RIBAMAR - GEOGRAFIA





UNIDADE 04 – OS CONFLITOS ÉTNICOS ATUAIS
O panorama atual marcado pelo processo de globalização num estágio avançado, ao mesmo tempo que encanta com suas grandes inovações, atemoriza pelo lastro do desemprego. É também dentro desse quadro caótico social a nível mundial, que a questão do renascimento do nacionalismo vem ganhando maiores proporções originando inúmeros conflitos cujo objetivo corresponde ao controle de determinado território para a gestão e exploração levando a materialização dos interesses de cada nação. O estatuo geopolítico em vigor define a disputa entre grandes corporações empresarias para a conquista de novos mercados expressando a hegemonia capitalista, principalmente após a derrocada do socialismo.
“O mundo não é mais apenas, ou principalmente, uma coleção de estados nacionais, mais ou menos periféricos, arcaicos e modernos, agrários e industrializados, coloniais e associados, dependentes e independentes, ocidentais e orientais, reais e imaginários. As nações transformaram-se em espaços, territórios ou elos da sociedade global. Esta é a nova totalidade em movimento, problemática e contraditória.”
(Nação e globalização. Octavio Ianni)
            O século XXI nasce reclamando o respeito a diferença e a diversidade multicultural, religiosa, política; e assim, como no Mundo do Leste, o Ocidente de consenso é tomado de assalto pelos múltiplos movimentos de negação da ocidentalização, à uniformidade da globalização tecno-financeira. O desemprego nos países centrais, o flagelo da miséria absoluta que assola um terço da população mundial, o desequilíbrio financeiro dos países capitalistas periféricos, o aumento da distância entre ricos e pobres, o abandono premeditado do continente africano às mazelas resultantes de anos de exploração lesiva, a questão ambiental, a retomada da nuclearização, são fatores que agudizam os reclames e os conflitos em escala mundial.
As regiões mundiais assumiram novas posturas nas suas relações externas, onde cada compartimento regional passou a apresentar característica específica de acordo com o comércio mundial. Porém, existem ainda algumas partes do globo em que o processo de globalização as tornou áreas inclusivas e excludentes (do ponto de vista econômico), pelo menos por enquanto, por apresentarem baixos mercados. Destaca-se áreas onde minorias explodem buscando autonomia política e que muitas vezes não contam com o apoio das potências ocidentais pelo fato de não expressarem interesses monetários.

 

“NOVA DESORDEM MUNDIAL”

            “Ao contrário do que algumas cabeças pensantes apressadamente imaginaram, a globalização da economia, a internacionalização das instituições políticas e a difusão de uma cultura universal pelas diferentes mídias não eliminaram a realidade do Estado-nação, muito menos a da diversidade cultural. Pior: o separatismo espraiou-se como um rastilho de pólvora, trazendo à tona questões que até  Guerra Fria pareciam adormecidas, como, por exemplo, a identidade, o direito de um grupo e o direito de um indivíduo, contraposto entre si. Se o fantasma da destruição nuclear foi ‘amenizado’, emergiram as múltiplas guerras civis, expressões de velhas rixas étnicas e religiosas.
            A conseqüência aterrorizadora da febre nacionalista foram os genocídios justamente na era em que a humanidade parecia dar mais importância à consolidação dos direitos do homem.”
                                    (Revista Veja. Edição 05/01/00)
1.0 – O povo, o Estado e o poder
A definição de Estado contemporâneo está ligado a uma entidade política, ou seja, pelo estabelecimento de fronteiras territoriais definindo e demarcando um espaço geográfico onde  sobre o mesmo são exercidas as formas de controle através das leis e que são aplicadas por instituições políticas formais que configuram o sistema de poder político. Todos os artifícios elaborados pelo Estado são utilizados para o controle e exercício do poder sobre o território e, portanto, sobre a população, porém defende os interesses das camadas ou classes que controlam o mesmo.  
            O conceito marxista do Estado como instrumento de classe é válido no sentido de duas categorias opostas, os dominadores e os dominados, mas não tem significado universal, absoluto, porque as diferenças regionais indicam níveis distintos de autonomia e de submissão de cada Estado em particular.
            A questão da Nação esta vinculada a povos que viveram histórias comuns e apresentam laços culturais semelhantes, onde nessa população foi produzido um sentimento de identidade nacional. Tal sentimento de identidade nacional consiste na consciência coletiva de um passado histórico e na crença compartilhada de um destino e um futuro também comuns.
             “A nação é uma criação simultaneamente geográfica, econômica, demográfica, cultural, social e política, com todas as características de um processo histórico. Forma-se e transforma-se segundo o jogo das forças sociais internas e externas, modificando-se de tempos, ou continuamente. Simbolizada no Estado-nação, em geral adquire a fisionomia desta ou daquela classe dominante, deste ou daquele bloco de poder. São muitos os que entram na formação e transformação das configurações da sociedade nacional, do Estado-nação, em diferentes épocas, sob distintos regimes políticos, conforme o bloco de poder que se encontre no mundo ou comando.”

1.1 - As fronteiras políticas: materialização dos interesses sociais
O conceito de fronteira pode ser usado para definir o limite de ocorrência de um fenômeno natural ou um outro fator, desde que tenha por base determinada referência.
As fronteiras políticas não derivam da natureza. Mesmo quando coincidem com o curso de um rio ou acompanham os cumes de uma cadeia montanhosa as fronteiras são sempre construções humanas, pois esses marcos naturais foram escolhidos entre tantos outros possíveis para delimitar espaços geográficos especiais, que na linguagem cotidiana chamamos de países. Também as fronteiras políticas delimitam fenômenos dinâmicos. Guerras, tratados, secessões e anexações estão continuamente alterando o traçado das fronteiras políticas internacionais. O planisfério político, a mais comum das representações cartográficas, está em constante mutação.
Estado é uma palavra mais precisa que país para denominar os espaços geográficos unificados por leis próprias e submetidos a um poder político central. Os Estados contemporâneos caracterizam-se pela existência de um corpo burocrático composto de funcionários profissionais espalhados por todo o território e de um aparato militar formado por homens armados e organizados sob um único comando. As capitais revelam a existência de um poder político que organiza a aplicação das leis e pune os infratores. A sede do poder político é a capital que tem a função de abrigar os órgãos de produção e execução das leis e de fiscalização do modo como estas são aplicadas.
As fronteiras definem a extensão geográfica da soberania do Estado. No interior do espaço que delimitam, ou seja, no território nacional, o poder do Estado é soberano. E ele que estabelece as divisões internas (como os estados brasileiros ou os departamentos franceses), realiza os censos, organiza as informações sobre a população e as atividades econômicas, e formula estratégias de desenvolvimento ou de proteção desse território.

1.2  -   A invenção do Estado moderno
A noção de fronteira política foi inventada pelo Império Romano. O limes — uma linha demarcatória dos limites do império — separava os romanos dos “bárbaros”. As célebres legiões romanas protegiam o império, guarnecendo o limes. Estar no interior do espaço demarcado por ele era fazer parte da civilização romana. Estar no exterior desse espaço eqüivalia a ser bárbaro. O termo bárbaro, que englobava num único conjunto uma infinidade de povos, correspondia a urna condenação histórica. Em Roma, fronteira política tornou-se sinônimo de separação entre Nós e os Outros. Entretanto, a noção contemporânea de fronteira política internacional, separando Estados soberanos, teve sua origem muito mais tarde, na Europa pós-medieval, quando se edificaram os Estados territoriais. Durante a Idade Média, o poder político não estava unificado geograficamente, mas encontrava-se fragmentado num mosaico de principados, condados, ducados e domínios eclesiásticos, cada um com suas leis e regras. Os reis não podiam aplicar impostos sem antes obter a concordância das aristocracias regionais. Cada uma das grandes linhagens aristocráticas possuía seu próprio exército. O poder político nessa época não era territorial, mas pessoal. No auge do feudalismo europeu, quando os costumes germânicos obscureceram o direito romano, as leis escritas foram substituídas pelas tradições locais, interpretadas pelo senhor de terras.

