UNIDADE 04 – OS CONFLITOS ÉTNICOS ATUAIS
O panorama atual marcado pelo
processo de globalização num estágio avançado, ao mesmo tempo que encanta com
suas grandes inovações, atemoriza pelo lastro do desemprego. É também dentro
desse quadro caótico social a nível mundial, que a questão do renascimento do
nacionalismo vem ganhando maiores proporções originando inúmeros conflitos cujo
objetivo corresponde ao controle de determinado território para a gestão e
exploração levando a materialização dos interesses de cada nação. O estatuo
geopolítico em vigor define a disputa entre grandes corporações empresarias
para a conquista de novos mercados expressando a hegemonia capitalista,
principalmente após a derrocada do socialismo.
“O mundo não é mais apenas, ou
principalmente, uma coleção de estados nacionais, mais ou menos periféricos,
arcaicos e modernos, agrários e industrializados, coloniais e associados,
dependentes e independentes, ocidentais e orientais, reais e imaginários. As
nações transformaram-se em espaços, territórios ou elos da sociedade global.
Esta é a nova totalidade em movimento, problemática e contraditória.”
(Nação e
globalização. Octavio Ianni)
O século XXI nasce reclamando o
respeito a diferença e a diversidade multicultural, religiosa, política; e
assim, como no Mundo do Leste, o Ocidente de consenso é tomado de assalto pelos
múltiplos movimentos de negação da ocidentalização, à uniformidade da
globalização tecno-financeira. O desemprego nos países centrais, o flagelo da
miséria absoluta que assola um terço da população mundial, o desequilíbrio
financeiro dos países capitalistas periféricos, o aumento da distância entre
ricos e pobres, o abandono premeditado do continente africano às mazelas
resultantes de anos de exploração lesiva, a questão ambiental, a retomada da
nuclearização, são fatores que agudizam os reclames e os conflitos em escala
mundial.
As regiões mundiais assumiram novas
posturas nas suas relações externas, onde cada compartimento regional passou a
apresentar característica específica de acordo com o comércio mundial. Porém,
existem ainda algumas partes do globo em que o processo de globalização as
tornou áreas inclusivas e excludentes (do ponto de vista econômico), pelo menos
por enquanto, por apresentarem baixos mercados. Destaca-se áreas onde minorias
explodem buscando autonomia política e que muitas vezes não contam com o apoio
das potências ocidentais pelo fato de não expressarem interesses monetários.
“NOVA DESORDEM MUNDIAL”
“Ao contrário do que algumas cabeças pensantes
apressadamente imaginaram, a globalização da economia, a internacionalização
das instituições políticas e a difusão de uma cultura universal pelas
diferentes mídias não eliminaram a realidade do Estado-nação, muito menos a da
diversidade cultural. Pior: o separatismo espraiou-se como um rastilho de
pólvora, trazendo à tona questões que até
Guerra Fria pareciam adormecidas, como, por exemplo, a identidade, o
direito de um grupo e o direito de um indivíduo, contraposto entre si. Se o
fantasma da destruição nuclear foi ‘amenizado’, emergiram as múltiplas guerras
civis, expressões de velhas rixas étnicas e religiosas.
A
conseqüência aterrorizadora da febre nacionalista foram os genocídios
justamente na era em que a humanidade parecia dar mais importância à
consolidação dos direitos do homem.”
(Revista Veja. Edição
05/01/00)
1.0 – O povo, o Estado e o poder
A definição de Estado contemporâneo
está ligado a uma entidade política, ou seja, pelo estabelecimento de
fronteiras territoriais definindo e demarcando um espaço geográfico onde sobre o mesmo são exercidas as formas de
controle através das leis e que são aplicadas por instituições políticas
formais que configuram o sistema de poder político. Todos os artifícios
elaborados pelo Estado são utilizados para o controle e exercício do poder
sobre o território e, portanto, sobre a população, porém defende os interesses
das camadas ou classes que controlam o mesmo.
O
conceito marxista do Estado como instrumento de classe é válido no sentido de
duas categorias opostas, os dominadores e os dominados, mas não tem significado
universal, absoluto, porque as diferenças regionais indicam níveis distintos de
autonomia e de submissão de cada Estado em particular.
A
questão da Nação esta vinculada a povos que viveram histórias comuns e
apresentam laços culturais semelhantes, onde nessa população foi produzido um
sentimento de identidade nacional. Tal sentimento de identidade nacional
consiste na consciência coletiva de um passado histórico e na crença
compartilhada de um destino e um futuro também comuns.
“A nação é uma criação simultaneamente
geográfica, econômica, demográfica, cultural, social e política, com todas as
características de um processo histórico. Forma-se e transforma-se segundo o
jogo das forças sociais internas e externas, modificando-se de tempos, ou
continuamente. Simbolizada no Estado-nação, em geral adquire a fisionomia desta
ou daquela classe dominante, deste ou daquele bloco de poder. São muitos os que
entram na formação e transformação das configurações da sociedade nacional, do
Estado-nação, em diferentes épocas, sob distintos regimes políticos, conforme o
bloco de poder que se encontre no mundo ou comando.”
1.1 - As fronteiras políticas: materialização dos
interesses sociais
O conceito de fronteira pode ser
usado para definir o limite de ocorrência de um fenômeno natural ou um outro
fator, desde que tenha por base determinada referência.
As fronteiras políticas não derivam
da natureza. Mesmo quando coincidem com o curso de um rio ou acompanham os
cumes de uma cadeia montanhosa as fronteiras são sempre construções humanas,
pois esses marcos naturais foram escolhidos entre tantos outros possíveis para
delimitar espaços geográficos especiais, que na linguagem cotidiana chamamos de
países. Também as fronteiras políticas delimitam fenômenos dinâmicos. Guerras,
tratados, secessões e anexações estão continuamente alterando o traçado das
fronteiras políticas internacionais. O planisfério político, a mais comum das
representações cartográficas, está em constante mutação.
Estado é uma palavra
mais precisa que país para denominar os espaços geográficos unificados por leis
próprias e submetidos a um poder político central. Os Estados contemporâneos
caracterizam-se pela existência de um corpo burocrático composto de
funcionários profissionais espalhados por todo o território e de um aparato
militar formado por homens armados e organizados sob um único comando. As
capitais revelam a existência de um poder político que organiza a aplicação das
leis e pune os infratores. A sede do poder político é a capital que tem a
função de abrigar os órgãos de produção e execução das leis e de fiscalização
do modo como estas são aplicadas.
As fronteiras definem a extensão
geográfica da soberania do Estado. No interior do espaço que delimitam, ou
seja, no território nacional, o poder do Estado é soberano. E ele que
estabelece as divisões internas (como os estados brasileiros ou os
departamentos franceses), realiza os censos, organiza as informações sobre a
população e as atividades econômicas, e formula estratégias de desenvolvimento
ou de proteção desse território.
1.2 - A
invenção do Estado moderno
A noção de fronteira política foi
inventada pelo Império Romano. O limes — uma linha demarcatória dos limites do
império — separava os romanos dos “bárbaros”. As célebres legiões romanas
protegiam o império, guarnecendo o limes. Estar no interior do espaço demarcado
por ele era fazer parte da civilização romana. Estar no exterior desse espaço
eqüivalia a ser bárbaro. O termo bárbaro, que englobava num único conjunto uma
infinidade de povos, correspondia a urna condenação histórica. Em Roma,
fronteira política tornou-se sinônimo de separação entre Nós e os Outros.
Entretanto, a noção contemporânea de fronteira política internacional,
separando Estados soberanos, teve sua origem muito mais tarde, na Europa
pós-medieval, quando se edificaram os Estados territoriais. Durante a Idade
Média, o poder político não estava unificado geograficamente, mas encontrava-se
fragmentado num mosaico de principados, condados, ducados e domínios
eclesiásticos, cada um com suas leis e regras. Os reis não podiam aplicar
impostos sem antes obter a concordância das aristocracias regionais. Cada uma
das grandes linhagens aristocráticas possuía seu próprio exército. O poder
político nessa época não era territorial, mas pessoal. No auge do feudalismo
europeu, quando os costumes germânicos obscureceram o direito romano, as leis
escritas foram substituídas pelas tradições locais, interpretadas pelo senhor
de terras.
1.3 - As
fronteiras coloniais
O Estado contemporâneo foi uma
criação da civilização européia. As fronteiras políticas que definem o
território dos Estados foram exportadas pelos europeus para o mundo todo,
através da colonização.
Nos séculos XVI e XVII, a colonização
do Novo Mundo pelas potências mercantis européias criou os fundamentos para a
posterior definição das fronteiras nacionais na América. Nos séculos XIX e XX,
o neocolonialismo europeu — deflagrado pela Revolução Industrial — traçou
fronteiras políticas na Ásia e na África. As potências industriais funcionaram
como cartógrafos do mundo contemporâneo, criando fronteiras políticas onde
existiam apenas espaços culturais, étnicos ou civilizatórios.
De 1876 a 1915, aproximadamente
um quarto da superfície do planeta foi distribuído entre um pequeno grupo de
potências industriais. A parte de cada uma delas na dominação dos territórios e
mercados do mundo foi determinada por sua força naval, militar e econômica.
Assim, o Reino Unido ficou com o melhor quinhão, seguido por França, Estados
Unidos, Bélgica e Holanda. A Itália e a Alemanha, recém-unificadas, ganharam
apenas algumas migalhas. Portugal e Espanha, os maiores impérios coloniais
pré-industriais, mantiveram algumas de suas antigas possessões, pois as novas
potências não conseguiram chegar a um acordo sobre a melhor forma de dividi-las
entre si.
1.4 - Além
do Estado: as fronteiras estratégicas
A soberania do Estado está
circunscrita ao território delimitado pelas fronteiras nacionais. No pIano
internacional, não existe um poder geral, um "governo mundial”, capaz de
submeter os Estados a suas leis e regras. O sistema internacional de Estados é
formado por unidades geopolíticas soberanas que cooperam ou conflitam de acordo
com o que definem ser seus interesses particulares. Cada um dos Estados, em
tese, desconfia de todos os demais e experimenta permanente sensação de
insegurança, justamente pela ausência de um poder geral.
Um dos meios de redução da
insegurança é a ampliação do próprio poder, concebido em termos econômicos,
territoriais, demográficos, estratégicos, militares ou culturais. Por isso os
Estados protegem da concorrência externa setores da economia considerados
vitais, financiam a pesquisa e produção de arsenais de armas modernas, difundem
por meios oficiais sua língua e seus valores.
1.5 – A Ilusão das
Ideologias
“Uma ideologia é constituída por um conjunto de
idéias, formando um sistema fechado, no qual os adeptos acreditam encontrar
todas as verdades e certezas. Existem tantas ideologias quantos são os grupos
sociais, institucionalizados ou não.”
A principal característica de toda
ideologia é considerar que só as suas verdades são certas e são boas, negando
validade a quaisquer outras. Assim como existe a própria ideologia do Estado,
existem outras que se lhe opõem. Dessa forma, o Estado atende os interesses das
classes que o dominam. Assim:
- Os aparelhos ideológicos do Estado - Os meios de comunicações.
“Os meios de comunicação de massa não tem
independência bastante para escapar à função de reproduzir para o público a
ideologia oficial do estado. Todos os segmentos sociais, econômicos, políticos
interessados na continuidade do sistema desorganização existente utilizam os meios
de comunicação de massa fazendo um coro de pregação das idéias úteis a esse
propósito, sejam elas verdadeiras ou não.”
Portanto, a mídia, como um todo,
desenvolve grande influência sobre a população verificadas nos aspectos
político-culturais, onde na base de tal polarização existe a defesa dos
interesses ideológicos impulsionados pelas forças externas e internas. Tal
forma de influenciar sobre a população, entre as várias facetas, destaca-se o
poder de alienação através de programas que deixa a população despolitizada
suficiente para não atrapalhar os interesses das classes que tem o controle
estatal ou parceria com o mesmo.
2.0 – A GEOPOLÍTICA QUE ENVOLVE A
DEFINIÇÃO DAS FRONTEIRAS POLÍTICAS
Ao longo da extensão mundial existem inúmeras
identidades nacionais o que revela, portanto, diferenciados aspectos políticos,
econômicos, sociais e culturais. Isso reflete na abordagem de várias
ideologias, portanto nas diferentes defesas de interesses, de acordo com os
agrupamentos sociais, e as paisagens criadas corresponde a materialização dos
objetivos.
2.1 - Os principais conflitos
As áreas de ocorrência dos conflitos
são várias, no entanto a fim de tornar mais acessível a compreensão, vejamos
alguns dos principais conflitos e suas respectivas áreas.
Ø QUEBEC
– CANADÁ
Parte
considerável da população da província de Quebec (segunda maior do Canadá),
onde predomina a cultura de origem francesa, quer sua separação do restante do
país, sua independência para formar seu próprio país. Porém, mais do que uma
questão nacionalista/cultural-religiosa, vale lembrar que se trata de uma
região rica em recursos naturais como rios e lagos, além de inúmeras florestas;
em atividades industriais, além de ser a maior fornecedora de energia elétrica.
Montreal é a principal cidade. Em um dos últimos plebiscito realizado com essa
finalidade, em 1995, os separatistas quase atingiram seu
objetivo. Entretanto, essa aparente tranqüilidade de plebiscito não é
linear, pois vale lembrar que durante a década de 1960, ocorreram algumas ações
terroristas, como seqüestros de políticos canadenses, por exemplo, realizados
por grupos radicais separatistas do Quebec.
NOTA (PP):
Atualmente o movimento enfraqueceu, pois como o poder aquisitivo da população é
alto, muitos preferem manter-se vinculados ao Canadá para não ameaçar a
qualidade de vida que está entre as maiores do planeta.
Ø
CHIAPAS – MÉXICO
O Exército Zapatista de Libertação Nacional - EZLN - luta
contra a política neoliberal do governo mexicano, que exclui e marginaliza a
população pobre. O EZLN controla parte do sul do país desde 1994, no mesmo dia
da assinatura do Tratado de Livre Comércio (NAFTA) com os Estados Unidos, que
incorporou finalmente o México no universo neoliberal. Porém, o governo
mexicano insiste em integrá-la ao México Neoliberal sem qualquer diálogo e sem
resolver os graves problemas sócio-econômicos da região. Há vários conflitos na
região envolvendo governo, grupos paramilitares e o Exército Zapatista de
Libertação Nacional (EZLN). Os grupos paramilitares atuam em Chiapas para
pressionar o EZLN a se entregar e desistir de seus objetivos. Os guerrilheiros
do EZLN vivem escondidos nas montanhas com muitos índios aterrorizados, cerca
de 8 mil, que buscam proteção e negociam a paz com o governo mexicano. Para
pressionar o EZLN a se entregar, o governo mantém o Exército perto das cidades
autônomas impedindo a ajuda de bases de apoio aos zapatistas.
