da Presidência da Rússia estimou que,
praticamente, todos os negócios privados de pequeno porte estavam pagando
tributo a grupos criminosos. Quanto às empresas privadas e bancos comerciais de
maior porte, constatou-se que de 70% a 80% deles também estavam pagando
proteção a grupos criminosos. Esses pagamentos representavam de 10% a 20% do
faturamento dessas firmas, montante equivalente a mais da metade de seus
lucros. Os novos ricos da Rússia passaram a comandar seus negócios em Moscou
on-line de suas mansões na Califórnia, para escapar das ameaças dirigidas a
eles próprios e a suas famílias, ao mesmo tempo mantendo seu envolvimento
diário nas transações que lhes davam a oportunidade de fazer uma fortuna praticamente
sem paralelo no mundo. Com freqüência, o cumprimento de contratos comerciais,
em um meio legal incerto, era assegurado através de intimidações e, às vezes,
por meio de assassinatos. Nem sempre o crime organizado ficava satisfeito em
subcontratar agentes que usavam de violência ou operações ilegais a troco de
determinada quantia paga a título de ‘contribuição’. Queria e, em geral,
conseguia participação no negócio, seja sob a forma de ações, seja, mais
freqüentemente, em dinheiro ou, então, favores especiais, tais como empréstimos
a taxas de juros preferenciais ou oportunidades de praticar contrabando. No
setor privado, as empresas vinham pagando ‘impostos’ às organizações criminosas
em vez de contribuir para o governo. Na realidade, a ameaça de denunciar a
sonegação fiscal praticada pelas empresas aos fiscais do governo era um dos
métodos de extorsão utilizados pelo crime organizado”.
(Fonte: A conexão perversa: a economia do crime global:
Fim de Milênio, Manuel Castells. São Paulo: Paz e Terra. 1999)
LEITURA
COMPLEMENTAR
QUEDA DO
MURO DE BERLIM
Na noite de 9 novembro
de 1989, um comunicado confuso das autoridades comunistas da Alemanha Oriental
liberava a passagem nos postos de controle da fronteira berlinense. O Muro de
Berlim, símbolo principal da Guerra Fria, era desativado, como conseqüência das
manifestações populares que desmoralizavam o governo da República Democrática
Alemã (RDA).
Uma multidão incrédula
e exultante de cidadãos da parte Ocidental da cidade atravessa livremente, pela
primeira vez, a barreira que dividia a velha capital Alemã. Em meio aos fogos e
à festa nas de Berlim, terminava o período histórico da Guerra Fria.
Esse acontecimento,
cronologicamente tão próximo de nós, já parece distante. Depois dele, a União
Soviética entrou em decomposição, originando quinze estados independentes e
inúmeros focos de tensão conflito militar. Ao mesmo tempo, a Iugoslávia deixara
de existir, sob o impacto dos choques dos nacionalismos balcânicos.
Mais recentemente, a
Tcheco-Eslováquia anunciava a separação, fragmentando-se nas suas duas
componentes históricas: as repúblicas checa e eslovaca. Desenha-se, enfim, um
novo mapa no espaço que antes era ocupado pela União Soviética e suas áreas de
influência.
A Europa foi o cenário
principal da Guerra Fria. A bipartição do continente em blocos geopolíticos e
alianças militares antagônicas – O pacto de Varsóvia e a Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN) – refletia a bipolaridade de poder mundial.
A velha ordem mundial,
a ordem da Guerra Fria, estruturava-se em trono do conflito entre os Estados
Unidos e a União Soviética. Nascida da Segunda Guerra, essa ordem apoiava-se
sobre a divisão da Alemanha, síntese da divisão Européia. A reunificação alemã
de 1990 assinalou a reorganização de toda a geometria do poder no espaço
europeu.
O novo mapa do mundo
está voltado para a discussão das transformações recentes na organização do
espaço mundial. Essa expressão designa uma realidade mais complexa que a Guerra
Fria, pois emergem novas potências, como Japão e Alemanha unificada,
característica da multipolaridade de poder planetário. Ela reflete também a
dissolução do conflito ideológico entre o capitalismo e o socialismo e a
reaparição das guerras nacionalistas na Europa e na Ásia.
A “nova ordem”
internacional não está estruturada em torno de dois pólos de poder, mas sobre
megablocos econômicos e geopolíticos. O processo tumultuado da unificação
européia, a criação do mercado comum da América do Norte (Nafta) e a consolidação
da zona econômica do Pacífico são dimensões de um novo estágio da economia
mundial, que dissolve as fronteiras nacionais.
O poder
do dinheiro - e a “guerra comercial ”que se anuncia entre os megablocos
econômicos - substitui o poder das armas
e o velho espectro da guerra nuclear. As disparidades entre a riqueza e pobreza
acentuam o abismo Norte – Sul, um novo antagonismo que substitui o velho
conflito Leste-Oeste. Contudo a pobreza se dissemina também no Norte: não só na
Europa Oriental e antiga União Soviética como nas prósperas potências européias
e nos Estados Unidos.
Bibliografia: Coleção
Polêmica, O novo mapa do Mundo, Demétrio Magnoli, Editora Moderna