1.3  -  As fronteiras coloniais
O Estado contemporâneo foi uma criação da civilização européia. As fronteiras políticas que definem o território dos Estados foram exportadas pelos europeus para o mundo todo, através da colonização.
Nos séculos XVI e XVII, a colonização do Novo Mundo pelas potências mercantis européias criou os fundamentos para a posterior definição das fronteiras nacionais na América. Nos séculos XIX e XX, o neocolonialismo europeu — deflagrado pela Revolução Industrial — traçou fronteiras políticas na Ásia e na África. As potências industriais funcionaram como cartógrafos do mundo contemporâneo, criando fronteiras políticas onde existiam apenas espaços culturais, étnicos ou civilizatórios.
De 1876 a 1915, aproximadamente um quarto da superfície do planeta foi distribuído entre um pequeno grupo de potências industriais. A parte de cada uma delas na dominação dos territórios e mercados do mundo foi determinada por sua força naval, militar e econômica. Assim, o Reino Unido ficou com o melhor quinhão, seguido por França, Estados Unidos, Bélgica e Holanda. A Itália e a Alemanha, recém-unificadas, ganharam apenas algumas migalhas. Portugal e Espanha, os maiores impérios coloniais pré-industriais, mantiveram algumas de suas antigas possessões, pois as novas potências não conseguiram chegar a um acordo sobre a melhor forma de dividi-las entre si.

1.4  -  Além do Estado: as fronteiras estratégicas
A soberania do Estado está circunscrita ao território delimitado pelas fronteiras nacionais. No pIano internacional, não existe um poder geral, um "governo mundial”, capaz de submeter os Estados a suas leis e regras. O sistema internacional de Estados é formado por unidades geopolíticas soberanas que cooperam ou conflitam de acordo com o que definem ser seus interesses particulares. Cada um dos Estados, em tese, desconfia de todos os demais e experimenta permanente sensação de insegurança, justamente pela ausência de um poder geral.
Um dos meios de redução da insegurança é a ampliação do próprio poder, concebido em termos econômicos, territoriais, demográficos, estratégicos, militares ou culturais. Por isso os Estados protegem da concorrência externa setores da economia considerados vitais, financiam a pesquisa e produção de arsenais de armas modernas, difundem por meios oficiais sua língua e seus valores.

1.5 – A Ilusão das Ideologias
“Uma ideologia é constituída por um conjunto de idéias, formando um sistema fechado, no qual os adeptos acreditam encontrar todas as verdades e certezas. Existem tantas ideologias quantos são os grupos sociais, institucionalizados ou não.”
A principal característica de toda ideologia é considerar que só as suas verdades são certas e são boas, negando validade a quaisquer outras. Assim como existe a própria ideologia do Estado, existem outras que se lhe opõem. Dessa forma, o Estado atende os interesses das classes que o dominam. Assim:
- Os aparelhos ideológicos do Estado - Os meios de comunicações.
“Os meios de comunicação de massa não tem independência bastante para escapar à função de reproduzir para o público a ideologia oficial do estado. Todos os segmentos sociais, econômicos, políticos interessados na continuidade do sistema desorganização existente utilizam os meios de comunicação de massa fazendo um coro de pregação das idéias úteis a esse propósito, sejam elas verdadeiras ou não.”
Portanto, a mídia, como um todo, desenvolve grande influência sobre a população verificadas nos aspectos político-culturais, onde na base de tal polarização existe a defesa dos interesses ideológicos impulsionados pelas forças externas e internas. Tal forma de influenciar sobre a população, entre as várias facetas, destaca-se o poder de alienação através de programas que deixa a população despolitizada suficiente para não atrapalhar os interesses das classes que tem o controle estatal ou parceria com o mesmo.

2.0 – A GEOPOLÍTICA QUE ENVOLVE  A  DEFINIÇÃO DAS FRONTEIRAS POLÍTICAS
           
Ao longo da extensão mundial existem inúmeras identidades nacionais o que revela, portanto, diferenciados aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais. Isso reflete na abordagem de várias ideologias, portanto nas diferentes defesas de interesses, de acordo com os agrupamentos sociais, e as paisagens criadas corresponde a materialização dos objetivos.

2.1 - Os principais conflitos
As áreas de ocorrência dos conflitos são várias, no entanto a fim de tornar mais acessível a compreensão, vejamos alguns dos principais conflitos e suas respectivas áreas.










Ø  QUEBEC – CANADÁ



Parte considerável da população da província de Quebec (segunda maior do Canadá), onde predomina a cultura de origem francesa, quer sua separação do restante do país, sua independência para formar seu próprio país. Porém, mais do que uma questão nacionalista/cultural-religiosa, vale lembrar que se trata de uma região rica em recursos naturais como rios e lagos, além de inúmeras florestas; em atividades industriais, além de ser a maior fornecedora de energia elétrica. Montreal é a principal cidade. Em um dos últimos plebiscito realizado com essa finalidade, em 1995, os separatistas quase atingiram seu objetivo. Entretanto, essa aparente tranqüilidade de plebiscito não é linear, pois vale lembrar que durante a década de 1960, ocorreram algumas ações terroristas, como seqüestros de políticos canadenses, por exemplo, realizados por grupos radicais separatistas do Quebec.
NOTA (PP): Atualmente o movimento enfraqueceu, pois como o poder aquisitivo da população é alto, muitos preferem manter-se vinculados ao Canadá para não ameaçar a qualidade de vida que está entre as maiores do planeta.

Ø  CHIAPAS – MÉXICO


O Exército Zapatista de Libertação Nacional - EZLN - luta contra a política neoliberal do governo mexicano, que exclui e marginaliza a população pobre. O EZLN controla parte do sul do país desde 1994, no mesmo dia da assinatura do Tratado de Livre Comércio (NAFTA) com os Estados Unidos, que incorporou finalmente o México no universo neoliberal. Porém, o governo mexicano insiste em integrá-la ao México Neoliberal sem qualquer diálogo e sem resolver os graves problemas sócio-econômicos da região. Há vários conflitos na região envolvendo governo, grupos paramilitares e o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN). Os grupos paramilitares atuam em Chiapas para pressionar o EZLN a se entregar e desistir de seus objetivos. Os guerrilheiros do EZLN vivem escondidos nas montanhas com muitos índios aterrorizados, cerca de 8 mil, que buscam proteção e negociam a paz com o governo mexicano. Para pressionar o EZLN a se entregar, o governo mantém o Exército perto das cidades autônomas impedindo a ajuda de bases de apoio aos zapatistas.
O governo parece não querer compreender que o indígena zapatista prefere morrer lutando, ainda que com um pedaço de madeira nas mãos do que deixar de ser índio e a condição fundamental para ser índio é dispor de terra para cultivar. O que desejam os indígenas de Chiapas? Simplesmente, Justiça, Liberdade e Democracia. Na verdade são povos que desejam autonomia e direitos constitucionais que lhe assegurem a propriedade coletiva das terras indígenas e a manutenção de seus laços culturais. Não desejam a guerra.