O governo parece não querer compreender que o indígena
zapatista prefere morrer lutando, ainda que com um pedaço de madeira nas mãos
do que deixar de ser índio e a condição fundamental para ser índio é dispor de
terra para cultivar. O que desejam os indígenas de Chiapas? Simplesmente,
Justiça, Liberdade e Democracia. Na verdade são povos que desejam autonomia e
direitos constitucionais que lhe assegurem a propriedade coletiva das terras
indígenas e a manutenção de seus laços culturais. Não desejam a guerra.
Ø
OS CONFLITOS NA COLÔMBIA
No início do
século XXI a Colômbia atravessa sua pior crise institucional. Desde meados da
década de 1970, o esfacelamento da pequena produção rural, sem condições de
competir com as grandes fazendas comerciais, estimulou o plantio de coca.
Ocorre que a remuneração oferecida pelos narcotraficantes é infinitamente
superior aos ganhos obtidos com as plantações de gêneros alimentícios e as
matérias-primas.
O poder dos
cartéis do tráfico (Cali e Medellín) tem crescido em escala vertiginosa,
envolvendo grande parcela da sociedade colombiana. Nesse mesmo ritmo, milhares
de colombianos vão sendo marginalizados pelo agravamento da situação econômica.
Atuam no país
alguns grupos revolucionários de linha socialista que aglutinam jovens
excluídos e pregam a luta armada como forma de alteração profunda da sociedade.
Originalmente, eles se inspiraram na vitoriosa guerrilha cubana comandada por
Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. Após décadas de luta, muitos grupos perderam
seus propósitos iniciais.
Entre os
grupos mais conhecidos destacam-se as Forças Revolucionárias da Colômbia –
FARC. Seus guerrilheiros controlam uma porção do território a leste e são
acusados pelas autoridades colombianas de terem forte ligação com o
narcotráfico. Outros grupos merecem ser citados, como é o caso do Exército de
Libertação Nacional – ELN e a Autodefesa Unida da Colômbia – AUC.
A atual
violência na Colômbia preocupa inclusive o governo brasileiro, uma vez que a
área de atuação das guerrilhas – e dos combatentes – está próxima da fronteira
brasileira, na região amazônica.
Nesse sentido
o governo brasileiro vem estruturando projetos que visam também conter esses
riscos ao território nacional. O projeto SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia)
tem capacidade de monitorar essa região, observar e tentar prevenir a passagem
de aviões do narcotráfico ou detectar desmatamentos feitos por guerrilheiros.
Além disso, a Policia Federal lançou o plano Cobra, com o intuito de vigiar os mais de 1.600 Km de fronteira com
a Colômbia.
Recentemente,
por iniciativa dos EUA, foi implantado o Plano
Colômbia, prevendo que os norte-americanos treinem o exército colombiano na
luta contra o narcotráfico e as guerrilhas de esquerda. Além disso, os EUA vão
emprestar cerca de US$ 1,5 bilhão para reativar a economia das áreas atingidas.
Ø ESPANHA:
UM PAÍS BASCO
A questão
basca, ou questão dos bascos, é um conflito territorial e étnico
surgido no final do século XV e início do XVI com a unificação da Espanha em um
só reino e a anexação da porção sul da região à Espanha e da porção norte da
região à França. A principal característica da questão basca é que os bascos
lutam para manter sua identidade como povo, sua língua, cultura e modo de vida.
Ao invés de serem incorporados e suplantados por outra cultura, como a maioria
dos povos que habitaram a Península Ibérica e a Europa.
Em 1959, foi
fundada a organização ETA (Euskadi Ta
Azkatasuna - Pátria Basca e Liberdade), que luta pela autodeterminação do País
Basco e de Navarra, por meio de ações armadas, nas quais os principais alvos
são membros da guarda civil e do governo espanhóis, além de atentados terroristas
contra civis espanhóis (explosão de carros bombas, o atentado em Madrí...). Nos
últimos anos, uma série de concessões foi feita pelo governo espanhol para
tentar atender parcialmente às reivindicações sem comprometer a unidade
territorial. Parte substancial da população basca é favorável a uma negociação
e contrária aos atos armados. Mesmo assim, durante anos a ETA não aceitou
nenhuma negociação, a não ser aquela que resulte na formação de um País Basco
(Euskal Herria) autônomo.
Em março de 2006, o ETA declarou que cessaria
definitivamente as suas ações armadas. O objetivo da organização é abrir
diálogo com o governo espanhol para estabelecimento de um estatuto político
especial (ou até mesmo a independência) para as Províncias Bascas, além de obter
redução de penas e anistia para os presos políticos, porém a trégua durou
apenas 14 meses.
Atualmente o
Partido Nacionalista Basco (PNV) tenta um acordo com o governo espanhol para a
realização até o final de 2008, em caráter consultivo e, até 2010 de forma
definitiva, de dois plebiscitos onde o povo basco decidirá sobre o tipo de
governo a ser adotado e sobre a relação política entre o País Basco e a
Espanha. No entanto, o primeiro – ministro espanhol, José Luis Zapatero,
rejeita o plano Ibarretxe, como é chamado o plano lançado pelo PNV. Até lá as
expectativas apontam que o ETA deverá decretar mais um cessar fogo como próximo
ao plebiscito como manifestação de apoio ao PNV.
Ø
IRLANDA DO NORTE: A UM PASSO DA
PAZ
Ali
existe um confronto religioso entre
católicos e protestantes. O problema começa nos séculos XVI e XVII quando
os ingleses tomam as terras dos irlandeses. No mesmo período, protestantes saídos da Escócia
instalam-se no norte da Irlanda, uma região chamada de Ulster. A região é então anexada ao Reino Unido, em 1801.
No
início do século XX, intensifica-se a luta pela independência da região com a
criação do movimento político Sinn Fein.
Alguns anos depois, após a criação de um parlamento independente, é fundado o Exército Republicano Irlandês (IRA),
que encadeia uma insurreição pela independência. Em 1922, é criado o Estado
Livre da Irlanda (EIRE), formado pelos condados sulistas de maioria católica. O
norte, de maioria protestante, continua ligado ao Reino Unido. Em 1949 a Irlanda proclama a
República, mas a unificação da ilha passa a ser causa nacional.
A
partir dos anos de 1960, o conflito no Ulster
fica mais sério. Representantes da minoria católica no Ulster reclamam por
direitos civis e reforçam a atividade do IRA.
Tem início uma guerra civil com atentados terroristas de ambos os lados. O
governo britânico chega a intervir e cassa a autonomia do Ulster.
Esta situação fez com que na década de 1970, eclodisse um
movimento urbano de protesto, que foi reprimido violentamente, com vários
mortos, no Domingo Sangrento (o Bloody
Sunday).
O IRA, Exército Republicano Irlandês, braço armado do
Partido Sinn Fein, passou a empregar atentados, ações armadas e guerrilha
urbana. O governo central inglês ocupou militarmente a província, face à
intensificação do conflito inter-comunitário. Os protestantes, por sua vez,
também criaram milícias armadas e grupos terroristas. A violência se estendeu
por quase três décadas, atingindo inclusive o território inglês, Londres em
particular.
Em
1993, Reino Unido e Irlanda concordam que um plebiscito no Ulster deveria
decidir o destino da região: continuar vinculada ao Reino Unido ou se integrar
à Irlanda. No ano seguinte têm início as negociações de paz. Em 1998, o acordo
é assinado. Entretanto, o impasse continuou, pois os protestantes se recusavam
a formar um governo com o Sinn Fein, enquanto o IRA não depusesse as armas.
Em
Julho de 2005, o IRA anunciou o fim da luta armada contra o domínio britânico
na Irlanda do Norte (Ulster). O anúncio da deposição
das armas não significa que o IRA tenha abandonado seus ideais. O Exército
Republicano Irlandês afirmou que continuará com a luta em prol da reunificação
da Irlanda do Norte (controlada pelos ingleses, mas desde 1998 com a autonomia
recuperada) com a República da Irlanda. Porém, a estratégia agora será diferente:
o IRA pretende fazer uso apenas das vias políticas e democráticas para atingir
seus objetivos, deixando de lado as táticas de guerrilha que já provocaram a
morte de 3,5 mil pessoas nas três últimas décadas.
Ø O CONFLITO NOS BÁLCÃS
A
origem desses conflitos remonta à 1ª Guerra Mundial, pois com o fim desta, a
Sérvia aumentou o seu território e teve o seu nome trocado para Iugoslávia.
Foram anexados os territórios da Bósnia-Hezergoniva, da Croácia, da Eslovênia,
da Macedônia, de Montenegro e mais a Sérvia (que agregava dois territórios
autônomos Kosovo e Voivodjna). Com diversas religiões (cristãos, cristãos
ortodoxos, mulçumanos), costumes e línguas, a região dos Bálcãs sempre foi de
certa instabilidade.
Depois
da 2ª Guerra Mundial, a região organizou-se na forma de uma federação liderada
pelo General Josip Broz Tito, que
havia comandado a luta contra os invasores alemães. O poder central foi
exercido em um partido de regime único, por meio do qual procuraria se diluir
as diferenças étnicas e religiosas.
Durante
os 35 anos (1945 – 1980) de governo de Tito, os problemas econômicos
permaneceram encobertos, e os nacionalismos foram reprimidos. Com a morte de
Tito, em 1980, a
federação que ele construíra começou a ruir. Em 1988, assumiu o poder o sérvio
Slobodan Milosevic, com posições
ultranacionalistas.
Os
sérvios desencadearam uma política de repressão às outras nacionalidades,
culminando com diversos conflitos. Em 1991, a Croácia e a Eslovênia declararam sua
independência por meio de plebiscitos. Milosevic tentou reprimir esses
movimentos de libertação, mas tanto a Croácia quanto a Eslovênia abrigavam
poucas comunidades sérvias.
Em
seguida, a Bósnia-Herzegovina também adotou essa resolução, mas cerca de 35% de
sua população, origem sérvia, negou-se a aceitar um governo mulçumano. A Sérvia
não se envolveu oficialmente no conflito, mas apoiou os sérvios da Bósnia, que
iniciaram uma sangrenta “limpeza étnica”, tentando expulsar os mulçumanos de
suas terras. O conflito somente foi contido com a intervenção internacional e
posterior criação de uma federação multiétnica na Bósnia.
Os
europeus e os norte-americanos temiam que os sérvios iniciassem hostilidades
com outros povos da região, ampliando as tensões nos limites da rica União
Européia. Isso efetivamente aconteceu, e a situação ficou ainda mais grave com
o inicio dos conflitos em Kosovo – entre 1996 e 1999, província autônoma da
Iugoslávia, habitada por albaneses de religião mulçumana. Os sérvios iniciaram
uma campanha de perseguições aos Kosovares, que responderam com uma luta armada
liderada pelo ELK (Exército de
Libertação de Kosovo).
As
tropas da ONU intervieram, mas foi preciso, que posteriormente, a aviação da
OTAN atacasse a Sérvia para obrigá-la a pôr fim às atrocidades. Os bombardeios
desestabilizaram o governo sérvio, que foi derrubado. O líder sérvio Milosevic
foi preso e entregue ao tribunal de Haia, na Holanda, acusado de gravíssimas
violações dos direitos humanos, como patrocinar massacres durante o conflito.
Desde
então, a região dos Bálcãs vem passando por uma relativa paz interna, mas ainda
sim tanto a Bósnia quanto Kosovo, necessitam de monitoramento e proteção
internacional.
No
início de 2003, a
Iugoslávia passou a se chamar União da Sérvia e Montenegro. Porém, no dia 3 de
Junho de 2006, Montenegro declarou independência junto à Sérvia e no dia 5 de
Junho a Sérvia declarou independência, pondo fim ao ex-Estado europeu da Sérvia
e Montenegro.
Mais
recentemente - Fevereiro de 2008, o Kosovo também declarou sua independência,
ato não reconhecido pelo governo da Sérvia (nem pela Rússia, aliada histórica
dos sérvios), que ameaça cortar relações diplomáticas com os países que venham
reconhecer a independência dos kosovares.
Ø O
BARRIL DE PÓLVORA CAUCASIANO
A região do Cáucaso é uma área montanhosa que apresenta
grande complexidade étnica, nacional, religiosa e lingüística. A região em
questão se estende por uma área composta por conjuntos montanhosos (alguns
chegando a mais de 5.000
metros de altitude), planaltos e vales fluviais situada
entre os mares Negro e Cáspio.
Quanto aos Estados localizados na região temos o seguinte
desenho político: em sua porção sul, área que os russos chamam de Transcaucásia, está o Cáucaso
não-russo. Ali se localizam as repúblicas da Geórgia, da Armênia e do
Azerbaijão que, até 1991, eram parte integrante da antiga União Soviética. Com
a desintegração da URSS, estas três repúblicas tornaram-se países independentes
e hoje fazem parte da CEI (Comunidade de Estados Independentes). Na porção
norte do Cáucaso, denominada de Ciscaucásia,
encontram-se 8 repúblicas e regiões autônomas que fazem parte da Federação
Russa. Dentre elas estão as repúblicas da Chechênia e da Ossétia do Norte,
abrigando cerca de 25 milhões de pessoas.
O Cáucaso se constitui numa zona de contato e confronto
de duas "civilizações": de um lado a eslavo - ortodoxa, representada
por populações de origem russa ou "russificadas" (como os ossétios) e
a islâmica, de influência turca ou iraniana, composta por mais de vinte povos,
dentre os quais se destacam os chechenos. Grande parte do traçado das
fronteiras existentes na região do Cáucaso é arbitrário e artificial e foi em
grande parte estabelecido entre 1922 e 1936 pelo ditador soviético Josef Stalin. Nos últimos anos, conflitos e
tensões geopolíticas vêm se verificando com freqüência tanto na Transcaucásia,
como na Ciscaucásia.
Na primeira, ocorreu o conflito entre a Armênia e
Azerbaijão, por conta da disputa do território de Nagorno Karabakh, região do
pertencente ao Azerbaijão, mas habitado majoritariamente por armênios. Na
Geórgia, os conflitos e tensões têm sido internos, onde duas regiões, a da
Abkházia e da Ossétia do Sul, buscam o caminho do separatismo.
Na Ciscaucásia, a principal questão envolve o conflito
entre a Rússia e a Chechênia. A configuração do relevo desempenha um importante
papel na separação das áreas que compõem o conjunto montanhoso do Cáucaso.
Assim, tanto nas áreas mais elevadas como nos planaltos, os vales definem
pequenas unidades territoriais onde, ao longo da história, diferentes grupos se
estabeleceram. Esse espaço extremamente fragmentado física e politicamente é
local de enfrentamentos entre comunidades diferentes, algumas delas possuindo
rivalidades muito antigas.
No Cáucaso além dos conflitos, se superpõem inquietações
permanentes a respeito do controle dos vales, das águas, das vias de
comunicação e também de oleodutos
que atravessam a área, a qual apresenta importantes jazidas do petróleo, especialmente no Azerbaijão, junto ao mar
Cáspio.