Ø  OS CONFLITOS NA COLÔMBIA


No início do século XXI a Colômbia atravessa sua pior crise institucional. Desde meados da década de 1970, o esfacelamento da pequena produção rural, sem condições de competir com as grandes fazendas comerciais, estimulou o plantio de coca. Ocorre que a remuneração oferecida pelos narcotraficantes é infinitamente superior aos ganhos obtidos com as plantações de gêneros alimentícios e as matérias-primas.
O poder dos cartéis do tráfico (Cali e Medellín) tem crescido em escala vertiginosa, envolvendo grande parcela da sociedade colombiana. Nesse mesmo ritmo, milhares de colombianos vão sendo marginalizados pelo agravamento da situação econômica.
Atuam no país alguns grupos revolucionários de linha socialista que aglutinam jovens excluídos e pregam a luta armada como forma de alteração profunda da sociedade. Originalmente, eles se inspiraram na vitoriosa guerrilha cubana comandada por Fidel Castro e Ernesto Che Guevara. Após décadas de luta, muitos grupos perderam seus propósitos iniciais.
Entre os grupos mais conhecidos destacam-se as Forças Revolucionárias da Colômbia – FARC. Seus guerrilheiros controlam uma porção do território a leste e são acusados pelas autoridades colombianas de terem forte ligação com o narcotráfico. Outros grupos merecem ser citados, como é o caso do Exército de Libertação Nacional – ELN e a Autodefesa Unida da Colômbia – AUC.
A atual violência na Colômbia preocupa inclusive o governo brasileiro, uma vez que a área de atuação das guerrilhas – e dos combatentes – está próxima da fronteira brasileira, na região amazônica.
Nesse sentido o governo brasileiro vem estruturando projetos que visam também conter esses riscos ao território nacional. O projeto SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia) tem capacidade de monitorar essa região, observar e tentar prevenir a passagem de aviões do narcotráfico ou detectar desmatamentos feitos por guerrilheiros. Além disso, a Policia Federal lançou o plano Cobra, com o intuito de vigiar os mais de 1.600 Km de fronteira com a Colômbia.
Recentemente, por iniciativa dos EUA, foi implantado o Plano Colômbia, prevendo que os norte-americanos treinem o exército colombiano na luta contra o narcotráfico e as guerrilhas de esquerda. Além disso, os EUA vão emprestar cerca de US$ 1,5 bilhão para reativar a economia das áreas atingidas.

Ø  ESPANHA: UM PAÍS BASCO



A questão basca, ou questão dos bascos, é um conflito territorial e étnico surgido no final do século XV e início do XVI com a unificação da Espanha em um só reino e a anexação da porção sul da região à Espanha e da porção norte da região à França. A principal característica da questão basca é que os bascos lutam para manter sua identidade como povo, sua língua, cultura e modo de vida. Ao invés de serem incorporados e suplantados por outra cultura, como a maioria dos povos que habitaram a Península Ibérica e a Europa.
Em 1959, foi fundada a organização ETA (Euskadi Ta Azkatasuna - Pátria Basca e Liberdade), que luta pela autodeterminação do País Basco e de Navarra, por meio de ações armadas, nas quais os principais alvos são membros da guarda civil e do governo espanhóis, além de atentados terroristas contra civis espanhóis (explosão de carros bombas, o atentado em Madrí...). Nos últimos anos, uma série de concessões foi feita pelo governo espanhol para tentar atender parcialmente às reivindicações sem comprometer a unidade territorial. Parte substancial da população basca é favorável a uma negociação e contrária aos atos armados. Mesmo assim, durante anos a ETA não aceitou nenhuma negociação, a não ser aquela que resulte na formação de um País Basco (Euskal Herria) autônomo.
Em março de 2006, o ETA declarou que cessaria definitivamente as suas ações armadas. O objetivo da organização é abrir diálogo com o governo espanhol para estabelecimento de um estatuto político especial (ou até mesmo a independência) para as Províncias Bascas, além de obter redução de penas e anistia para os presos políticos, porém a trégua durou apenas 14 meses.
Atualmente o Partido Nacionalista Basco (PNV) tenta um acordo com o governo espanhol para a realização até o final de 2008, em caráter consultivo e, até 2010 de forma definitiva, de dois plebiscitos onde o povo basco decidirá sobre o tipo de governo a ser adotado e sobre a relação política entre o País Basco e a Espanha. No entanto, o primeiro – ministro espanhol, José Luis Zapatero, rejeita o plano Ibarretxe, como é chamado o plano lançado pelo PNV. Até lá as expectativas apontam que o ETA deverá decretar mais um cessar fogo como próximo ao plebiscito como manifestação de apoio ao PNV.




Ø  IRLANDA DO NORTE: A UM PASSO DA PAZ



Ali existe um confronto religioso entre católicos e protestantes. O problema começa nos séculos XVI e XVII quando os ingleses tomam as terras dos irlandeses. No mesmo período, protestantes saídos da Escócia instalam-se no norte da Irlanda, uma região chamada de Ulster. A região é então anexada ao Reino Unido, em 1801.
No início do século XX, intensifica-se a luta pela independência da região com a criação do movimento político Sinn Fein. Alguns anos depois, após a criação de um parlamento independente, é fundado o Exército Republicano Irlandês (IRA), que encadeia uma insurreição pela independência. Em 1922, é criado o Estado Livre da Irlanda (EIRE), formado pelos condados sulistas de maioria católica. O norte, de maioria protestante, continua ligado ao Reino Unido. Em 1949 a Irlanda proclama a República, mas a unificação da ilha passa a ser causa nacional.
A partir dos anos de 1960, o conflito no Ulster fica mais sério. Representantes da minoria católica no Ulster reclamam por direitos civis e reforçam a atividade do IRA. Tem início uma guerra civil com atentados terroristas de ambos os lados. O governo britânico chega a intervir e cassa a autonomia do Ulster.
Esta situação fez com que na década de 1970, eclodisse um movimento urbano de protesto, que foi reprimido violentamente, com vários mortos, no Domingo Sangrento (o Bloody Sunday).
O IRA, Exército Republicano Irlandês, braço armado do Partido Sinn Fein, passou a empregar atentados, ações armadas e guerrilha urbana. O governo central inglês ocupou militarmente a província, face à intensificação do conflito inter-comunitário. Os protestantes, por sua vez, também criaram milícias armadas e grupos terroristas. A violência se estendeu por quase três décadas, atingindo inclusive o território inglês, Londres em particular.
Em 1993, Reino Unido e Irlanda concordam que um plebiscito no Ulster deveria decidir o destino da região: continuar vinculada ao Reino Unido ou se integrar à Irlanda. No ano seguinte têm início as negociações de paz. Em 1998, o acordo é assinado. Entretanto, o impasse continuou, pois os protestantes se recusavam a formar um governo com o Sinn Fein, enquanto o IRA não depusesse as armas.
Em Julho de 2005, o IRA anunciou o fim da luta armada contra o domínio britânico na Irlanda do Norte (Ulster). O anúncio da deposição das armas não significa que o IRA tenha abandonado seus ideais. O Exército Republicano Irlandês afirmou que continuará com a luta em prol da reunificação da Irlanda do Norte (controlada pelos ingleses, mas desde 1998 com a autonomia recuperada) com a República da Irlanda. Porém, a estratégia agora será diferente: o IRA pretende fazer uso apenas das vias políticas e democráticas para atingir seus objetivos, deixando de lado as táticas de guerrilha que já provocaram a morte de 3,5 mil pessoas nas três últimas décadas.