Esse país, por conta de sua riqueza petrolífera, poderá a
vir se tornar um "novo Kuait", não tem acesso a mares abertos. Assim,
o petróleo extraído na região de Baku, junto ao Mar Cáspio (um mar fechado),
tem que ser escoado através de oleodutos para mares "abertos" mais
próximos como o Negro e o Mediterrâneo. Até 1991, o problema do escoamento
praticamente não se colocava, pois o petróleo era produzido no Azerbaijão,
então uma das repúblicas da URSS, os oleodutos e os portos que escoavam o
produto estavam em território soviético. Dado
importante: um dos mais antigos e importantes oleodutos, construído ainda
na época da URSS, cruza o território da Chechênia.
Com a desintegração da URSS, o Azerbaijão ficou
independente e passou a ser dono de seu petróleo. Próximos ao Azerbaijão estão
duas ex-repúblicas da antiga Ásia Central soviética (Cazaquistão e
Turcomenistão) que apresentam expressivas reservas de petróleo e gás natural e
são também países que não têm acesso direto ao mar.
Na última década, as regiões da antiga Ásia Central
soviética e do Cáucaso vêm assistindo uma acirrada disputa pela construção e
traçado de novos oleodutos e gasodutos que envolvem três protagonistas: os
Estados produtores, os países desejosos em "ceder" seus territórios e
portos para o escoamento dos hidrocarbonetos e, é claro, as grandes
transnacionais do petróleo.
Resumindo: por conta de sua importância geoestratégica e
geoeconômica é que, tanto o antigo Império Russo, a ex-URSS e a Rússia atual
sempre tentaram impor seus interesses na turbulenta região do Cáucaso.
Ø
OS
CONFLITOS AFRICANOS
Esses conflitos, classificados genericamente de étnicos e
que eclodem periodicamente em países da África Subsaariana, principalmente, têm
como tônica o envolvimento de povos vizinhos, cujas características são mais ou
menos parecidas, isto é, disputa pelo controle do território e conseqüentemente
dos recursos naturais. Alguns desses conflitos são esporádicos e duram alguns
dias ou semanas, como tem acontecido na Nigéria.
Outros, no entanto, como na África Centro-Oriental
(Planalto dos Grandes Lagos), no Sudão (região de Darfur), na Somália, no Congo, mas também na África Ocidental
(Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim), são bem mais graves e persistentes
podendo durar vários anos e têm sido responsáveis por milhões de vítimas. Na
maior parte dos casos, os conflitos são internos, entre populações mais ou
menos próximas, muitas vezes misturadas, como é o caso de tutsis e hutus em
Ruanda, Burundi e Uganda.
Todavia, têm sido cada vez mais comum que esses conflitos
acabem envolvendo países vizinhos, como o que ocorreu recentemente na República
Democrática do Congo (ex-Zaire) onde forças armadas de Ruanda, Uganda, Zimbábue
e Angola não só tomaram partido das facções congolesas em luta, como acabaram
se enfrentando em pleno território congolês.
A novidade dos conflitos recentes é que eles não são mais
explicados apenas por razões geopolíticas de grande envergadura (tipo
capitalismo x socialismo), como acontecia no tempo da Guerra Fria. Observe o
mapa abaixo, com a localização dos principais conflitos no continente africano.
Por outro lado, a ação de grupos fundamentalistas
islâmicos, fenômeno que pode ser considerado de grande envergadura no início do
século XXI, têm importância pequena ou quase nula no contexto geopolítico do centro-sul do continente. Vale
ressaltar que na região da bacia do Congo e do Planalto dos Grandes Lagos, o
número de muçulmanos é bem pouco expressivo e é justamente nessas regiões que
os conflitos têm sido mais mortíferos e duradouros.
Não se pode também entender os conflitos da África
Subsaariana sem se levar em conta a extrema diversidade étnica e lingüística da
região e, sobretudo, não se deve esquecer que nessa parte do mundo o tráfico
negreiro durou cerca de três séculos. Esse evento histórico deixou marcas
profundas no relacionamento entre grupos "capturados" e
"captores" que o tempo não tem conseguido apagar.
A multiplicação dos conflitos pode ser explicada também
pelo crescimento demográfico dos diferentes grupos étnicos e pela necessidade
de cada um deles em estender suas terras cultivadas para compensar os efeitos
da degradação dos solos. A exacerbação dos conflitos entre hutus e tutsis em
Ruanda resultou, parcialmente, da luta por terra férteis num pequeno país cuja
densidade demográfica é de aproximadamente 300 hab/km².
Os recentes conflitos africanos ensejaram o surgimento ou
realçaram a ação de novos e antigos personagens. Se durante a Guerra Fria as
figuras mais importantes dos conflitos eram militares ou homens públicos, hoje
seus papéis são, de maneira geral, secundários.
Três personagens emblemáticos nos conflitos atuais
merecem destaque: o senhor da guerra, a
criança-soldado e o refugiado.
O senhor da
guerra normalmente não pertence ao grupo
que está no poder, mas é muito poderoso. Ele é ao mesmo tempo um combatente, um
aproveitador sem escrúpulos e um traficante. Combatente, pois é líder de grupos
armados. Suas vitórias lhe dão prestígio e seu interesse é prolongar o conflito
pelo maior tempo possível. Ele é também inescrupuloso porque se vale
compulsoriamente dos recursos da população civil e, eventualmente, interfere ou
impede a ação de organismos internacionais de ajuda humanitária.
Como traficante, o senhor da guerra participa dos
circuitos ilegais de comércio, facilitando o tráfico de drogas, armas e outros
produtos como pedras preciosas. Para esse personagem as atividades militares e
criminais estão intimamente ligadas. Um dos mais importantes senhores da guerra
na África foi o líder da UNITA, Jonas Savimbi, que durante quase três décadas
dominou amplas áreas de Angola, até ser morto em combate em 2002.
Outro personagem dos conflitos atuais é a criança-soldado. Muitas vezes ela tem
menos de dez anos e, embora não existam dados confiáveis a respeito,
acredita-se que na África existiam pelo menos 200 mil delas. Seu
"alistamento" quase sempre acontece de forma brutal. Após ter sido
testemunha de atrocidades cometidas contra seus parentes, ela acaba sendo
levada, "criada" e treinada pelos algozes de sua família.
O desenvolvimento de armas cada vez mais leves pela
indústria bélica tem facilitado a ação dessas crianças que, com certa
freqüência, encaram os combates como se estivessem participando de uma
brincadeira de "guerra".
Já o refugiado não tem sexo ou idade; pode ser um homem, uma mulher,
uma criança ou um idoso, que foram obrigados a deixar o local onde viviam para
escapar da guerra e de seu cortejo de horrores. Seu número aumentou
consideravelmente nas últimas duas décadas. Uma parcela significativa deles é
composta por refugiados internos, isto é, pessoas que saíram ou foram expulsas
de seu local de origem, mas não atravessaram fronteiras internacionais.
Cerca de 30% dos refugiados do mundo atual encontram-se
em solo africano, principalmente em duas áreas. Uma na África Ocidental, por
conta dos conflitos em
Serra Leoa , Libéria e Costa do Marfim e outra na porção
Centro-Oriental do continente, num amplo arco norte-sul que se estende do
Sudão, passa pela região do "chifre" africano e envolve a região dos
Grandes Lagos.
ü
PRINCIPAIS CONFLITOS INTERNOS
·
Nigéria: O conflito entre cristãos ao sul
e muçulmanos ao norte faz parte do cotidiano da Nigéria. A Nigéria é o
principal exportador de petróleo da África, mas a esmagadora maioria da
população, de 112 milhões de pessoas, vive na pobreza. As péssimas condições de
vida são responsáveis por boa parte das tensões religiosas do país, composto de
cerca de 250 grupos étnicos;
·
Ruanda
e Burundi: Conflitos entre Ruanda e Burundi, na região dos Grandes Lagos
Africanos, já deixaram mais de 1 (um) milhão de mortos, em consequência da
antiga rivalidade entre as etnias tutsi e hutu;
·
Somália: A Somália não tem um governo
efetivo, não há nenhum serviço público e nenhuma força de segurança. Esta
situação se prolonga desde 1991 quando os "senhores da guerra"
derrubaram o ditador Mohamed Siad Barre, provocando o colapso do Estado e a
guerra civil. O conflito ocorre entre grupos insurgentes islâmicos acusados de
ter ligação com a Al Qaeda e forças do governo apoiadas por tropas etíopes, que
tentam manter o controle sobre a capital Mogadício.
·
O Massacre de Darfur (Sudão): Darfur é
uma região maior que a França localizada a oeste do Sudão, o maior país da
África, espalha-se pelo Deserto do Saara, savanas e florestas tropicais. O
conflito na região confunde até experientes diplomatas, mas o fato é que desde
2003 dois milhões de pessoas já abandonaram a região e 250 mil desde agosto de
2006, desestabilizando países vizinhos como o Chade. Em quatro anos este
conflito já teria causado a morte de 400 mil pessoas. Na raiz desse
"conflito étnico" estão uma disputa por petróleo entre povos nativos
não-árabes (SLA – exército de libertação sudanesa) e povos árabes (milícia janjawid)
- estes últimos apoiados pelo governo sudanês. Além disso, é notória a omissão
calculada de países como, EUA, China e França, não por acaso, o Sudão é o
segundo parceiro comercial da China no continente africano e Pequim compra 65%
do petróleo sudanês. São chineses os fuzis que matam em Darfur.
·
Congo:
A República Democrática do Congo (ex-Zaire) é palco de conflitos por conta de
rivalidades étnicas e também pela briga por recursos naturais. Os confrontos no
país africano têm raízes em um genocídio em Ruanda, ocorrido em 1994. O
confronto, iniciado em 1998, ficou conhecido como a "Guerra Mundial da
África". De lá pra cá, mais de 4 milhões de pessoas perderam suas vidas e
outras milhares refugiam-se nos países vizinhos. Uma investigação realizada pela
ONU em 2001 sobre a exploração ilegal dos recursos naturais do Congo descobriu
que o conflito no país virou, em grande parte, uma guerra para obter "o
acesso, o controle e o comércio" dos cinco principais recursos minerais
encontrados no Congo: diamantes, cobre, cobalto, ouro e nióbio.
·
Angola: Após a Angola conquistar a independência de Portugal em
1974, três partidos lutaram para ter o poder do país: o MPLA (Movimento Popular
para a Libertação de Angola), a UNITA (União Nacional para a Independência Total
de Angola) e a FNLA (Frente Nacional para a Libertação de Angola), que acabou
se unindo à UNITA. Hoje, o MPLA é o governo reconhecido internacionalmente, com
o presidente José Eduardo dos Santos, e domina a capital, Luanda, e a produção
de petróleo. A UNITA, por sua vez, domina a maior parte do país e a produção de
diamantes. No dia 31 de março de 1991, a MPLA e a UNITA assinaram um acordo de
paz que previa eleições livres, supervisionadas pela ONU (Organização das
Nações Unidas) no ano seguinte. No entanto, após a vitória da MPLA, a UNITA
contestou os resultados da votação e reiniciou a guerra civil em outubro de
1992. Os conflitos internos deixaram cerca de 500 mil mortos e 10 milhões de
minas espalhadas pelo território angolano.
·
Argélia: A Argélia é um país árabe do
norte da África que sente a volta do ambiente de terror que dominou este país
nos anos 1990, marcado por conflitos entre o Exército e grupos islâmicos
radicais. Em janeiro de 2007 o Grupo Salafista para a Predicação e o Combate
(GSPC) passou a se chamar Al Qaeda nos Países do Magreb Islâmico, assumindo a
autoria de uma série de atentados. Em um comunicado divulgado na internet
afirmou a Al Qaeda nos Países do Magreb "Não estaremos em paz até
liberarmos toda a terra do islã que está com os cruzados e com os apóstatas, e
até que tornemos a pôr os pés na nossa Andaluzia espoliada e no nosso Al Quds
(Jerusalém) violado". O grupo Al Qaeda nos Países do Magreb tem entre 500
e 800 membros na Argélia, Mauritânia, Mali e Níger.
Ø
ÍNDIA:
DIVERSIDADE ÉTNICA E CONFLITOS
ü
CAXEMIRA
Índia
e Paquistão são ex-colônias britânicas. Em 1947 conseguiram independência. Os
ingleses repartiram a região de acordo com a religião das maiorias. Assim
surgiu a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana. O
controle sobre a região da Caxemira foi causa de duas das três guerras
(1948-1949, 1965 e 1971) já travadas entre Índia e Paquistão desde 1947.
A
região da Caxemira continua dividida entre a Índia e o Paquistão. Os dois
países abrandaram a retórica dura recentemente, mas nenhuma das partes parece
estar pronta para um acordo. Instabilidades político-econômicas no Paquistão
poderiam facilmente deflagrar um conflito. A Caxemira é uma região montanhosa
ao norte dos dois países. Grande parte da população da região é muçulmana e
quer a anexação ao Paquistão, que a Índia nega. O Paquistão reivindica o
controle total da Caxemira sob o argumento de que lá vive uma população de
maioria islâmica -- a mesma do país. Já a Índia tem uma população majoritariamente
hindu.
Os
enfrentamentos costumam se intensificar nos meses de verão. Nessa época, com o
derretimento da neve em porções da cordilheira do Himalaia, os separatistas
islâmicos têm mais facilidade para se infiltrar na Caxemira indiana, vindos de
solo paquistanês. Nas lutas entre os grupos que envolvem os dois Exércitos e
guerrilheiros pró-Paquistão, desde 1989, mais de 40 mil pessoas já morreram.
Segundo
o governo indiano, esses grupos recebem o apoio financeiro do Paquistão, que
diz apenas ampará-los politicamente. A rivalidade levou a uma corrida
armamentista que culminou com a entrada de Índia e Paquistão, em 1998, no clube
dos países detentores de armas nucleares. Ambos desenvolveram ao máximo sua
infra-estrutura militar. Desde então, as hostilidades na Caxemira passaram a
ser acompanhadas com mais atenção pela comunidade internacional.
ü
PUNJAB E
A QUESTÃO DOS SIKHS
Os
sikhs são membros de uma seita religiosa que defende a fundação de um país
independente no Estado do Punjab, noroeste da Índia. Desde a infância os
membros dessa comunidade recebem formação religiosa e militar. Muitos deles
fazem carreira, ocupando postos de importância no Exército e nos serviços de
segurança indianos. O Sikhismo é uma ramificação do
HINDUISMO e do ISLAMISMO, resultado de um agudo conflito entre os séculos 12 e
15.
O movimento hindu BHAKTI e o islâmico SUFISMO encontraram
compatibilidade em certos elementos comuns aos dois. Em 1947 ocorreram grandes
mudanças culturais e demográficas, quando a Índia tornou-se independente. A
terra foi repartida no que atualmente é o Paquistão, no norte e oeste; e a
Índia ao leste e sul. Devido ao confronto entre os grupos religiosos 2,5
milhões de sikhs foram obrigados a abandonar o Paquistão e mudar-se para a
Índia. Isso ocasionou mais violência, quando os muçulmanos, por sua vez,
mudaram-se para o Paquistão.
Os sikhs, por causa de seu crescimento, sempre desejaram
constituir uma nação independente, o que gerou continuas explosões de violência
contra o governo, que culminou com o ataque do exército indiano em junho de
1984, contra HARIMANDIR, o santuário sikhs mais sagrado. Em outubro do mesmo
ano, a primeira ministra Indira Gandhi foi assassinada por dois de seus
guarda-costas. Isso intensificou a tensão entre sikhs e hindus, e precipitou
mais violência.
Essa tensão diminuiu em 1989, quando o primeiro ministro
Rajiv Gandhi anunciou que todos os militantes sikhs presos depois do ataque de
1984 seriam soltos. Os sikhs ainda lutam pela formação de um estado
independente e ataques isolados de extremistas ainda ocorrem na região, porém a
Índia não aceita o separatismo, pois isso poderia ocasionar uma série de outras
tentativas fragmentadoras, visto a multiplicidade étnica e religiosa indiana.
ü O NORDESTE DA ÍNDIA:
“NOVO” FOCO DE CONFLITOS
Embora essa porção do continente indiano seja conhecida
de forma genérica pelo nome de Assam, ela é constituída por sete estados da
União Indiana: Assam, Manipur, Megalaia, Mizoran, Nagaland, Tripura e Arunachal
Pradesh. Esse espaço apresenta grande complexidade etno-cultural, sendo sob
este aspecto uma espécie de Índia em miniatura, concentrando numa superfície
reduzida do país (8% do território) graves contradições e divisões. Com cerca
de 25 milhões de habitantes, essa região da Índia é local de encontro de
diferentes culturas que mantém entre si um equilíbrio bastante delicado. São
ali encontradas culturas com características tipicamente ”himalianas” como a
tibetana e nepalesa, ao lado de grupos marcadamente hindus como o hindi e o
bengali. Além disso, a heterogeneidade é ainda mais acentuada pela presença de
cerca de 300 grupos tribais, muito diferenciados quanto à sua origem étnica,
identidade lingüística e diversidade religiosa. Sob o ponto de vista religioso
existem nessa área populações que professam o budismo, o hinduísmo, o
islamismo, o cristianismo e até grupos ligados à crenças ancestrais
(animistas). Essa enorme diversidade humana é resultado de uma evolução
histórica marcada por invasões, assimilações e migrações. Nas últimas décadas
sucessivas ondas migratórias, oriundas especialmente de Bangladesh (país dos bengalis, onde a população é
predominantemente mulçumana), têm aguçado ainda mais as tensões interétnicas.
Os cenários de violência na área podem ser constatados pela ocorrência de uma
dezena de conflitos de intensidade e periodicidade variáveis, que fizeram mais
de 10 mil vítimas nas duas últimas décadas, mas que não mereceram destaque na
mídia internacional.
Caxemira, Punjab e região do Assam. Apesar dessas
questões que ameaçam sua unidade territorial, a Índia continua a ser maior
democracia do mundo.
Ao mesmo tempo, o país tem sido colocado, juntamente com
o Brasil, a Rússia e a China, como parte integrante dos BRICs (sigla que
identifica cada um dos quatro países por suas primeiras letras), grupo de
nações que terão, nas próximas décadas, grande relevância no cenário
internacional.
Ø CONFLITOS NO SRI LANKA
Sri
Lanka (antigo Ceilão) destaca-se na produção de pedras preciosas. É o maior
exportador mundial de chá. Localizado ao sul da Índia, possui montanhas
escarpadas no centro e planícies férteis ao norte. Trata-se de um país com 19
milhões de habitantes, e que pouco depois de sua independência da colônia
britânica, em 1948, tornou-se palco de um conflito entre cingaleses budistas, que representam 75% da população e a minoria tâmil, aproximadamente 13% dos
habitantes, de origem hindu, que
protestam contra a discriminação e a falta de oportunidades para ingressar no mercado
de trabalho.
Os
Tâmis, através dos tigres de libertação da pátria tâmil (LTTE) concentram-se no
extremo norte do país (distrito de Jaffna) e desenvolvem intenso movimento
separatista, que inclui terrorismo e sabotagem. Sua principal reivindicação consiste
no separatismo de Jaffna, em relação ao Sri Lanka.
Ø A
QUESTÃO DOS CURDOS
Os curdos são
a maior nação oprimida sem Estado do mundo. Os 26 milhões de curdos conformam o
quarto maior grupo étnico do Oriente Médio, depois dos árabes, dos turcos e dos
persas.
Na Turquia,
com 14 milhões, representam 20% da população, no Irã, com 6 milhões, e na
Síria, com 1 milhão, sendo 10%. No Curdistão iraquiano são 5 milhões. Sua
dispersão geográfica é subproduto das fronteiras estabelecidas pelas potências
imperialistas européias à saída da I Guerra Mundial após a dissolução do
Império Otomano. Esta política de opressão das minorias nacionais tem seu
principal alvo nos curdos que sempre foram reprimidos na Turquia e outros
países da região com a cumplicidade do imperialismo, negando a eles os seus
direitos mais elementares, diretos democráticos.
Isto explica a
popularidade que ainda mantém o PKK (Partido de trabalhadores do Curdistão).
Este partido tem origem maoísta, sendo formada em 1978 sob a direção de
Abdullah Ocalan, que empreende uma campanha violenta contra o Estado turco. A
sua prisão em 1999 é um duro golpe, que leva tal organização a declarar um
cessar-fogo unilateral e a revisar suas reivindicações, como a demanda por
autonomia, ao invés de independência. Este cessar-fogo é rompido pelo PKK em
2004. Estima-se que haja 37.000 mortes desde 1980, em enfrentamentos entre o
PKK e o Estado turco.
O problema
curdo explodiu no cenário mundial. Sua importância é bem sintetizada pelo
seguinte comentário do Los Angeles Times: “Até o presente, a questão curda era
um problema turco, sírio, iraniano e um problema iraquiano. A invasão
norte-americana no Iraque o converteu também em um problema norte-americano – e
dos mais penosos nos tempos atuais. A incapacidade de bloquear o terrorismo
curdo alteraria com razão cinqüenta anos de relações sólidas entre os Estados
Unidos e a Turquia”.
Ø
CONFLITOS
NA INDONÉSIA
A Indonésia,
país do sudeste asiático, é um arquipélago formado por mais de 17 mil ilhas
entre os oceanos Índico e Pacífico, sendo o mais extenso arquipélago do
planeta. Sua população, a quarta maior do mundo, com cerca de 220 milhões de
habitantes e é composta por cerca de 300 etnias que falam mais de 500 línguas e
dialetos diferentes. Convertida ao Islamismo desde o séc. XV, a Indonésia
convive com conflitos envolvendo a maioria muçulmana e as minorias cristãs e
hinduístas.
Movimentos
separatistas e confrontos entre migrantes e nativos de algumas ilhas também têm
sido comuns ao longo da história. Grande parte dos conflitos é resultado da
política de transmigração adotada pelos colonizadores holandeses no início do
séc. XX para reduzir o superpovoamento de algumas ilhas, como Java e Madura,
que concentravam cerca de 80% da população, índice que foi reduzido para cerca
de 60% no final da década de 1990.
A luta pela
posse da província de Aceh, entre governo indonésio e rebeldes separatistas
ocasionou um dos conflitos mais longos da Ásia durante quase três décadas. Pelo
menos 15 mil pessoas morreram durante a luta armada iniciada, em 1976, pelo GAM
(Movimento Aceh Livre), que tentava estabelecer um Estado islâmico independente
no antigo sultanato rico em
petróleo. Porém em 2005, na capital finlandesa, Helsinque,
foi assinado um acordo de paz entre as partes envolvidas.
O
"Memorando de Entendimento", concluído no dia 17 de Julho de 2005,
previa o desarmamento e a desmobilização das forças do GAM, além da retirada
das tropas e polícias do Governo na região. Através deste acordo, o GAM
comprometeu-se a renunciar às suas reivindicações de independência, podendo
assim constituir-se em partido político, em 2006. Em troca, o Executivo de
Jacarta concederá à região uma vasta autonomia e anistiará os guerrilheiros
separatistas.
Ø O CASO DAS FILIPINAS
A atividade de
grupos terroristas islâmicos separatistas é o principal conflito deste país
asiático. Os grupos islâmicos Abu Sayyaf e a Frente Moro de Libertação Islâmica
(FMLI) desafiam o governo filipino reclamando um Estado independente em Mindanao.
A delicada economia segue deteriorando-se há várias décadas,
uma situação paga principalmente pelas classes mais pobres.
Esse processo
é especialmente grave na Ilha de Mindanao, a mais rica em recursos minerais e
agrícolas, na qual sete em cada dez famílias vivem abaixo da linha da pobreza e
a renda per capita é seis vezes menor que a da média nacional. Este
arquipélago, situado na parte meridional do país, é tradicionalmente muçulmano,
ao passo que o catolicismo impera nas outras ilhas Filipinas.
Durante os
anos 1980, o governo facilitou a entrada de milhões de fazendeiros cristãos no
resto do país, situação que deixou em minoria os muçulmanos e incrementou a
escassez de recursos e as tensões separatistas.
As táticas da
milícia de Abu Sayyaf, sem dúvida a mais sangrenta de todas, inclui atentados e
seqüestros, principalmente de turistas, com os quais consegue grandes quantidades
de dinheiro. Sua ação mais famosa foi o seqüestro em abril de 2000 de 21
pessoas, em sua maioria estrangeiros. A liberação de reféns levantou 28 milhões
de euros para a guerrilha. Outros não tiveram tanta sorte: mais de 100 reféns
da milícia foram decapitados. Ainda que a solução mais provável para o fim dos
conflitos seja a acabar com a miséria do país, a estratégia do Exército das
Filipinas, assessorado por militares norte-americanos, continua ser entrar em
guerra contra as facções armadas.
Ø O SEPARATISMO TIBETANO
Localizado
numa posição estratégica, o Tibet se
constitui num território de grande importância geopolítica para a China, pois
dali, o controle do sul da Ásia e de parte da Ásia central fica mais fácil,
além de estar numa altitude média de 4,5 mil metros acima do nível do mar,
apelidada assim, de o “teto do mundo” (cordilheira
do Himalaia – onde situa-se o ponto mais alto do mundo, o Everest - 8.850
metros ).
No
sul da Ásia, a China tem sido obrigada a lidar com uma política de aliança
entre os EUA e Índia – uma nação emergente e provável rival. Contudo o governo
chinês mantém boas relações com o Paquistão, aliado estratégico que possibilita
acesso ao oceano Índico.
Quanto
à Ásia central, o governo chinês necessita preservar rotas que abastecem o país
de petróleo e gás natural, oriundos principalmente do mar Cáspio, evidenciando,
dessa forma, a importância geopolítica tibetana.
Aliado
a isso, o Tibet possui uma enorme reserva florestal, que aos olhos da China é
vista como grande potencial bioenergético, além de possuir jazidas de cromo,
cobre, bórax, urânio, lítio, ferro, cobalto, entre outros. Outro fator
relevante é que o Tibet tem grande disponibilidade de água, onde se localizam
as nascentes dos principais rios asiáticos. É o caso do Yang-tse-kiang (rio
Azul), Hoang-ho (rio Amarelo), Mekong, Indus, Brahmaputra, Saluen, Ganges,
entre outros, correspondentes a cerca de 30% dos recursos hídricos da China.
E,
se não bastasse tudo isso, a perda do Tibet criaria um precedente enorme aos
grupos interessados em sua independência da China, podendo, portanto, servir de
exemplo a outros separatismos internos.
A
China ocupa o Tibet há mais de 50 anos. Uma das conseqüências dessa ocupação
chinesa é a existência de mais de cem mil refugiados tibetanos pelo mundo. Até
hoje, as Nações Unidas nunca expressaram algum protesto significativo contra a
ocupação do Tibet (lembrar que a China é membro permanente no conselho de
segurança da ONU, possuindo poder de veto).
O
governo chinês vem construindo prédios, realizando obras e substituindo a
tradicional arquitetura tibetana por uma arquitetura moderna, deixando assim as
províncias do Tibet cada vez mais semelhantes às cidades chinesas, ameaçando
assim a cultura e religião dos tibetanos.
Portanto,
de acordo com o que foi escrito anteriormente, ficou evidente que o objetivo
chinês não é somente modernizar o Tibet na busca de uma maior prosperidade da
região e assim, eventualmente conquistar o apoio dos tibetanos à administração
chinesa, como alega o governo central da China.
Ø
OS
CONFLITOS ÁRABES-ISRAELENSES
Os conflitos que hoje assolam o Oriente Médio têm diferentes
motivos. O principal deles diz respeito ao território: israelenses e palestinos
lutam para assegurar terras sobre as quais, segundo eles, têm direito milenar.
Outra questão diz respeito à cultura e à imposição de valores ocidentais às
milenares tradições orientais. Pode-se ainda mencionar o fator econômico -
talvez o preponderante: potências capitalistas desejam estabelecer um ponto
estratégico na mais rica região petrolífera do planeta. E ainda existe a
questão política.
As tensões perduram há séculos. Expulsos da Palestina pelos
romanos já no século I da Era Cristã (Diáspora
Judaica), os judeus acalentaram durante séculos o sonho de retornar à
"Terra Prometida", enfrentando todo tipo de discriminação e
perseguição. Todavia, o território, durante sua ausência, foi ocupado por
outros povos que, igualmente, sentem-se no direito de nele permanecer de modo
autônomo. Durante o domínio britânico sobre a região, os ingleses permitiram a
compra de terras na Palestina por ricos judeus de todo mundo que começaram a
reocupar a região. Essa maciça migração de judeus para a Terra Santa chamou-se Sionismo, em referência à Colina de
Sion, em Jerusalém.
Os ingleses após a Primeira Guerra Mundial comprometeram-se a
ajudar os judeus a construir um Estado livre e independente em território
palestino, buscando, assim, enfraquecer os árabes e conquistar vantagens
econômicas na região.
Entre os anos 1930 e 1940, intensificou-se consideravelmente
a imigração judaica para a Palestina, mesmo porque, a ascensão nazista na
Europa causava grande temor entre os judeus. O descontrolado ingresso de judeus
na Palestina acarretou sérios problemas já às vésperas da Segunda Grande
Guerra: as áreas de assentamentos judaicas (Kibutzin)
e as áreas palestinas, não foram delimitadas e grupos de características
étnicas e religiosas tão diferentes tiveram que compartilhar o mesmo
território, de onde resultam graves hostilidades entre ambos.
Desse modo, depois da implacável
perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial, os judeus viram
concretizado o sonho de voltar a ter seu próprio país. Em 1947, diante do
agravamento das tensões na região, a ONU decidiu pela partilha da Palestina em
duas áreas: a judaica e a palestina, onde o Estado de Israel abrangia cerca de
14 mil Km² e uma população de aproximadamente 700 mil habitantes, enquanto que
os Palestinos ficariam com a menor porção do território, cerca de 11,5 mil Km²
e uma população superior à 1,3 milhões de habitantes.
Com a retirada britânica em 1948, nasceu oficialmente o Estado de
Israel, gerando novas reações dos árabes, que viviam nessa zona há séculos e
negavam-se a aceitar a nova entidade política. Começava, assim, a primeira
guerra árabe-israelense.