Ø  O CONFLITO NOS BÁLCÃS



A origem desses conflitos remonta à 1ª Guerra Mundial, pois com o fim desta, a Sérvia aumentou o seu território e teve o seu nome trocado para Iugoslávia. Foram anexados os territórios da Bósnia-Hezergoniva, da Croácia, da Eslovênia, da Macedônia, de Montenegro e mais a Sérvia (que agregava dois territórios autônomos Kosovo e Voivodjna). Com diversas religiões (cristãos, cristãos ortodoxos, mulçumanos), costumes e línguas, a região dos Bálcãs sempre foi de certa instabilidade.
Depois da 2ª Guerra Mundial, a região organizou-se na forma de uma federação liderada pelo General Josip Broz Tito, que havia comandado a luta contra os invasores alemães. O poder central foi exercido em um partido de regime único, por meio do qual procuraria se diluir as diferenças étnicas e religiosas.
Durante os 35 anos (1945 – 1980) de governo de Tito, os problemas econômicos permaneceram encobertos, e os nacionalismos foram reprimidos. Com a morte de Tito, em 1980, a federação que ele construíra começou a ruir. Em 1988, assumiu o poder o sérvio Slobodan Milosevic, com posições ultranacionalistas.
Os sérvios desencadearam uma política de repressão às outras nacionalidades, culminando com diversos conflitos. Em 1991, a Croácia e a Eslovênia declararam sua independência por meio de plebiscitos. Milosevic tentou reprimir esses movimentos de libertação, mas tanto a Croácia quanto a Eslovênia abrigavam poucas comunidades sérvias.
Em seguida, a Bósnia-Herzegovina também adotou essa resolução, mas cerca de 35% de sua população, origem sérvia, negou-se a aceitar um governo mulçumano. A Sérvia não se envolveu oficialmente no conflito, mas apoiou os sérvios da Bósnia, que iniciaram uma sangrenta “limpeza étnica”, tentando expulsar os mulçumanos de suas terras. O conflito somente foi contido com a intervenção internacional e posterior criação de uma federação multiétnica na Bósnia.
Os europeus e os norte-americanos temiam que os sérvios iniciassem hostilidades com outros povos da região, ampliando as tensões nos limites da rica União Européia. Isso efetivamente aconteceu, e a situação ficou ainda mais grave com o inicio dos conflitos em Kosovo – entre 1996 e 1999, província autônoma da Iugoslávia, habitada por albaneses de religião mulçumana. Os sérvios iniciaram uma campanha de perseguições aos Kosovares, que responderam com uma luta armada liderada pelo ELK (Exército de Libertação de Kosovo).
As tropas da ONU intervieram, mas foi preciso, que posteriormente, a aviação da OTAN atacasse a Sérvia para obrigá-la a pôr fim às atrocidades. Os bombardeios desestabilizaram o governo sérvio, que foi derrubado. O líder sérvio Milosevic foi preso e entregue ao tribunal de Haia, na Holanda, acusado de gravíssimas violações dos direitos humanos, como patrocinar massacres durante o conflito.
Desde então, a região dos Bálcãs vem passando por uma relativa paz interna, mas ainda sim tanto a Bósnia quanto Kosovo, necessitam de monitoramento e proteção internacional.
No início de 2003, a Iugoslávia passou a se chamar União da Sérvia e Montenegro. Porém, no dia 3 de Junho de 2006, Montenegro declarou independência junto à Sérvia e no dia 5 de Junho a Sérvia declarou independência, pondo fim ao ex-Estado europeu da Sérvia e Montenegro.
Mais recentemente - Fevereiro de 2008, o Kosovo também declarou sua independência, ato não reconhecido pelo governo da Sérvia (nem pela Rússia, aliada histórica dos sérvios), que ameaça cortar relações diplomáticas com os países que venham reconhecer a independência dos kosovares.

Ø  O BARRIL DE PÓLVORA CAUCASIANO



A região do Cáucaso é uma área montanhosa que apresenta grande complexidade étnica, nacional, religiosa e lingüística. A região em questão se estende por uma área composta por conjuntos montanhosos (alguns chegando a mais de 5.000 metros de altitude), planaltos e vales fluviais situada entre os mares Negro e Cáspio.
Quanto aos Estados localizados na região temos o seguinte desenho político: em sua porção sul, área que os russos chamam de Transcaucásia, está o Cáucaso não-russo. Ali se localizam as repúblicas da Geórgia, da Armênia e do Azerbaijão que, até 1991, eram parte integrante da antiga União Soviética. Com a desintegração da URSS, estas três repúblicas tornaram-se países independentes e hoje fazem parte da CEI (Comunidade de Estados Independentes). Na porção norte do Cáucaso, denominada de Ciscaucásia, encontram-se 8 repúblicas e regiões autônomas que fazem parte da Federação Russa. Dentre elas estão as repúblicas da Chechênia e da Ossétia do Norte, abrigando cerca de 25 milhões de pessoas.
O Cáucaso se constitui numa zona de contato e confronto de duas "civilizações": de um lado a eslavo - ortodoxa, representada por populações de origem russa ou "russificadas" (como os ossétios) e a islâmica, de influência turca ou iraniana, composta por mais de vinte povos, dentre os quais se destacam os chechenos. Grande parte do traçado das fronteiras existentes na região do Cáucaso é arbitrário e artificial e foi em grande parte estabelecido entre 1922 e 1936 pelo ditador soviético Josef Stalin. Nos últimos anos, conflitos e tensões geopolíticas vêm se verificando com freqüência tanto na Transcaucásia, como na Ciscaucásia.
Na primeira, ocorreu o conflito entre a Armênia e Azerbaijão, por conta da disputa do território de Nagorno Karabakh, região do pertencente ao Azerbaijão, mas habitado majoritariamente por armênios. Na Geórgia, os conflitos e tensões têm sido internos, onde duas regiões, a da Abkházia e da Ossétia do Sul, buscam o caminho do separatismo.
Na Ciscaucásia, a principal questão envolve o conflito entre a Rússia e a Chechênia. A configuração do relevo desempenha um importante papel na separação das áreas que compõem o conjunto montanhoso do Cáucaso. Assim, tanto nas áreas mais elevadas como nos planaltos, os vales definem pequenas unidades territoriais onde, ao longo da história, diferentes grupos se estabeleceram. Esse espaço extremamente fragmentado física e politicamente é local de enfrentamentos entre comunidades diferentes, algumas delas possuindo rivalidades muito antigas.
No Cáucaso além dos conflitos, se superpõem inquietações permanentes a respeito do controle dos vales, das águas, das vias de comunicação e também de oleodutos que atravessam a área, a qual apresenta importantes jazidas do petróleo, especialmente no Azerbaijão, junto ao mar Cáspio.
Esse país, por conta de sua riqueza petrolífera, poderá a vir se tornar um "novo Kuait", não tem acesso a mares abertos. Assim, o petróleo extraído na região de Baku, junto ao Mar Cáspio (um mar fechado), tem que ser escoado através de oleodutos para mares "abertos" mais próximos como o Negro e o Mediterrâneo. Até 1991, o problema do escoamento praticamente não se colocava, pois o petróleo era produzido no Azerbaijão, então uma das repúblicas da URSS, os oleodutos e os portos que escoavam o produto estavam em território soviético. Dado importante: um dos mais antigos e importantes oleodutos, construído ainda na época da URSS, cruza o território da Chechênia.
Com a desintegração da URSS, o Azerbaijão ficou independente e passou a ser dono de seu petróleo. Próximos ao Azerbaijão estão duas ex-repúblicas da antiga Ásia Central soviética (Cazaquistão e Turcomenistão) que apresentam expressivas reservas de petróleo e gás natural e são também países que não têm acesso direto ao mar.
Na última década, as regiões da antiga Ásia Central soviética e do Cáucaso vêm assistindo uma acirrada disputa pela construção e traçado de novos oleodutos e gasodutos que envolvem três protagonistas: os Estados produtores, os países desejosos em "ceder" seus territórios e portos para o escoamento dos hidrocarbonetos e, é claro, as grandes transnacionais do petróleo.
Resumindo: por conta de sua importância geoestratégica e geoeconômica é que, tanto o antigo Império Russo, a ex-URSS e a Rússia atual sempre tentaram impor seus interesses na turbulenta região do Cáucaso.
                                                          
Ø  OS CONFLITOS AFRICANOS

Esses conflitos, classificados genericamente de étnicos e que eclodem periodicamente em países da África Subsaariana, principalmente, têm como tônica o envolvimento de povos vizinhos, cujas características são mais ou menos parecidas, isto é, disputa pelo controle do território e conseqüentemente dos recursos naturais. Alguns desses conflitos são esporádicos e duram alguns dias ou semanas, como tem acontecido na Nigéria.
Outros, no entanto, como na África Centro-Oriental (Planalto dos Grandes Lagos), no Sudão (região de Darfur), na Somália, no Congo, mas também na África Ocidental (Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim), são bem mais graves e persistentes podendo durar vários anos e têm sido responsáveis por milhões de vítimas. Na maior parte dos casos, os conflitos são internos, entre populações mais ou menos próximas, muitas vezes misturadas, como é o caso de tutsis e hutus em Ruanda, Burundi e Uganda.
Todavia, têm sido cada vez mais comum que esses conflitos acabem envolvendo países vizinhos, como o que ocorreu recentemente na República Democrática do Congo (ex-Zaire) onde forças armadas de Ruanda, Uganda, Zimbábue e Angola não só tomaram partido das facções congolesas em luta, como acabaram se enfrentando em pleno território congolês.
A novidade dos conflitos recentes é que eles não são mais explicados apenas por razões geopolíticas de grande envergadura (tipo capitalismo x socialismo), como acontecia no tempo da Guerra Fria. Observe o mapa abaixo, com a localização dos principais conflitos no continente africano.