ü AS ETAPAS DOS CONFLITOS
·
O PROBLEMA PALESTINO E AS PRIMEIRAS GUERRAS ÁRABE-ISRAELENSES
A oposição da Liga Árabe à decisão da ONU gerou o primeiro
confronto militar entre Israel e os países árabes. Um dia após a retirada das
forças britânicas e da proclamação do nascimento de Israel, as forças aliadas
árabes do Iraque, Egito, Líbano, Síria e Jordânia atacaram o jovem Estado. As
lutas duraram até janeiro de 1949, quando as tropas israelenses ocuparam toda a
Galiléia e o deserto do Negev, dobrando a área de seu território original. A
primeira guerra árabe-israelense (1948-49) foi vencida por Israel que, além de
ampliar seu controle na região, deixou a Cisjordânia sob controle da Jordânia e
a faixa de Gaza com o Egito, provocando o êxodo da população palestina pelos
países árabes. Surgia a "Questão Palestina", luta de um povo pelo
reconhecimento de seu território.
- GUERRA
DE SUEZ
Em 1956, questões fronteiriças entre Israel e Egito, a
nacionalização do Canal de Suez e a proibição egípcia de que navios israelenses
trafegassem pelo canal causaram a Guerra de Suez (segunda guerra
árabe-israelense). O líder egípcio Gamal Abdel Nasser, ao desafiar abertamente
os interesses franceses, britânicos e israelenses, teve de enfrentar a reação
armada dos três países. A intervenção soviética e norte-americana garantiu o
fim do conflito. O acordo assinado estabeleceu que Suez continuaria nacionalizado,
mas o Egito garantiria o direito de livre utilização a todos.
- AL
FATAH E OLP
Uma das respostas palestinas à condição de refugiados – obrigados
a ficar em campos miseráveis – foi o nascimento do grupo guerrilheiro Al Fatah
(reconquista ou conquista), em 1959, para destruir Israel e formar o Estado
Palestino, sendo Yasser Arafat um de seus fundadores. Além do Al Fatah, foram
formadas outras organizações guerrilheiras e terroristas árabes, que passaram a
atacar alvos civis e militares israelenses. Em 1964, os palestinos formaram a
OLP (Organização pela Libertação da Palestina), organização unificada fundada
pelo Congresso Nacional Palestino realizado na parte oriental de Jerusalém que,
na época, era território jordaniano. Em 1969, Yasser Arafat, principal líder da
Al Fatah, assumiu também a direção da OLP, conseguindo apoio da maioria dos
países árabes para enfrentar Israel.
- GUERRA
DOS SEIS DIAS
O principal conflito árabe-israelense aconteceu em 1967 e ficou
conhecido como Guerra dos Seis Dias (terceira guerra árabe-israelense). Egito,
Síria e Jordânia, sob o comando de Nasser, prepararam uma ação conjunta contra
Israel. No entanto, com apoio dos Estados Unidos, os israelenses realizaram um
ataque frontal aos inimigos, garantindo importante vitória. Como resultado da
guerra, o Estado israelense anexou Jerusalém, ocupou a Cisjordânia, a Península
do Sinai, a faixa de Gaza e as colinas
de Golã (território que permanece até
os dias atuais sob domínio israelense, agravando ainda mais os conflitos, pois
se insere nesta problemática a hidropolítica).
O êxodo palestino aumentou e a recém-criada OLP firmou-se como expressão
política e braço armado do povo.
- SETEMBRO
NEGRO
Com o tempo, o fortalecimento da OLP dentro de alguns países
árabes provocou reações negativas. Uma das mais dramáticas foi o massacre de
palestinos, ocorrido em setembro de 1970, pelas tropas leais do rei Hussein da
Jordânia. Hussein sentia-se ameaçado pela possibilidade da organização se
transformar em um "Estado dentro do seu Estado" e o terrível episódio
ficou conhecido como Setembro Negro. A principal conseqüência do Setembro Negro
foi o deslocamento das bases da OLP para o sul do Líbano. Porém, em 1982, uma
violenta ação armada comandada por Israel obrigou novamente a organização a
sair, buscando novo refúgio na Tunísia.
- GUERRA
DO YOM KIPPUR
Desobedecendo às determinações da ONU, que exigia a devolução dos
territórios, Israel manteve suas conquistas. Isso provocou, em 1973, a Guerra do Yom
Kippur (quarta guerra árabe-israelense) e a crise do petróleo. Após a morte de
Nasser, principal líder nacionalista árabe, em 1970, Anuar Sadat subiu ao
poder. Os esforços de seu governo centraram-se na recuperação dos territórios
que o Egito havia perdido para Israel em 1967. Para atingir esse objetivo,
Egito e Síria planejaram uma nova ofensiva armada, concretizada em 6 de outubro
de 1973, dia em que os judeus comemoravam o Dia do Perdão ou Yom Kippur. No
início da Guerra do Yom Kippur, os árabes estavam em vantagem, mas a imediata
ajuda norte-americana mudou os rumos da guerra e Israel manteve o domínio sobre
as áreas ocupadas.
- CHOQUE
DO PETRÓLEO
Os países produtores e exportadores de petróleo aproveitaram o
contexto político gerado pela Guerra do Yom Kippur para elevar os preços do
barril: foi o chamado "choque do petróleo". Uma de suas principais
conseqüências foi a grave crise econômica mundial, que atingiu principalmente
Japão e os países do então Terceiro Mundo e da Europa. A crise do petróleo
marcou profundamente a década de 1970, demonstrando o perigo da dependência
global em relação ao petróleo árabe. Em tempos de conflitos, Estados Unidos e
União Soviética passaram a buscar a pacificação do Oriente Médio. Esse esforço
conjunto das superpotências resultou na aproximação entre Egito e Israel,
formalizada em 1979 com a assinatura dos acordos de Camp David (EUA).
- ACORDOS DE PAZ
Quando o presidente Anuar Sadat assumiu a presidência do
Egito, assumiu uma postura de distanciamento da União Soviética e de
aproximação dos Estados Unidos. Daí resultaram conversações de paz entre
egípcios e israelenses que resultaram num acordo formalizado em Camp David , em 1979.
Assinaram o acordo, sob os olhos do presidente norte-americano Jimmy Carter, o
presidente egípcio, Sadat, e o primeiro-ministro israelense, o
ultra-direitista, Menahem Begin. O acordo previa que Israel devolveria o Sinai
para o Egito até 1982 e que em Gaza e na Cisjordânia nasceria uma
"autoridade autônoma", da qual a OLP não participaria, e que
governaria essas regiões por cinco anos, até a retirada definitiva de Israel.
O acordo não agradou nem aos judeus instalados nas colônias
do Sinai, de Gaza e da Cisjordânia, muito menos aos árabes que esperavam
maiores concessões por parte dos israelenses. Por isso, Sadat, considerado por
muitos, traidor da causa árabe no Oriente Médio, foi assassinado em 1981. Na
década de 1980, as negociações sobre o futuro do Oriente Médio não avançaram.
De um lado, os árabes iniciam a Intifada, rebelião popular em Gaza, cujo estopim foi o
atropelamento e morte de quatro palestinos por um caminhão do exército
israelense, em 1987. Adolescentes, munidos de paus e pedras, enfrentaram, nas
ruas, os soldados de Israel e o levante se alastrou. A repressão israelense foi
brutal. A partir de então, os choques entre palestinos e colonos nas áreas de
ocupação israelense têm sido freqüentes.
Em 1992, porém, a eleição de Yitzhak Rabin, membro do Partido
Trabalhista, para Primeiro Ministro de Israel, favoreceu a retomada das
conversações de paz entre árabes e israelenses. Simultaneamente, Arafat,
enfraquecido pelas dissidências internas da OLP, já adotava uma postura menos
belicista e mais conciliadora.
A disposição de ambos levou-os, em 1993,
a um encontro em
Oslo, onde ficou decidido que, de forma gradual, Israel devolveria a Faixa
de Gaza (área pobre onde se espremem 800 mil palestinos) e de Jericó, na
Jordânia, para a administração direta e autônoma dos palestinos, apesar dos
cerca de 100 mil colonos judeus ali instalados permanecerem protegidos pelo
exército israelense. Ao acordo, opuseram-se as facções palestinas hostis a
Arafat, alegando que as concessões de Israel eram pequenas frente aos desejos
dos palestinos, e os israelenses que habitam as regiões a serem devolvidas.
Em 4 de novembro de 1995, durante um comício pela paz na
Praça dos Reis, em Tel Aviv ,
um estudante judeu de 27 anos, membro de uma organização paramilitar de extrema
direita, assassinou Ytzhak Rabin. As negociações de paz não avançaram depois da
eleição de Benjamin Netanyahu, do LIKUD, partido de direita israelense, para o
cargo de primeiro ministro. Netanyahu não estava disposto a fazer concessões
aos palestinos.
Todavia, em 1999, realizaram-se eleições gerais em Israel e o
Partido Trabalhista, representado agora por Ehud Barak, foi reconduzido ao
poder, reabrindo as negociações de paz para a região. O grande obstáculo nesse
momento é decidir sobre a situação de Jerusalém, cidade sagrada tanto para
judeus quanto para muçulmanos. Em julho de
2000, em Camp David
(EUA), Israel ofereceu soberania aos palestinos em certas áreas de Jerusalém Oriental
e a retirada de quase todas as áreas ocupadas, mas Yasser Arafat (morto 11 de
novembro de 2004, após ficar internado durante 14 dias em um hospital militar
na França) exigiu soberania plena nos locais sagrados de Jerusalém e a volta
dos refugiados. Israel recusou.
Todavia, em setembro de 2000, um episódio marcaria o
acirramento das tensões entre palestinos e israelenses, quando Ariel Sharon,
líder do Partido Conservador e principal expoente do conservadorismo judeu,
"visitou" a Esplanada das Mesquitas em Jerusalém.
O ato pareceu uma forte provocação aos árabes e deu início à "nova intifada". Ataques
terroristas e confrontos diretos entre palestinos e israelenses tornaram-se
cada vez mais freqüentes, ameaçando perigosamente as conversações de paz.
A situação, porém, tornou-se mais violenta quando, no início
de 2001, o mesmo Ariel Sharon foi eleito Primeiro Ministro de Israel, revelando
o sentimento dominante entre os israelenses de não retomar as negociações para
a criação do Estado Palestino enquanto durar a intifada. Diante da violência
dos atentados terroristas promovidos pelo Hamas e pelo Hezbolah, grupos
extremistas árabes que pregam o extermínio dos judeus, as ações do exército
israelense também têm sido cada vez mais cruéis, atingindo, inclusive, a
população civil das regiões dominadas.
Em 2002, Israel começa a
erguer uma barreira para se separar das áreas palestinas com o objetivo de
impedir a entrada de terroristas. Palestinos afirmam que a construção do muro é
uma anexação de território. A construção inclui série de muros de concreto,
trincheiras fundas e cercas duplas equipadas com sensores eletrônicos.
Em outubro de 2002, um enviado dos EUA apresenta pela
primeira vez um esboço do plano de paz internacional elaborado pelo Quarteto
(EUA, Rússia, União Européia e ONU). O novo plano segue as linhas traçadas pelo
presidente dos EUA, George W. Bush. Prevê o fim da violência, seguido por
reformas políticas e nos serviços de segurança palestinos e a retirada de
Israel de territórios ocupados.
Forças israelenses cercam Arafat na Muqata (QG do líder) em
meio a uma ampla ofensiva lançada após uma onda de ataques terroristas em Israel. Arafat fica
proibido por Israel de deixar a Muqata. Fica confinado até antes de sua morte,
em novembro de 2004.
O Plano de Paz Internacional é oficializado em 2003. Seu
texto propõe um cessar-fogo bilateral, a retirada israelense das cidades
palestinas e a criação de um Estado palestino provisório em partes da
Cisjordânia e da faixa de Gaza. Em uma última fase, seria negociado o futuro de
Jerusalém, os assentamentos judaicos, o destino dos refugiados palestinos e as
fronteiras. Não é mencionado no texto a exigência do governo israelense de que
o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Yasser Arafat, morto em 11
de novembro de 2004, seja removido do cargo. Apenas diz que os palestinos
precisam de uma liderança que atue duramente contra o terror.
Em maio de 2005, assume o cargo de premiê palestino o
moderado Mahmoud Abbas, indicado por Iasser Arafat após ampla pressão
internacional. Abbas renuncia cerca de quatro meses depois após divergências
com Arafat em relação ao controle da segurança palestina.
Ainda em 2005, foi lançado o plano de retirada, pelo premiê
israelense, o plano unilateral de Sharon --que alega ter tomado essa iniciativa
por não contar com interlocutores confiáveis no lado palestino-- visa retirar
de Gaza e parte da Cisjordânia 25 assentamentos judaicos e suas forças
militares. Convivem hoje no território 1,3 milhão de palestinos e cerca de 8.500
judeus. Facções contrárias à retirada adotam o discurso de não desistir de
nenhum centímetro de terra.
Em janeiro de 2006, o então premiê israelense Ariel Sharon
sofre um derrame cerebral e entra em coma. Ele é substituído interinamente pelo atual
premiê, Ehud Olmert. Em março, eleições israelenses dão a vitória ao partido
KADIMA (centro), de Olmert, e após formar uma coalizão o líder é confirmado no
posto de premiê israelense.
Em 2007, Após meses de negociações, os partidos palestinos
rivais FATAH (do presidente da ANP, Mahmoud Abbas) e HAMAS (do premiê
palestino, Ismail Haniyeh) concordam com a criação de um novo gabinete com
poder compartilhado. O acordo foi fechado em Meca (Arábia Saudita) em uma
reunião com Abbas, Haniyeh e o líder político do Hamas na Síria, Khaled
Meshaal, no dia 8 de fevereiro.
A negociação foi marcada pela violência interna que custou
a vida de dezenas de palestinos entre dezembro e fevereiro. Apesar da
comunidade internacional --incluindo Israel-- ter pressionado pela realização
do acordo entre os dois movimentos, Israel não tem a intenção de tratar com o
novo governo palestino.
O Hamas continua a não aceitar de forma direta ou indireta
o reconhecimento de Israel, os acordos firmados e a renúncia à violência,
informou um comunicado do Ministério de Relações Exteriores de Israel. Esses
três pontos são as exigências da comunidade internacional para o fim do
bloqueio financeiro à ANP.
E por fim, em janeiro de 2008, representantes de Israel e
da ANP reúnem-se para recomeçar as negociações sobre o futuro de Jerusalém, os
assentamentos, os refugiados palestinos, as fronteiras, a segurança e os
recursos hídricos. É a primeira vez que os assuntos são tratados desde Cúpula
de Taba, em janeiro de 2001. As conversas de paz, como muitas tentativas
anteriores, não amenizam o clima de guerra entre palestinos e israelenses e os
jornais noticiam freqüentemente ataques violentos das duas partes.
Em 13 de março, o Jihad Islâmico (grupo extremista
palestino) em Gaza disparar mais de uma dúzia de foguetes contra o sul de
Israel após forças secretas israelenses terem matado um de seus líderes em um
ataque ocorrido na véspera na Cisjordânia. No dia seguinte, um enviado especial
dos Estados Unidos chega ao país para tentar mediar conversações de paz, mas
Israel nega cessar-fogo.
Em abril, o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, reitera no
Egito seu desejo de que o conflito palestino-israelense seja resolvido antes do
final deste ano. "Pedimos a todas as partes (envolvidas no processo de
paz) que empreguem o esforço máximo para alcançar um acordo antes do final do
ano. Queremos conseguir uma solução antes do fim de 2008", afirmou à
época.
Além disso, pediu ao presidente americano, George W. Bush,
"que trabalhe para que (Israel) cesse a construção de assentamentos
judaicos, com o objetivo de chegar a um tratado que garanta a recuperação das
fronteiras anteriores a 1967."
Poucos dias depois, ele se reúne com o primeiro-ministro,
Ehud Olmert, para discutir detalhes da visita de Abbas aos Estados Unidos e do
presidente George W. Bush a Israel. A idéia seria encerrar o conflito que opõe
os povos antes do fim do mandato de Bush, em janeiro de 2009.
DETALHE (Fábio): O
fundamentalismo islâmico na nova ordem mundial
trouxe de volta o "fantasma muçulmano" que ameaçou o Ocidente europeu
a partir do século VIII. Interpretando rigidamente a sharia (a lei do Corão),
os fundamentalistas querem a observação total das tradições religiosas no
cotidiano político, econômico e social, a fim de formar um Estado islâmico puro.
Num contexto de miséria e recessão econômica, os marginalizados constituem a
base social de apoio a esses movimentos, que usam de ações clandestinas e
violentas. Também no Oriente Médio o fundamentalismo vem alimentando conflitos.
O Conflito entre o Irã e o Iraque:
O conflito entre o Irã e o Iraque,
iniciado em setembro de 1980, iria durar quase uma década e poria em risco não
só o abastecimento mundial de petróleo mas também o tênue equilíbrio político
mundial.
A - A causa: foi uma disputa de fronteiras,
mis especificamente o controle do Canal Chatt Al Arab, que corresponde à parte
meridional limítrofe entre os dois países e representa a única saída marítima
do Iraque , sendo, portanto, de fundamental importância para o escoamento de
petróleo do país.
O conflito iria durar quase uma
década, ou seja, se prolongaria até 1988, onde ao longo da guerra os dois
países se alternavam em vitórias e planos estratégicos.
OBS.: Durante o atrito com o Irã, o Iraque recebeu apoio tanto das duas
superpotências quanto da maioria dos países do Oriente Médio, inclusive o
Kuwait. Nesse momento, Saddan Hussein era visto, por todos esses países, como
uma figura modernizadora, que serviria de anteparo contra o obscurantismo do
Irã, dominados pelos aiatolás.
A guerra terminou da mesma forma que
começou do ponto de vista territorial, ou seja, ambos continuaram com seus
mesmos territórios. Porém do ponto de vista financeiro, o Iraque encontrava-se
com uma grande dívida pois recebeu vultuosos empréstimos e doações financeiras
para poder manter sua "máquina de guerra" contra o Irã. A URSS, em maior escala, e vários países
ocidentais forneceram modernos armamentos aos iraquianos. Terminada a guerra, o
Iraque era um país atolado em dívidas, que necessitava de uma urgente reconstrução
econômica, mas contava com uma formidável máquina militar.
A
Guerra do Golfo:
A - Causa: Invasão do Iraque ao
Kuwait.
A.1- Justificativas:
-
O Iraque
queria ampliar sua saída marítima para o Golfo Pérsico, pois o Chatt Al Arab é
a sua única saída marítima e compartilhado ao meio com o Irã.
-
Saddan
afirmava que as fronteiras do mundo árabe foram feitas pelos europeus, no
início do século XX, de maneira arbitrária. Logo, alegava a eliminar as
fronteiras artificiais criadas pelas potências colonialistas.
-
O Kuwait
deveria ser parte de uma província iraquiana. Porém, fora tirado do Iraque em
função de acordos que os ingleses teriam feitos com lideranças locais.
-
O Iraque
acusava o Kuwait de Ter extraído petróleo na fronteira entre eles, alegando que
parte desse petróleo teria sido "chupado" de reservas que estavam em
território iraquiano. Além do Iraque
cobiçar há muito tempo controle da ilha Bubian, no Golfo Pérsico.
A invasão iraquiana teria resposta
americana que iria defender seus interesses nessa região. Assim, para conseguir
seus objetivos os, EUA montaram suas bases militares na Arábia Saudita além de
contar com apoio de vários outros países aliados. No final de novembro de 1990, o Conselho de
Segurança da ONU aprovou uma resolução, proposta pelos EUA, que marcava o dia
de 15 de janeiro de 1991 como prazo final para que os iraquianos saíssem do
Kuwait.
NOTA: O Iraque tentou transformar a crise numa
luta do Oriente (árabe-mulçumano) contra o Ocidente. Saddan Hussein chegou
algumas vezes, a apelar para a guerra santa, alegando que os
"infiéis" ocidentais estavam conspurcando o solo sagrado do Islã,
(referia-se às cidades de Meca e Medina, situadas na Arábia Saudita, onde se
encontrava grande parte das forças norte-americanas). O Iraque afirmou ainda
que se fosse atacado iria atacar Israel numa tentativa de atrair aliados
mulçumanos.
B
- Conseqüências:
-
O EUA
realizou uma grande ação militar sobre a capital iraquiana
-
O Iraque de
Saddan Hussein bombardeou Israel, tendo apoio dos palestinos e até do Irã.
-
O Iraque
iria amargurar uma derrota.
NOTA: Diante da "vitória" na Guerra Fria, os Estados Unidos
precisava arranjar um outro alvo para justificar os gastos militares perante os
contribuintes. Surgiram então os ditadores que estariam "ameaçando" o
mundo Ocidental.
O primeiro foi Sadam Husseim, presidente do Iraque, que ordenou a invasão
do Kuwait no início da década de 1990. Sua intenção era aumentar o território
do país e dominar as reservas de petróleo no mundo. no entanto, o líder iraquiano
foi transformando em uma espécie de ameaça ao país para a opinião pública
estadunidense.
No primeiro conflito com o Iraque, em
1991, os Estados Unidos conseguiram criar uma coalizão que envolveu vários
países do mundo ocidental. Na época, a economia do país estava em crise. Foi preciso
dividir as despesas e chamar outros aliados para disparar mísseis contra um país que aspirava a condição de
potência regional. Na ocasião, muitos analistas disseram que a superpotência
estava enfraquecida, pois precisou de aliados para combater um país pobre e
militarmente muito inferior. O que se verificou, porém, foi uma atitude
cautelosa dos Estados Unidos. Envolvendo vários países, eles puderam atingir
seu objetivo, enfraquecer a possibilidade de Saddan Hussein aumentar seu
domínio sobre reservas petrolíferas do Golfo Pérsico, despendendo menos
recursos.
O segundo conflito militar com o Iraque: em 1998, a situação alterou-se.
Causas:
Ø Acusando Sadam Husseim de não cumprir as
determinações do Conselho de Segurança da ONU estabelecidas ao final da Guerra
do Golfo, os Estados Unidos novamente convocaram aliados para operação militar
contra o oponente.
Ø O presidente do Iraque não queria permitir que
uma missão da ONU vistoriasse suas instalações, gerando suspeita de que ele
estaria preparando uma bomba atômica e desviando o uso do conhecimento nuclear
para o campo militar.
NOTA: Os Estados Unidos convocaram seus aliados e solicitaram a anuência do
Conselho de segurança da ONU para compor novamente uma coalizão internacional
para atacar o Iraque.
A China, a França e a Rússia foram contra, e o
acabou ocorrendo foi um ataque aéreo com aviões dos Estados Unidos e do Reino
Unido. Fracassou de uma guerra contra uma simples potência regional. O conflito
durou poucos dias.
O
RECENTE CONFLITO ENTRE EUA E O IRAQUE:
A) Causa: as justificativas dos EUA para invadir o Iraque
foram:
A.1- O governo de Saddan
Hussein era ditador e de tirania; inclusive realizando experiências biológicas
sobre os Curdos.
A.2- O governo iraquiano foi
acusado de investir em armas químicas e biológicas; além de grande poder de
destruição em massa;
|
B) Estratégia norte-americana: Os 50 Motivos de Bush para o ataque ao
Iraque
|
B.2 -
controle do território americano a fim de controlar as jazidas petrolíferas
iraquianas ampliação;
B.3 - expandir a
influência americana num território considerado fechado para os interesses dos
EUA.
B.4 - estabelecer o controle sobre os 150 bilhões de barris de
petróleo que poderão ser encontrados no subsolo Iraquiano, gerando uma receita
de aproximadamente 5 trilhões de dólares (considerando a cotação atual do
barril de petróleo).
B.5- cercar estrategicamente o Irã, já que os EUA já possuem
bases no Afeganistão, Paquistão, Turquia E Armênia.
B.6
– conceder
independência ou autonomia para a minoria Curda no Iraque, atenuando o desgaste
político dos EUA pelo desprezo dispensado aos Palestinos, outro povo sem
Pátria.
B.7
– impedir
que o Iraque desenvolva armas de destruição em massa (nucleares, Biológicas E
Químicas).
B.8
–
garantir a reeleição de George W. Bush em 2004, imaginando que o presidente,
devido à guerra, se apresentaria como o líder destemido da nação mais poderosa
do mundo.
O CONFLITO NO AFEGANISTÃO:
1.0 - O Legado da História
O Afeganistão,
ou o "teto do mundo", localizado no Himalaia, é um dos países mais
pobres do mundo, e encontra-se em guerra há mais de 20 anos. País feudal,
tribal e multiétnico criado como Estado-tampão entre os imperialismos russo e
inglês no século IX, esta nação isolada dos grandes circuitos mundiais até
recentemente adquiriu súbita importância geopolítica. Importante ressaltar, o
islã só completou sua implantação no país durante o século XIX. Já o traçado da
fronteira sul deixou parte de sua etnia principal, os pasthtus (39% dos
afegãos), no Paquistão. Os tadjiques e usbeques (que a URSS constituíam
repúblicas federadas) e os hazaras (xiitas) representam as minorias mais
importantes, localizadas no norte e no centro do país, respectivamente.
|
Em 1919, foi o primeiro país do mundo a estabelecer relações diplomáticas com a Rússia soviética, com a qual assinou inúmeros acordos de cooperação em 1924, que vieram sendo renovados continuamente. Como país neutralista e relativamente isolado, o Afeganistão oferecia a segurança de que a URSS necessitava em sua fronteira perturbada após a implantação da república, em 1973, pelo príncipe Daud. Este dirigente, face às dificuldades econômicas e a crescente influência dos comunistas no aparelho estatal, modificou as alianças externas, aproximando-se do Irã do Xá Parhlevi, do Paquistão e dos Estados Unidos, passando a perseguir a minúscula esquerda urbana que o apoiara inicialmente.
2.0 - A "Vendéia" Comunista
Os comunistas
reagiram desencadeando um golpe de Estado em 1978, a "Revolução de
Abril", com apoio do Exército. O Partido Democrático do Povo Afegão
(PDPA), como se denominavam os comunistas, era integrado especialmente por
membros da classe média urbana e oficiais, e formado por uma facção radical
(Khalk) e outra moderado-etapista (Parcham). Muitos dos seus integrantes, civis
e militares, haviam estudado na URSS nas décadas anteriores, devido aos acordos
de formação técnica. O novo poder de Kabul, liderado pelo respeitado Taraki,
iniciou um ousado programa de reformas: agrária, nacionalizações,
universalização do ensino e emancipação de jovens e mulheres (apenas 2% delas
eram alfabetizadas).
O caráter
retrógrado da sociedade, parte da qual ainda nômade, o perfil ateísta do regime
e as estratégias voluntaristas empregadas nas reformas logo produziram a
aparição de uma oposição armada. A família patriarcal tinha os nos jovens uma
mão-de-obra indispensável e também não aceitou a emancipação da mulher, enquanto
os mollahs (clérigos muçulmanos) opunham-se à reforma agrária. Escolas foram
incendiadas e agentes governamentais mortos. Os guerrilheiros mujahidin,
apoiados militarmente pelo Paquistão, EUA e Arábia Saudita, já controlavam
grande parte das montanhas e zonas rurais. O regime, por seu lado,
radicalizava-se, com a supremacia do Khalk (majoritariamente pushtu) e de seu
líder, Affizulah Amin. Taraki foi isolado e o Parcham marginalizado.
A crescente
perda de controle da situação pelo governo preocupava os soviéticos, que
aconselhavam uma política mais moderada. Taraki, ao voltar de Moscou, foi
assassinado por Amin, fazendo o Kremlin, já inquieto pela revolução iranianados
aiatolás, pela crise polonesa e pela deterioração das relações internacionais,
optar por uma intervenção que colocasse os moderados no poder. A intervenção,
sincronizada de Natal de 1979, levando Brabak Karmal (líder Parcham) ao poder.
A guerra civil
intensificou-se contra o regime e seus aliados soviéticos, que enviaram 120 mil
soldados. A moderação política e a cooptação de alguns chefes tribais não
alterou a situação. O regime controlava as cidades e eixos rodoviários,
enquanto as diversas facções da resistência dominavam o interior apoiadas por
bases no Paquistão e Irã, onde se encontrava grande número de refugiados. As
drogas (ópio e heroína) oriundas das plantações de papoula, passaram a
financiar parte das operações guerrilheiras. O moderado e lendário líder
Jamiat-i-Islami (que controlava o Norte), Ahmed Sha Massud, e o fundamentalista
Hekmatyar, chefe do Hesb-i-Islami (que dominava a fronteira com o Paquistão),
eram os mais importantes comandantes mujahidins, infligindo consideráveis
perdas aos soviéticos, que sofreram seu Vietnã.
Em 1986, sob
pressão de Gorbatchov, implantou-se um governo disposto a negociar a paz (sob
os auspícios da ONU) e a retirada soviética, liderado por Najibulah, um médico
que chefiava a polícia política.
Em fevereiro de 1989,
completou-se a retirada, enquanto o PDPA passava a chamar-se Watan (Pátria),
com o objetivo de implantar um governo de coalizão. Socialmente o problema
afegão lembrava a Revolução Francesa, quando os jacobinos tentaram implantar
suas reformas sociais e modernizadoras e encontraram feroz resistência a região
da Vendéia, uma das mais atrasadas e pobres da França, respondendo
militarmente. Os segmentos sociais que teoricamente mais poderiam se beneficiar
com o regime lutavam contra ele. O Ocidente, por seu turno, como forma de
combater a intervenção soviética, prestou imenso apoio aos grupos fundamentalistas,
que no caso de Hekmatyar, praticavam uma política obscurantista (usar o islã
contra o ateísmo marxista).