Por outro lado, a ação de grupos fundamentalistas islâmicos, fenômeno que pode ser considerado de grande envergadura no início do século XXI, têm importância pequena ou quase nula no contexto geopolítico do centro-sul do continente. Vale ressaltar que na região da bacia do Congo e do Planalto dos Grandes Lagos, o número de muçulmanos é bem pouco expressivo e é justamente nessas regiões que os conflitos têm sido mais mortíferos e duradouros.
Não se pode também entender os conflitos da África Subsaariana sem se levar em conta a extrema diversidade étnica e lingüística da região e, sobretudo, não se deve esquecer que nessa parte do mundo o tráfico negreiro durou cerca de três séculos. Esse evento histórico deixou marcas profundas no relacionamento entre grupos "capturados" e "captores" que o tempo não tem conseguido apagar.
A multiplicação dos conflitos pode ser explicada também pelo crescimento demográfico dos diferentes grupos étnicos e pela necessidade de cada um deles em estender suas terras cultivadas para compensar os efeitos da degradação dos solos. A exacerbação dos conflitos entre hutus e tutsis em Ruanda resultou, parcialmente, da luta por terra férteis num pequeno país cuja densidade demográfica é de aproximadamente 300 hab/km².
Os recentes conflitos africanos ensejaram o surgimento ou realçaram a ação de novos e antigos personagens. Se durante a Guerra Fria as figuras mais importantes dos conflitos eram militares ou homens públicos, hoje seus papéis são, de maneira geral, secundários.
Três personagens emblemáticos nos conflitos atuais merecem destaque: o senhor da guerra, a criança-soldado e o refugiado.
O senhor da guerra normalmente não pertence ao grupo que está no poder, mas é muito poderoso. Ele é ao mesmo tempo um combatente, um aproveitador sem escrúpulos e um traficante. Combatente, pois é líder de grupos armados. Suas vitórias lhe dão prestígio e seu interesse é prolongar o conflito pelo maior tempo possível. Ele é também inescrupuloso porque se vale compulsoriamente dos recursos da população civil e, eventualmente, interfere ou impede a ação de organismos internacionais de ajuda humanitária.
Como traficante, o senhor da guerra participa dos circuitos ilegais de comércio, facilitando o tráfico de drogas, armas e outros produtos como pedras preciosas. Para esse personagem as atividades militares e criminais estão intimamente ligadas. Um dos mais importantes senhores da guerra na África foi o líder da UNITA, Jonas Savimbi, que durante quase três décadas dominou amplas áreas de Angola, até ser morto em combate em 2002.
Outro personagem dos conflitos atuais é a criança-soldado. Muitas vezes ela tem menos de dez anos e, embora não existam dados confiáveis a respeito, acredita-se que na África existiam pelo menos 200 mil delas. Seu "alistamento" quase sempre acontece de forma brutal. Após ter sido testemunha de atrocidades cometidas contra seus parentes, ela acaba sendo levada, "criada" e treinada pelos algozes de sua família.
O desenvolvimento de armas cada vez mais leves pela indústria bélica tem facilitado a ação dessas crianças que, com certa freqüência, encaram os combates como se estivessem participando de uma brincadeira de "guerra".
Já o refugiado não tem sexo ou idade; pode ser um homem, uma mulher, uma criança ou um idoso, que foram obrigados a deixar o local onde viviam para escapar da guerra e de seu cortejo de horrores. Seu número aumentou consideravelmente nas últimas duas décadas. Uma parcela significativa deles é composta por refugiados internos, isto é, pessoas que saíram ou foram expulsas de seu local de origem, mas não atravessaram fronteiras internacionais.

Cerca de 30% dos refugiados do mundo atual encontram-se em solo africano, principalmente em duas áreas. Uma na África Ocidental, por conta dos conflitos em Serra Leoa, Libéria e Costa do Marfim e outra na porção Centro-Oriental do continente, num amplo arco norte-sul que se estende do Sudão, passa pela região do "chifre" africano e envolve a região dos Grandes Lagos.

ü  PRINCIPAIS CONFLITOS INTERNOS
·        Nigéria: O conflito entre cristãos ao sul e muçulmanos ao norte faz parte do cotidiano da Nigéria. A Nigéria é o principal exportador de petróleo da África, mas a esmagadora maioria da população, de 112 milhões de pessoas, vive na pobreza. As péssimas condições de vida são responsáveis por boa parte das tensões religiosas do país, composto de cerca de 250 grupos étnicos;
·         Ruanda e Burundi: Conflitos entre Ruanda e Burundi, na região dos Grandes Lagos Africanos, já deixaram mais de 1 (um) milhão de mortos, em consequência da antiga rivalidade entre as etnias tutsi e hutu;
·        Somália: A Somália não tem um governo efetivo, não há nenhum serviço público e nenhuma força de segurança. Esta situação se prolonga desde 1991 quando os "senhores da guerra" derrubaram o ditador Mohamed Siad Barre, provocando o colapso do Estado e a guerra civil. O conflito ocorre entre grupos insurgentes islâmicos acusados de ter ligação com a Al Qaeda e forças do governo apoiadas por tropas etíopes, que tentam manter o controle sobre a capital Mogadício.
·        O Massacre de Darfur (Sudão): Darfur é uma região maior que a França localizada a oeste do Sudão, o maior país da África, espalha-se pelo Deserto do Saara, savanas e florestas tropicais. O conflito na região confunde até experientes diplomatas, mas o fato é que desde 2003 dois milhões de pessoas já abandonaram a região e 250 mil desde agosto de 2006, desestabilizando países vizinhos como o Chade. Em quatro anos este conflito já teria causado a morte de 400 mil pessoas. Na raiz desse "conflito étnico" estão uma disputa por petróleo entre povos nativos não-árabes (SLA – exército de libertação sudanesa) e povos árabes (milícia janjawid) - estes últimos apoiados pelo governo sudanês. Além disso, é notória a omissão calculada de países como, EUA, China e França, não por acaso, o Sudão é o segundo parceiro comercial da China no continente africano e Pequim compra 65% do petróleo sudanês. São chineses os fuzis que matam em Darfur.
·        Congo: A República Democrática do Congo (ex-Zaire) é palco de conflitos por conta de rivalidades étnicas e também pela briga por recursos naturais. Os confrontos no país africano têm raízes em um genocídio em Ruanda, ocorrido em 1994. O confronto, iniciado em 1998, ficou conhecido como a "Guerra Mundial da África". De lá pra cá, mais de 4 milhões de pessoas perderam suas vidas e outras milhares refugiam-se nos países vizinhos. Uma investigação realizada pela ONU em 2001 sobre a exploração ilegal dos recursos naturais do Congo descobriu que o conflito no país virou, em grande parte, uma guerra para obter "o acesso, o controle e o comércio" dos cinco principais recursos minerais encontrados no Congo: diamantes, cobre, cobalto, ouro e nióbio.
·        Angola: Após a Angola conquistar a independência de Portugal em 1974, três partidos lutaram para ter o poder do país: o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e a FNLA (Frente Nacional para a Libertação de Angola), que acabou se unindo à UNITA. Hoje, o MPLA é o governo reconhecido internacionalmente, com o presidente José Eduardo dos Santos, e domina a capital, Luanda, e a produção de petróleo. A UNITA, por sua vez, domina a maior parte do país e a produção de diamantes. No dia 31 de março de 1991, a MPLA e a UNITA assinaram um acordo de paz que previa eleições livres, supervisionadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) no ano seguinte. No entanto, após a vitória da MPLA, a UNITA contestou os resultados da votação e reiniciou a guerra civil em outubro de 1992. Os conflitos internos deixaram cerca de 500 mil mortos e 10 milhões de minas espalhadas pelo território angolano.
·        Argélia: A Argélia é um país árabe do norte da África que sente a volta do ambiente de terror que dominou este país nos anos 1990, marcado por conflitos entre o Exército e grupos islâmicos radicais. Em janeiro de 2007 o Grupo Salafista para a Predicação e o Combate (GSPC) passou a se chamar Al Qaeda nos Países do Magreb Islâmico, assumindo a autoria de uma série de atentados. Em um comunicado divulgado na internet afirmou a Al Qaeda nos Países do Magreb "Não estaremos em paz até liberarmos toda a terra do islã que está com os cruzados e com os apóstatas, e até que tornemos a pôr os pés na nossa Andaluzia espoliada e no nosso Al Quds (Jerusalém) violado". O grupo Al Qaeda nos Países do Magreb tem entre 500 e 800 membros na Argélia, Mauritânia, Mali e Níger.