3.0 - Do Socialismo ao Fundamentalismo
Surpreendentemente,
o regime sobreviveu à saída dos soviéticos e à progressiva redução da ajuda econômica
e militar. As ofensivas guerrilheiras, fortalecidas pela continuidade da ajuda
externa, não conseguiram derrubar o governo, nem chegar a um acordo para formar
um novo governo. Kabul se transformava numa cidade-Estado, onde refugiados do
campo e segmentos urbanos apoiavam o governo, particularmente as mulheres. Com
o golpe de agosto de 1991 em Moscou, a URSS desagregou-se, e a ajuda foi
completamente cortada. Ainda assim, os comunistas resistiram até abril de 1992,
quando a deserção do general Rashid Douston, chefe da milícia usbeque, causou o
colapso do regime. Como o governo não possuía mais recursos para distribuir os
comandantes regionais, ele se aliara à guerrilha.
Os vencedores
não se puseram de acordo, e a guerra civil prosseguiu. Kabul, ocupada por
diferentes milícias, foi praticamente destruída, com 70% da população fugindo
para o campo. Os remanescentes do regime derrubado juntaram-se a diferentes
grupos, que tenderam a se agrupar por etnias. Estes, por sua vez, recebiam
apoio externo de potências regionais, desejosas de ocupar o vácuo de poder
provocado pela fragmentação da URSS.
Muitos dos
partidos vinculavam-se aos novos países da Ásia central, em que sua etnia era
majoritária. Mas havia uma divisão dominante: os moderados (como Massud), desejosos
de um governo de coalizão e independência externa, e os fundamentalistas (como
Hekmatyar), ligados ao Paquistão e ao Ocidente.
O governo do
presidente Rabbani, do campo moderado, foi reconhecido internacionalmente, mas
combatido por Hekmatyar. Os recém formados paises da Ásia central, ricos em
petróleo e situados entre a Rússia e a China, constituíam uma nova realidade
geopolítica, cobiçada pelo ocidente. O Afeganistão, localizado entre o Irã e a
China, ocupava uma posição chave, representando o único acesso à região.
Companhias sauditas e americanas desejavam construir um oleoduto ligando o
petróleo do Mar Cáspio ao Oceano Índico, evitando a Rússia e o Irã. Assim,
necessitavam de um governo subserviente em Kabul.
Mas Hekmatyar
fracassou militarmente. O Paquistão buscou, então, uma alternativa, com ajuda
americana e saudita. Seus serviços de inteligência recrutam entre os campos de
refugiados os "estudantes de religião" (talibãs, de etnia pashtu) das
escolas corânicas, uma poderosa milícia, oferecendo treinamento, armas,
dinheiro e apoio aéreo. Num país economicamente devastado, socialmente fatigado
e politicamente decepcionado com a continuação da guerra civil pelos partidos
tradicionais, o surgimento desses "puros" em 1994, que pregavam a
unidade, a ordem e o fim da guerra, pareceu uma esperança para amplos segmentos
da população. Após a conquista de Kandahar e Heart, no Oeste, eles avançaram
gradativamente rumo à Capital.
Em setembro de
1996, conquistaram Kabul, executando os adversários e capturando Najibullah,
que se encontrava refugiado na representação da ONU. Ele e seu irmão foram
castrados, enforcados e, após trucidados em praça pública. Ao mesmo tempo,
forma baixadas leis restritivas às mulheres, destruíram-se bibliotecas,
televisores e vídeos, obrigaram os homens a usar barba e padronizaram o corte
de cabelo e o vestuário masculino e feminino. Os estrangeiros passaram a sofrer
restrições, enquanto o governo refugiava-se no Norte.
Em agosto de
1998, Mazar, Mazar-I-Charif, bastião usbeque de Douston, foi conquistado, bem
como o reduto dos xiitas hazaras (onde estavam as estátuas de Buda). Nesta
região, diplomatas iranianos foram assassinados, quase provocando uma guerra
entre os dois países. O comandante Massud, último apoio do governo (que continua
a ser reconhecido internacionalmente), controla, ainda 10% do nordeste afegão,
a região dos tadjiques, que os talibãs não conseguiram controlar. Ele é apoiado
pela Rússia, Índia e Irã.
4 - Obscurantismo e Geopolítica
Desde então,
os talibãs começaram a escapar ao controle dos seus mentores, aprofundando seus
vínculos com a produção e o comércio de drogas (de maneira independente) e
envolvendo-se com o terrorismo internacional, como no caso do saudita Osama Bin
Laden, responsável pelos atentados a duas embaixadas americanas na África. Mas
os talibãs, liderados pelo Mollah Omar, continuam sendo reconhecidos
diplomaticamente pelo Paquistão e apoiados por interesses ocidentais e
sauditas, pois ainda que cada vez mais incômodos e constrangedores, continuam
sendo aliados indispensáveis no tabuleiro político regional.
Os talibãs não
possuem um programa político exeqüível na era da globalização, mas podem
sobreviver largo tempo devido ao estado de anomia, fadiga e destruição a que
foi submetida a sociedade afegã, num retrato dramático da sorte dos perdedores
da Nova Ordem Mundial. Tantas ingerências externas e pressões contrárias à
modernização acabaram produzindo um verdadeiro monstro. Como carecem de um
projeto econômico e sócio-político consiste, na medida em que foram forjados
como um instrumento destinado a varrer determinadas forças políticas, os
talibãs começam a exercer uma violência "disfuncional", como proibir
certos esportes tradicionais de algumas tribos ou buscar novas "cruzadas",
como destruir as estátuas de Buda e relíquias históricas pré-islâmicas.
Corrupção e criminalidade já começam a grassar nas fileiras dos
"puros", bem como revoltas locais contra eles.
Contudo, é
preciso evitar a tentação (estimulada por certos meios) de culpar o islã pelo fundamentalismo
dos talibãs. Basta ver que um dos maiores inimigos desse regime é o Irã dos
aiatolás, e que muitos dos que o apóiam direta ou indiretamente são democracias
ocidentais ou seus aliados regionais. O fenômeno da intolerância, seja
religiosa ou política, é um fenômeno mundial. Assim, os fanáticos talibãs podem
ser um caso extremo, mas não são totalmente originais, pois cristãos
fundamentalistas americanos realizam atentados a clínicas de aborto, hindus
incendeiam mesquitas, judeus ultra-ortodoxos constrangem israelenses laicos e
uma seita japonesa jogou gás letal no metrô de Tóquio em 1995.
A intolerância
dos talibãs deve ser pensada no contexto do desenraizamento provocado pelas
mudanças aceleradas em curso do mundo, conflitos armados devastadores e
manipulação externa. O que choca, especialmente, é que a era da revolução
científico-tecnológica, a era da Internet, é igualmente a do surgimento dos
fundamentalismos. Mas essa é uma oposição dialética, e não formal. Sem acesso
ao desenvolvimento, educação, saúde e modernidade, tal situação não será
superada. Assim ainda que marcados por uma aura atávica, os talibãs podem ser
melhor compreendidos pelos fenômenos do mundo moderno.
LEITURA COMPLEMENTAR
TALIBAN
- O VANDALISMO DOS FANÁTICOS
Desde que instalaram um regime medieval no Afeganistão, há cinco anos, os
integrantes da milícia do Taliban - nome originário de um movimento de
estudantes islâmicos - tomam decisões de arrepiar os cabelos até dos mais
ferrenhos seguidores de Maomé.
Mohamed Omar,
que se autoproclamou emir do Afeganistão e é o líder da milícia, decidiu que
todas as estátuas do país deveriam ser destruídas. Esse súbito surto de
iconoclastia passaria despercebido se o Afeganistão não tivesse um acervo
riquíssimo de monumentos budistas, herança do período pré-islâmico, anterior ao
ano 1000, quando a região era centro de peregrinação.
Entre os alvos
da maluquice, estão as duas estátuas gigantes de Buda, em Bamiyan, nos
arredores da capital Caboul. Esculpidas na rocha há mais de 1.500 anos, elas
medem 37 e 53 metros
de altura e estão entre as maiores estátuas conhecidas de Buda. Omar, que por
lá é conhecido como "mulá" (professor), deu a ordem, e imediatamente
soldados começaram a circular pelo país com caminhões carregados de explosivos
e lança-foguetes à caça das imagens. As primeiras estátuas destruídas foram
retiradas das 6.000 peças do museu de Cabul. Países com grande comunidade
budista, como o Japão, a Tailândia, a Índia, e organismos como a Unesco
protestam em vão. "Estamos apenas destruindo pedras", Omar
justificou.
Desde que se
instalou no governo, o Taliban transformou o país num inferno. Execuções
sumárias, amputações públicas e festivais de chibatadas acontecem em estádios
de futebol lotados. As meninas são obrigadas a parar de estudar aos 8 anos.
As mulheres
vivem cobertas por um manto, o burqa, que esconde até os olhos, e chegam a
levar uma surra quando são apanhadas conversando com estranhos. Já os homens
têm de vestir camisolões e são forçados a usar barba. O Afeganistão tornou-se o
país da proibição. Televisão, música, fotografia e tudo que desvie a atenção de
Deus é ilegal. Em meio a tantos absurdos, o Taliban acabou abrigando o sunita
Osaman Bin Laden, terrorista acusado de planejar os atentados às embaixadas
americanas na Tanzânia e no Quênia, em 1998.
Apesar de
pedidos de extradição, ele continua como um convidado de honra e, por isso, o
país enfrenta um embargo internacional que privou os afegãos de quase toda
ajuda humanitária, essencial numa nação devastada por duas décadas de guerra
civil. Apesar de o Taliban controlar 90% do território, a comunidade internacional
- à exceção de Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes - ainda não o
reconhece como governo legítimo do Afeganistão. Enfrentando a pior seca das
últimas três décadas, a agricultura do país está em frangalhos. Mais
de 3 milhões de famintos se espremem em campos de refugiados nos vizinhos
Paquistão e Irã. Dentro do país, as Nações Unidas estimam que 1 milhão de
afegãos estejam à beira de ser dizimados pela fome.
Numa tentativa
desesperada de agradar aos governos ocidentais, o Taliban anunciou o extermínio
dos campos de papoula - o Afeganistão produz 75% do ópio mundial que,
transformado em heroína, abastece o mercado europeu e o americano. Acabar com a
maior fonte de renda do Estado parece ter sido um suicídio econômico que faz a
destruição de estátuas parecer muito mais uma tentativa de chamar a atenção
para a penúria do país. Mas transformar o passado em pó não vai melhorar a
imagem do Taliban e a tendência é isolar ainda mais o Afeganistão. Rompantes de
icnoclastia pontilharam a História. Em seus primórdios, o cristianismo, por
exemplo, fez tudo o que pôde para acabar com toda a arte considerada pagã,
inclusive grega. Mais recentemente, os espanhóis arrasaram as culturas
pré-colombianas em nome de Deus e, durante a Revolução Francesa, estátuas da
Catedral de Notre-Dame foram decapitadas pelos revolucionários.
O que dá um
tom assustador à turma do Taliban é pulverizar objetos de arte de tamanha
importância em pleno século XXI, acabando com a última riqueza do país: seu
passado.
CRÔNICA DE UM OBSCURANTISMO ANUNCIADO
|
Os recentes
atos de vandalismo do regime taliban ("estudantes de religião"),
destruindo estátuas de Buda datadas dos séculos 3 e 5, constituem mais um
capítulo na crônica de um obscurantismo longamente anunciado. Isso, após já
haver chocado o mundo com o tratamento dispensado às mulheres, proibidas de estudar,
de exercer qualquer profissão ou mostrar qualquer parte do corpo, confinadas às
funções de mães e donas de casa. Como foi possível a implantação de um tal
regime teocrático-fundamentalista? Uma resposta demasiado fácil, e capciosa,
seria acusar especialmente a intervenção soviética de 1979 no país, e a
natureza do islã. É preciso mais para se entender a complexidade que produziu a
tragédia afegã.
"A OUTRA FACE DO CAPITAL"
O mundo
acompanhou o surgimento de um novo sujeito no cenário da globalizacão, um
sujeito ao qual os grandes mestres do capital mundializado haviam prestado
pouca ou nenhuma atenção quando de suas atuais estratégias de reestruturação
produtiva planetária, um sujeito que irrompe como subproduto de uma propalada
'nova ordem mundial', esta que até o momento se apresentava sob um fortíssimo
jogo ideológico, como uma ordem sem sujeito definido; surge então, n limiar do
século XXI, o não - ocidente.
Finda a II
Guerra Mundial, países do centro do mundo capitalista começaram a promover, não
somente um processo de reconstrução e reestruturação de suas bases produtivas,
mas principalmente, optaram como forma ideológica de expansão de seus
interesses por um gigantesco processo de ocidentalização
do mundo, que implicaria além da adoção dos modelos produtivos, numa
'adoção consentida' de um modus vivendi e de um modus operandi,, uma forma de viver e
agir que obedecessem aos padrões estabelecidos por esse centro do mundo
capitalista que se estabelecia.
Esse imago mundi se constrói com o
acirramento do conflito Leste-Oeste, no plano dos territórios e com a disputa
ideológica do capitalismo versus socialismo,
que se traduzia, cada vez mais, num alinhamento incondicional a um ou outro
pólo de poder, sem espaço para a existência de um mundo alternativo, o “outro”,
portanto, transformava-se dessa maneira no inimigo, a ocidentalização do mundo
havia dado seu start.
É sob esse
horizonte político e ideológico que se constrói o mundo do pós-guerra, um mundo
onde as diferenças que não puderem ser incorporadas ao projeto de
ocidentalização devem rigorosamente ser eliminadas ou quando muito isoladas do
“contato civilizatório”. O ideário de civilização passa a ser confundido com o
modelo das sociedades que detêm o poder bélico-econômico, o que no mundo
capitalista significava o modelo das nações do capitalismo central. As guerras
regionais, alternativas a guerra total (TOFFLER, 1979), se fazem tendo este
objetivo como uma de suas demandas.
Centenas de
povos, etnias, religiões, línguas, dialetos, territorialidades, são postas na
ilegalidade, de um tempo a outro. Temporalidades são rompidas, segredos e
sagrados são violados em nome de uma homogeneidade que estabeleceria a ordem.
“Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu
cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas, as relações que as
substituem tornam-se antiquadas antes mesmo de ossificar-se. Tudo que era
sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado [...I”. De um
lado ou de outro do muro uma das poucas coisas que era consenso entre as
potências dominantes era a negação da diferença como artifício máximo da
construção da nova ordem mundial.
Essa é a
imagem do mundo no período entre 60 e 80, com poucas alterações no cenário do
poder mundial. Múltiplas crises econômicas e de força se seguiram, nesse
período, sem que aquela orientação fosse mudada, visto que a manutenção da
ordem estabelecida se fazia fundada na “paz armada”.
Quando as
entropias começam a se avolumar as crises se tornam mais fortes e longas,
ficando evidente a necessidade de uma nova reordenação do mundo. Crises
conjunturais e estruturais se fazem sentir no capitalismo central, enquanto que
no lado soviético uma euforia derradeira prenuncia o colapso. Novos países do centro
capitalista tomam a dianteira do processo de financeirização das estruturas do
sistema, enquanto que o capitalismo americano busca livrar-se das velhas
estruturas produtivas, ao mesmo tempo em que tenta estruturar um novo pacto
econômico, que o garantiria como centro do sistema de forças. E o momento da
grande ascensão dos NIPs (Novos Países Industrializados).
É durante esse período de reestruturação da economia capitalista que o
mundo soviético e o Leste Europeu entram em colapso, forçando uma mudança no
eixo da reestruturação capitalista, principalmente do capitalismo americano,
grande parte assentado na indústria bélica nuclear.
As diferenças
no Mundo do Leste aparecem,
marcadamente, em resposta aos autoritários processos de fusões e unificações
que se exerceram naquele mundo. As diferenças ressurgem buscando, não somente
uma afirmação identitária, mas principalmente, uma afirmação territorial. As
diferenças contidas pela paz armada aparecem nas mais diversas facetas, numa
multiplicidade de cores e credos, que se irradiam rapidamente por todo o
sistema socialista, provocando o colapso em efeito dominó. Os países que
resistem buscam realizar rapidamente profundas transformações no seu interior
para evitar o caos político-econômico, que se verificaria pouco mais tarde.
A última
década do século XX se inicia reclamando uma nova construção. Como testemunho
dessa essência eclodem diversos conflitos étnico-nacionalistas no Mundo do
Leste, enquanto que do lado capitalista o centro do sistema busca criar alternativas
de solução para suas crises para que o mesmo não lhe aconteça.
Os arautos de
uma propalada nova ordem aclamam o capitalismo como o vitorioso na disputa do
“bem contra o mal”, e já anunciam as regras do new deal, a nova palavra de ordem chama-se globalização. O termo é elevado a quintessência e apontado como o
único caminho a ser tomado para se escapar a bárbarie vivida no Mundo do Leste,
ou ainda da falência material dos países que não se submeteram ou foram
excluídos do processo de ocidentalização.
Enquanto que o
mundo, cada vez mais tornado midiático, transforma-se em um simulacro do real,
exigência vital para ocultar as atrocidades cometidas contra centenas de povos
e nações, o discurso de um mundo cada vez mais globalizado toma corpo como
substituto da ordem bipolar anterior. Enquanto isso, o mundo ocidentalizado se
vê invadido por imagens novas e desconhecidas, imagens aterradoras de “lugares
e povos distantes” que aparecem num processo de auto-destruição, esta
provocada, segundo o discurso midiático, pela falência do sistema socialista.
Lugares e
nomes novos aparecem na seara geográfica como que por encanto, lugares que até
pouco tempo atrás pareciam que nem existiam e que a geografia oficial fazia
questão de manter no anonimato, porque eram lugares em que germinava a
diferença, e que portanto, contrariavam a ordem hegemônica. Antigas unificações
forçadas se desfazem, surgindo não só novos lugares como também novos
conflitos. São Chechenias, Bósnias, Herzegovinas, Sérvias, Croácias, Kozovos,
nomes que põem a última pá de areia ao agora “embriagado sistema soviético” de
Boris Yeltsin.
As imagens de
barbárie, fruto da hegemonia midiática, que são transmitidas ao mundo
ocidentalizado, vêm ao encontro dos interesses dos países centrais do sistema
capitalista, pois reforçam o discurso da globalização e a via neoliberal da
execução dessa globalização, como alternativa para salvar o “mundo civilizado”
e levá-lo ao tão almejado “desenvolvimento harmônico das nações”.
Todo o mundo
ocidentalizado se vê obrigado a promover reestruturações em obediência aos
centros de comando do capitalismo mundial, termos como reestruturação produtiva, flexibilização dos circuitos de produção e
trabalho, produção just in time’,
toyotismo, neo-fordismo, assumem a ordem do dia e exigem cumprimento
imediato sob pena de sanções. Os NIPs agora liberados dos sistemas autoritários
correm contra o tempo buscando compensar o tempo perdido abrindo suas
fronteiras ao capital especulativo, no intuito de aumentar os investimentos,
mesmo que isso se faça em detrimento dos circuitos de produção e trabalho
nacionais.
Mas se a
diferença aflorou com toda sua força no Mundo do Leste, a eficácia da nova
ideologia da globalização, veiculada pelos diversos sistemas de telemática
retardam seu aparecimento no mundo ocidentalizado, o que permite que a
reestruturação do sistema se faça sem uma oposição mais evidenciada. A nova
ordem mundial parece se confundir, cada vez mais, com a globalização, enquanto
que o papel dos Estados como únicos gestores dos territórios começa a perder
espaço em função da nova ação pulverizada do capital, que se torna cada vez
mais financeirizado e salta do mundo da produção para o mundo da circulação das
redes de informação.
Assim o novo imago mundi divulgado pelo centro do
mundo ocidentalizado vai assumindo os contornos de um meio técnico-científico informacional, onde os novos circuitos de produção e trabalho
são definidos pelos senhores dessa reestruturação produtiva, os centros do
sistema financeiro mundial, formado pelos 7 países mais ricos do mundo (G-7)
mais as grandes instituições financeiras do planeta.
O novo
rearranjo global subjuga o local para impedir que as diferenças se manifestem.
Os vários acordos estabelecidos nos diversos encontros do G-7 encaminham para a
consolidação de uma nova ordem global, que tem sua expressão espacial nas centralidades territoriais, pois
abandonariam a custódia dos Estados territoriais em favor de uma circulação
tornada mundial e viabilizada pelas novas redes de informação e controle da
produção e do trabalho.
A estratégia
de isolar todos os movimentos locais que questionem o modelo adotado pelo
sistema central do capital, foi adotada como método para garantir a
continuidade do novo projeto, assim estaria controlado no próprio local todo e
qualquer movimento anti-globalização ou até mesmo movimentos que propugnem
modelos de globalização alternativos ao modelo imposto pelo G-7. Assim se cria
a “unanimidade” em torno da globalização do mundo nos moldes impostos pelos
grupos financeiros hegemônicos, uma globalização onde alguns parâmetros são
essenciais, tais como: flexibilização, reestruturação produtiva,
governabilidade, consenso. E movimentos de oposição ao modelo de globalização
imposto começam a surgir nos jardins do
sistema mundial do capital, movimentos estes que são rapidamente
territorializados e isolados, para não permitir o “contágio” de outras áreas do
mundo ocidentalizado, enquanto que o controle da informação se torna peça chave
nesse jogo ideológico, visto que através da informação veiculada se estabelece
o consenso sobre os caminhos a seguir.
As diferenças
no mundo ocidentalizado são traduzidas como arcaísmos, como negações de
desenvolvimento, obsolescências que devem ser superadas pelo mundo tecnológico.
O não-ocidente começa a mostrar sua imagem e sua proposta para o mundo
pretensamente globalizado e midiatizado. Por não-ocidente leia-se os movimentos
e territórios que recusaram a ocidentalização
do mundo, no seu modelo atual - a globalização - como única e inexorável
forma de gestão da existência das sociedades.
A vez do
mundo ocidentalizado se defrontar com suas negações se fez sentir, em escala
mundial, com a Guerra do Golfo. Após esse movimento de negação outros começam a
eclodir para o ocidente do consenso (PETRAS,
1998), assim aparecem o MST, no Brasil e o Movimento de Chiapas, no México.
Todos esses movimentos e guerras são isolados na tentativa de demarcar o seu
caráter local, na expectativa de contê-los no interior de suas fronteiras e
reduzi-los a meros localismos ou regionalismos garantindo a manutenção e
continuidade do processo de globalização.
Esquerdismo
extremismos, fundamentalismos, arcaísmos, são algumas das peças envolvidas no
discurso de desqualificação de movimentos nacionalistas, de movimentos
políticos de oposição, movimentos étnico-religiosos, movimentos locais, a
diferença é novamente posta como ‘inimiga da ordem’, marginalizada e
demonizada. A unanimidade deve ser construída em torno da pedra de toque da
atual fase do capitalismo, a globalização financeira e tecnológica.
O século XXI
nasce reclamando o respeito à diferença e a diversidade multicultural,
religiosa, política; e assim, como no Mundo
do Leste, o ocidente de consenso é
tomado de assalto pelos múltiplos movimentos de negação da ocidentalização, à
uniformidade da globalização tecno-financeira. O desemprego nos países centrais,
o flagelo da miséria absoluta que assola um terço da população mundial, o
desequilíbrio financeiro dos países capitalistas periféricos, o aumento da
distancia entre ricos e pobres, o abandono premeditado do continente africano
às mazelas resultantes de anos de exploração lesiva, a questão ambiental, a
retomada da nuclearização, são fatores que agudizam os reclames e os conflitos
em escala mundial.
Os encontros
do G-7 são marcados por negações, em forma de manifestações, de encontros
alternativos, de pressões multilaterais por parte de ONGs, governos e nações
prejudicadas. Nesse clima da pax
Americana e Mundiale que o
não-ocidente atinge seu ápice na destruição dos simbolos americanos da economia
e do poder.
Assim, o
mundo ocidentalizado vê surgir nas suas telas multimídias novos nomes, lugares
e geografias. Novas demonizações são promovidas na busca de um consenso mortal, reduzindo diferenças
culturais, religiosas e produtivas à imagem da barbárie. Povos e religiões
inteiras são condenados à “vingança do império, o “atraso” precisa ser
extirpado a todo custo em beneficio da paz
global. A imprensa mundial dominante reduz as religiões a ismos e povos inteiros a terroristas, é
o cerco aos homens das cavernas”, como assina a revista de maior circulação nacional,
em sua edição 1721.
Rapidamente o
ocidente assimila as novas imagens e nomes, divulgados na mídia mundial, sem
uma análise mais aprofundada de sua historicidade e territorialidade, como se
bastasse assistir a imagem produzida para deduzir centenas de anos de cultura e
outros tantos de miséria, exploração, muitas vezes criadas e estimuladas pelo
centro do sistema capitalista mundial. A negação da diferença e da diversidade
agora ganha ares de guerra do mundo ocidentalizado contra o não-ocidente, nesse
discurso todas as propostas de oposição ao modelo são elevadas a esfera do
terrorismo anti-americano e anti-globalização.
Afeganistão,
Paquistão, Tadjiquistão, Azerbaijão, são os novos lugares; Cabul, Jalalabad,
Mazar-e-Sharif, Kandahar, são os novos alvos; Laden, Aí Qaeda, Aí Jazeera, os
novos demônios. A regra é só uma,
definida pelo centro do império: “quem não se alinhar ao modelo de mundo
capitalista será considerado terrorista”, assim é a pax Americana que se impõe ao resto do mundo.
O
FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO
As raízes do
fundamentalismo islâmico moderno, estão nos movimentos tradicionalistas
(ortodoxos) que surgem no Egito no inicio do século XX e ganham força após a 28
guerra mundial.
Originalmente,
o terno ‘fundamentalista» surge para designar o surgimento de certas
protestantes norte-americanas ortodoxas a partir do final do século XIX e
início do século XX.
Hoje o termo
designa toda e qualquer linha de pensamento religioso tradicionalista e
liberaliza que procura restaurar valores religiosos em oposição a valores
seculares (modernos) considerados imorais, materialistas, corruptos e
pecaminosos.
Embora o
fenômeno não esteja restrito ao chamado mundo islâmico, o surgimento de
inúmeros movimentos fundamentalistas radicais no mundo islâmico e suas tentativas
de derrubadas de inúmeros governos tem chamado a atenção do mundo ocidental.
O grande marco
do movimento fundamentalista pós 2a guerra foi a Revolução iraniana
de 1979 que com uma forte propaganda ideológica anti-americana e
anti-ocidental, tentou exportar seus valores para o mundo islâmico.
O governo
iraniano chegou a patrocinar a criação de um partido político no exterior o
Hesbolah (Partido de Deus) atuante no sul do Líbano contra a ocupação
israelense da região.
A guerra do
Afeganistão no período 1979-1989 contra a União Soviética foi outro grande
estímulo para o fundamentalismo islâmico.
Foi formado na
época da guerra uma força internacional de guerrilheiros islâmicos os
“mujahedins” para lutar contra a ocupação soviética no Afeganistão. Esta força
internacional era composta por combates, sauditas, egípcios, paquistaneses, e
na época contavam com o apoio do governo norte-americano.
A partir dos
anos 90, grupos de estudantes islâmicos no Paquistão os talibans, conseguem
vencer a guerra etono-civil afegão e instauram um governo teocrático sunita no
país.
Apesar do
sucesso político, o governo afegão só era reconhecido diplomaticamente por 3
países: Paquistão, Arábia Saudita e Emirados árabes.
O surgimento na década de 90 do
grupo fundamentalista radical Aí Qaeda (a base, o fundamento), de Osama Bin
Laden e sua acolhida pelo governo afegão tomam o Afeganistão peça chave na
geopolítica americana de combate ao terror.
A grande
contradição deste novo fundamentalismo islâmico, representado pela Aí Qaeda é
que entre seus financiadores estão membros da monarquia saudita, o maior aliado
americano no mundo árabe.
FATOS RECENTES
IMPORTANTES NO ORIENTE MÉDIO
ANO
|
FATO OCORRIDO
|
1979
|
Revolução Iraniana
|
1980-88
|
Guerra Irã x Iraque
|
1990-91
|
Guerra do Golfo (1º
conflito)
|
11/09/01
|
Ataques ao WTC e Pentágono
|
14/11/01
|
Aliança do Norte (Afeganistão)
controla Cabul
|
GRUPOS ISLÂMICOS RADICAIS
PAÍSES
|
GRUPOS ISLÂMICOS RADICAIS
|
Argélia
|
GIA (Grupo Islâmico Armado)
|
Egito
|
JIHAD AL ISLAMI (Guerra Santa)
|
Palestina
|
HAMAS e JIHAD (Movimento de
Resistência Islâmica)
|
Líbano
|
HESBOLAH (Partido de Deus)
|
A. Saudita
|
AL QAEDA (Base ou Fundamento)
|
Afeganistão
|
AL QAEDA
|
IDÉIAS E IDEOLOGIAS
1- Guerreiros do Islã
"Muçulmanos
que se encontram agora sentados perto da Casa de Deus! Orem por todos aqueles
que resistem aos Estados Unidos e às outras superpotências e que compreendem
que o povo do Iraque apóia nossa Revolução Islâmica. Nossa divergência é com os
Estados Unidos, cuja mão se pode ver junto ao governo do Iraque. Com a graça de
Deus, nossa luta há de continuar. Porque, como já disse inúmeras vezes, somos
um povo guerreiro. Para nós, muçulmanos, a rendição não tem significado
nenhum".
Mensagem do Aiatolá
Khomeini aos peregrinos, 12/09/1980.
02- "Os americanos
precisam saber que a tempestade de aviões não vai terminar e há jovens que
encaram a morte como os americanos encaram a vida".
Mensagem do porta voz da AL QAEDA respondendo ao ataque
americano.
|
3 - "Juro por Deus que a América não viverá em paz antes que a paz reine na Palestina e que o exército de infiéis desocupem a terra de Maomé".
Mensagem de Bin Laden
4- "Quem
for contra o lobby judaico nos EUA corre o risco de ser excluído da vida
política".
Leonardo Dimenstein (autor do livro: O Anti-Semitismo)