Ø  ÍNDIA: DIVERSIDADE ÉTNICA E CONFLITOS


ü  CAXEMIRA

Índia e Paquistão são ex-colônias britânicas. Em 1947 conseguiram independência. Os ingleses repartiram a região de acordo com a religião das maiorias. Assim surgiu a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana. O controle sobre a região da Caxemira foi causa de duas das três guerras (1948-1949, 1965 e 1971) já travadas entre Índia e Paquistão desde 1947.
A região da Caxemira continua dividida entre a Índia e o Paquistão. Os dois países abrandaram a retórica dura recentemente, mas nenhuma das partes parece estar pronta para um acordo. Instabilidades político-econômicas no Paquistão poderiam facilmente deflagrar um conflito. A Caxemira é uma região montanhosa ao norte dos dois países. Grande parte da população da região é muçulmana e quer a anexação ao Paquistão, que a Índia nega. O Paquistão reivindica o controle total da Caxemira sob o argumento de que lá vive uma população de maioria islâmica -- a mesma do país. Já a Índia tem uma população majoritariamente hindu.
Os enfrentamentos costumam se intensificar nos meses de verão. Nessa época, com o derretimento da neve em porções da cordilheira do Himalaia, os separatistas islâmicos têm mais facilidade para se infiltrar na Caxemira indiana, vindos de solo paquistanês. Nas lutas entre os grupos que envolvem os dois Exércitos e guerrilheiros pró-Paquistão, desde 1989, mais de 40 mil pessoas já morreram.
Segundo o governo indiano, esses grupos recebem o apoio financeiro do Paquistão, que diz apenas ampará-los politicamente. A rivalidade levou a uma corrida armamentista que culminou com a entrada de Índia e Paquistão, em 1998, no clube dos países detentores de armas nucleares. Ambos desenvolveram ao máximo sua infra-estrutura militar. Desde então, as hostilidades na Caxemira passaram a ser acompanhadas com mais atenção pela comunidade internacional.

ü  PUNJAB E A QUESTÃO DOS SIKHS

Os sikhs são membros de uma seita religiosa que defende a fundação de um país independente no Estado do Punjab, noroeste da Índia. Desde a infância os membros dessa comunidade recebem formação religiosa e militar. Muitos deles fazem carreira, ocupando postos de importância no Exército e nos serviços de segurança indianos. O Sikhismo é uma ramificação do HINDUISMO e do ISLAMISMO, resultado de um agudo conflito entre os séculos 12 e 15.
O movimento hindu BHAKTI e o islâmico SUFISMO encontraram compatibilidade em certos elementos comuns aos dois. Em 1947 ocorreram grandes mudanças culturais e demográficas, quando a Índia tornou-se independente. A terra foi repartida no que atualmente é o Paquistão, no norte e oeste; e a Índia ao leste e sul. Devido ao confronto entre os grupos religiosos 2,5 milhões de sikhs foram obrigados a abandonar o Paquistão e mudar-se para a Índia. Isso ocasionou mais violência, quando os muçulmanos, por sua vez, mudaram-se para o Paquistão.
Os sikhs, por causa de seu crescimento, sempre desejaram constituir uma nação independente, o que gerou continuas explosões de violência contra o governo, que culminou com o ataque do exército indiano em junho de 1984, contra HARIMANDIR, o santuário sikhs mais sagrado. Em outubro do mesmo ano, a primeira ministra Indira Gandhi foi assassinada por dois de seus guarda-costas. Isso intensificou a tensão entre sikhs e hindus, e precipitou mais violência.
Essa tensão diminuiu em 1989, quando o primeiro ministro Rajiv Gandhi anunciou que todos os militantes sikhs presos depois do ataque de 1984 seriam soltos. Os sikhs ainda lutam pela formação de um estado independente e ataques isolados de extremistas ainda ocorrem na região, porém a Índia não aceita o separatismo, pois isso poderia ocasionar uma série de outras tentativas fragmentadoras, visto a multiplicidade étnica e religiosa indiana.

ü  O NORDESTE DA ÍNDIA: “NOVO” FOCO DE CONFLITOS

Embora essa porção do continente indiano seja conhecida de forma genérica pelo nome de Assam, ela é constituída por sete estados da União Indiana: Assam, Manipur, Megalaia, Mizoran, Nagaland, Tripura e Arunachal Pradesh. Esse espaço apresenta grande complexidade etno-cultural, sendo sob este aspecto uma espécie de Índia em miniatura, concentrando numa superfície reduzida do país (8% do território) graves contradições e divisões. Com cerca de 25 milhões de habitantes, essa região da Índia é local de encontro de diferentes culturas que mantém entre si um equilíbrio bastante delicado. São ali encontradas culturas com características tipicamente ”himalianas” como a tibetana e nepalesa, ao lado de grupos marcadamente hindus como o hindi e o bengali. Além disso, a heterogeneidade é ainda mais acentuada pela presença de cerca de 300 grupos tribais, muito diferenciados quanto à sua origem étnica, identidade lingüística e diversidade religiosa. Sob o ponto de vista religioso existem nessa área populações que professam o budismo, o hinduísmo, o islamismo, o cristianismo e até grupos ligados à crenças ancestrais (animistas). Essa enorme diversidade humana é resultado de uma evolução histórica marcada por invasões, assimilações e migrações. Nas últimas décadas sucessivas ondas migratórias, oriundas especialmente de Bangladesh (país dos bengalis, onde a população é predominantemente mulçumana), têm aguçado ainda mais as tensões interétnicas. Os cenários de violência na área podem ser constatados pela ocorrência de uma dezena de conflitos de intensidade e periodicidade variáveis, que fizeram mais de 10 mil vítimas nas duas últimas décadas, mas que não mereceram destaque na mídia internacional.
Caxemira, Punjab e região do Assam. Apesar dessas questões que ameaçam sua unidade territorial, a Índia continua a ser maior democracia do mundo.

Ao mesmo tempo, o país tem sido colocado, juntamente com o Brasil, a Rússia e a China, como parte integrante dos BRICs (sigla que identifica cada um dos quatro países por suas primeiras letras), grupo de nações que terão, nas próximas décadas, grande relevância no cenário internacional.

Ø  CONFLITOS NO SRI LANKA



Sri Lanka (antigo Ceilão) destaca-se na produção de pedras preciosas. É o maior exportador mundial de chá. Localizado ao sul da Índia, possui montanhas escarpadas no centro e planícies férteis ao norte. Trata-se de um país com 19 milhões de habitantes, e que pouco depois de sua independência da colônia britânica, em 1948, tornou-se palco de um conflito entre cingaleses budistas, que representam 75% da população e a minoria tâmil, aproximadamente 13% dos habitantes, de origem hindu, que protestam contra a discriminação e a falta de oportunidades para ingressar no mercado de trabalho.
Os Tâmis, através dos tigres de libertação da pátria tâmil (LTTE) concentram-se no extremo norte do país (distrito de Jaffna) e desenvolvem intenso movimento separatista, que inclui terrorismo e sabotagem. Sua principal reivindicação consiste no separatismo de Jaffna, em relação ao Sri Lanka.

Ø  A QUESTÃO DOS CURDOS



Os curdos são a maior nação oprimida sem Estado do mundo. Os 26 milhões de curdos conformam o quarto maior grupo étnico do Oriente Médio, depois dos árabes, dos turcos e dos persas.
Na Turquia, com 14 milhões, representam 20% da população, no Irã, com 6 milhões, e na Síria, com 1 milhão, sendo 10%. No Curdistão iraquiano são 5 milhões. Sua dispersão geográfica é subproduto das fronteiras estabelecidas pelas potências imperialistas européias à saída da I Guerra Mundial após a dissolução do Império Otomano. Esta política de opressão das minorias nacionais tem seu principal alvo nos curdos que sempre foram reprimidos na Turquia e outros países da região com a cumplicidade do imperialismo, negando a eles os seus direitos mais elementares, diretos democráticos.
Isto explica a popularidade que ainda mantém o PKK (Partido de trabalhadores do Curdistão). Este partido tem origem maoísta, sendo formada em 1978 sob a direção de Abdullah Ocalan, que empreende uma campanha violenta contra o Estado turco. A sua prisão em 1999 é um duro golpe, que leva tal organização a declarar um cessar-fogo unilateral e a revisar suas reivindicações, como a demanda por autonomia, ao invés de independência. Este cessar-fogo é rompido pelo PKK em 2004. Estima-se que haja 37.000 mortes desde 1980, em enfrentamentos entre o PKK e o Estado turco.
O problema curdo explodiu no cenário mundial. Sua importância é bem sintetizada pelo seguinte comentário do Los Angeles Times: “Até o presente, a questão curda era um problema turco, sírio, iraniano e um problema iraquiano. A invasão norte-americana no Iraque o converteu também em um problema norte-americano – e dos mais penosos nos tempos atuais. A incapacidade de bloquear o terrorismo curdo alteraria com razão cinqüenta anos de relações sólidas entre os Estados Unidos e a Turquia”.

Ø  CONFLITOS NA INDONÉSIA


A Indonésia, país do sudeste asiático, é um arquipélago formado por mais de 17 mil ilhas entre os oceanos Índico e Pacífico, sendo o mais extenso arquipélago do planeta. Sua população, a quarta maior do mundo, com cerca de 220 milhões de habitantes e é composta por cerca de 300 etnias que falam mais de 500 línguas e dialetos diferentes. Convertida ao Islamismo desde o séc. XV, a Indonésia convive com conflitos envolvendo a maioria muçulmana e as minorias cristãs e hinduístas.
Movimentos separatistas e confrontos entre migrantes e nativos de algumas ilhas também têm sido comuns ao longo da história. Grande parte dos conflitos é resultado da política de transmigração adotada pelos colonizadores holandeses no início do séc. XX para reduzir o superpovoamento de algumas ilhas, como Java e Madura, que concentravam cerca de 80% da população, índice que foi reduzido para cerca de 60% no final da década de 1990.
A luta pela posse da província de Aceh, entre governo indonésio e rebeldes separatistas ocasionou um dos conflitos mais longos da Ásia durante quase três décadas. Pelo menos 15 mil pessoas morreram durante a luta armada iniciada, em 1976, pelo GAM (Movimento Aceh Livre), que tentava estabelecer um Estado islâmico independente no antigo sultanato rico em petróleo. Porém em 2005, na capital finlandesa, Helsinque, foi assinado um acordo de paz entre as partes envolvidas.
O "Memorando de Entendimento", concluído no dia 17 de Julho de 2005, previa o desarmamento e a desmobilização das forças do GAM, além da retirada das tropas e polícias do Governo na região. Através deste acordo, o GAM comprometeu-se a renunciar às suas reivindicações de independência, podendo assim constituir-se em partido político, em 2006. Em troca, o Executivo de Jacarta concederá à região uma vasta autonomia e anistiará os guerrilheiros separatistas.

Ø  O CASO DAS FILIPINAS



A atividade de grupos terroristas islâmicos separatistas é o principal conflito deste país asiático. Os grupos islâmicos Abu Sayyaf e a Frente Moro de Libertação Islâmica (FMLI) desafiam o governo filipino reclamando um Estado independente em Mindanao. A delicada economia segue deteriorando-se há várias décadas, uma situação paga principalmente pelas classes mais pobres.
Esse processo é especialmente grave na Ilha de Mindanao, a mais rica em recursos minerais e agrícolas, na qual sete em cada dez famílias vivem abaixo da linha da pobreza e a renda per capita é seis vezes menor que a da média nacional. Este arquipélago, situado na parte meridional do país, é tradicionalmente muçulmano, ao passo que o catolicismo impera nas outras ilhas Filipinas.
Durante os anos 1980, o governo facilitou a entrada de milhões de fazendeiros cristãos no resto do país, situação que deixou em minoria os muçulmanos e incrementou a escassez de recursos e as tensões separatistas.
As táticas da milícia de Abu Sayyaf, sem dúvida a mais sangrenta de todas, inclui atentados e seqüestros, principalmente de turistas, com os quais consegue grandes quantidades de dinheiro. Sua ação mais famosa foi o seqüestro em abril de 2000 de 21 pessoas, em sua maioria estrangeiros. A liberação de reféns levantou 28 milhões de euros para a guerrilha. Outros não tiveram tanta sorte: mais de 100 reféns da milícia foram decapitados. Ainda que a solução mais provável para o fim dos conflitos seja a acabar com a miséria do país, a estratégia do Exército das Filipinas, assessorado por militares norte-americanos, continua ser entrar em guerra contra as facções armadas. 

Ø  O SEPARATISMO TIBETANO



Localizado numa posição estratégica, o Tibet se constitui num território de grande importância geopolítica para a China, pois dali, o controle do sul da Ásia e de parte da Ásia central fica mais fácil, além de estar numa altitude média de 4,5 mil metros acima do nível do mar, apelidada assim, de o “teto do mundo” (cordilheira do Himalaia – onde situa-se o ponto mais alto do mundo, o Everest - 8.850 metros).
No sul da Ásia, a China tem sido obrigada a lidar com uma política de aliança entre os EUA e Índia – uma nação emergente e provável rival. Contudo o governo chinês mantém boas relações com o Paquistão, aliado estratégico que possibilita acesso ao oceano Índico.
Quanto à Ásia central, o governo chinês necessita preservar rotas que abastecem o país de petróleo e gás natural, oriundos principalmente do mar Cáspio, evidenciando, dessa forma, a importância geopolítica tibetana.
Aliado a isso, o Tibet possui uma enorme reserva florestal, que aos olhos da China é vista como grande potencial bioenergético, além de possuir jazidas de cromo, cobre, bórax, urânio, lítio, ferro, cobalto, entre outros. Outro fator relevante é que o Tibet tem grande disponibilidade de água, onde se localizam as nascentes dos principais rios asiáticos. É o caso do Yang-tse-kiang (rio Azul), Hoang-ho (rio Amarelo), Mekong, Indus, Brahmaputra, Saluen, Ganges, entre outros, correspondentes a cerca de 30% dos recursos hídricos da China.
E, se não bastasse tudo isso, a perda do Tibet criaria um precedente enorme aos grupos interessados em sua independência da China, podendo, portanto, servir de exemplo a outros separatismos internos.
A China ocupa o Tibet há mais de 50 anos. Uma das conseqüências dessa ocupação chinesa é a existência de mais de cem mil refugiados tibetanos pelo mundo. Até hoje, as Nações Unidas nunca expressaram algum protesto significativo contra a ocupação do Tibet (lembrar que a China é membro permanente no conselho de segurança da ONU, possuindo poder de veto).
O governo chinês vem construindo prédios, realizando obras e substituindo a tradicional arquitetura tibetana por uma arquitetura moderna, deixando assim as províncias do Tibet cada vez mais semelhantes às cidades chinesas, ameaçando assim a cultura e religião dos tibetanos.
Portanto, de acordo com o que foi escrito anteriormente, ficou evidente que o objetivo chinês não é somente modernizar o Tibet na busca de uma maior prosperidade da região e assim, eventualmente conquistar o apoio dos tibetanos à administração chinesa, como alega o governo central da China.

Ø  OS CONFLITOS ÁRABES-ISRAELENSES

Os conflitos que hoje assolam o Oriente Médio têm diferentes motivos. O principal deles diz respeito ao território: israelenses e palestinos lutam para assegurar terras sobre as quais, segundo eles, têm direito milenar. Outra questão diz respeito à cultura e à imposição de valores ocidentais às milenares tradições orientais. Pode-se ainda mencionar o fator econômico - talvez o preponderante: potências capitalistas desejam estabelecer um ponto estratégico na mais rica região petrolífera do planeta. E ainda existe a questão política.
As tensões perduram há séculos. Expulsos da Palestina pelos romanos já no século I da Era Cristã (Diáspora Judaica), os judeus acalentaram durante séculos o sonho de retornar à "Terra Prometida", enfrentando todo tipo de discriminação e perseguição. Todavia, o território, durante sua ausência, foi ocupado por outros povos que, igualmente, sentem-se no direito de nele permanecer de modo autônomo. Durante o domínio britânico sobre a região, os ingleses permitiram a compra de terras na Palestina por ricos judeus de todo mundo que começaram a reocupar a região. Essa maciça migração de judeus para a Terra Santa chamou-se Sionismo, em referência à Colina de Sion, em Jerusalém.
Os ingleses após a Primeira Guerra Mundial comprometeram-se a ajudar os judeus a construir um Estado livre e independente em território palestino, buscando, assim, enfraquecer os árabes e conquistar vantagens econômicas na região.
Entre os anos 1930 e 1940, intensificou-se consideravelmente a imigração judaica para a Palestina, mesmo porque, a ascensão nazista na Europa causava grande temor entre os judeus. O descontrolado ingresso de judeus na Palestina acarretou sérios problemas já às vésperas da Segunda Grande Guerra: as áreas de assentamentos judaicas (Kibutzin) e as áreas palestinas, não foram delimitadas e grupos de características étnicas e religiosas tão diferentes tiveram que compartilhar o mesmo território, de onde resultam graves hostilidades entre ambos.
Desse modo, depois da implacável perseguição nazista durante a Segunda Guerra Mundial, os judeus viram concretizado o sonho de voltar a ter seu próprio país. Em 1947, diante do agravamento das tensões na região, a ONU decidiu pela partilha da Palestina em duas áreas: a judaica e a palestina, onde o Estado de Israel abrangia cerca de 14 mil Km² e uma população de aproximadamente 700 mil habitantes, enquanto que os Palestinos ficariam com a menor porção do território, cerca de 11,5 mil Km² e uma população superior à 1,3 milhões de habitantes.
Com a retirada britânica em 1948, nasceu oficialmente o Estado de Israel, gerando novas reações dos árabes, que viviam nessa zona há séculos e negavam-se a aceitar a nova entidade política. Começava, assim, a primeira guerra árabe-israelense.

ü  AS ETAPAS DOS CONFLITOS

·        O PROBLEMA PALESTINO E AS PRIMEIRAS GUERRAS ÁRABE-ISRAELENSES



A oposição da Liga Árabe à decisão da ONU gerou o primeiro confronto militar entre Israel e os países árabes. Um dia após a retirada das forças britânicas e da proclamação do nascimento de Israel, as forças aliadas árabes do Iraque, Egito, Líbano, Síria e Jordânia atacaram o jovem Estado. As lutas duraram até janeiro de 1949, quando as tropas israelenses ocuparam toda a Galiléia e o deserto do Negev, dobrando a área de seu território original. A primeira guerra árabe-israelense (1948-49) foi vencida por Israel que, além de ampliar seu controle na região, deixou a Cisjordânia sob controle da Jordânia e a faixa de Gaza com o Egito, provocando o êxodo da população palestina pelos países árabes. Surgia a "Questão Palestina", luta de um povo pelo reconhecimento de seu território.

  • GUERRA DE SUEZ
Em 1956, questões fronteiriças entre Israel e Egito, a nacionalização do Canal de Suez e a proibição egípcia de que navios israelenses trafegassem pelo canal causaram a Guerra de Suez (segunda guerra árabe-israelense). O líder egípcio Gamal Abdel Nasser, ao desafiar abertamente os interesses franceses, britânicos e israelenses, teve de enfrentar a reação armada dos três países. A intervenção soviética e norte-americana garantiu o fim do conflito. O acordo assinado estabeleceu que Suez continuaria nacionalizado, mas o Egito garantiria o direito de livre utilização a todos.

  • AL FATAH E OLP
Uma das respostas palestinas à condição de refugiados – obrigados a ficar em campos miseráveis – foi o nascimento do grupo guerrilheiro Al Fatah (reconquista ou conquista), em 1959, para destruir Israel e formar o Estado Palestino, sendo Yasser Arafat um de seus fundadores. Além do Al Fatah, foram formadas outras organizações guerrilheiras e terroristas árabes, que passaram a atacar alvos civis e militares israelenses. Em 1964, os palestinos formaram a OLP (Organização pela Libertação da Palestina), organização unificada fundada pelo Congresso Nacional Palestino realizado na parte oriental de Jerusalém que, na época, era território jordaniano. Em 1969, Yasser Arafat, principal líder da Al Fatah, assumiu também a direção da OLP, conseguindo apoio da maioria dos países árabes para enfrentar Israel.

  • GUERRA DOS SEIS DIAS


O principal conflito árabe-israelense aconteceu em 1967 e ficou conhecido como Guerra dos Seis Dias (terceira guerra árabe-israelense). Egito, Síria e Jordânia, sob o comando de Nasser, prepararam uma ação conjunta contra Israel. No entanto, com apoio dos Estados Unidos, os israelenses realizaram um ataque frontal aos inimigos, garantindo importante vitória. Como resultado da guerra, o Estado israelense anexou Jerusalém, ocupou a Cisjordânia, a Península do Sinai, a faixa de Gaza e as colinas de Golã (território que permanece até os dias atuais sob domínio israelense, agravando ainda mais os conflitos, pois se insere nesta problemática a hidropolítica). O êxodo palestino aumentou e a recém-criada OLP firmou-se como expressão política e braço armado do povo.

  • SETEMBRO NEGRO
Com o tempo, o fortalecimento da OLP dentro de alguns países árabes provocou reações negativas. Uma das mais dramáticas foi o massacre de palestinos, ocorrido em setembro de 1970, pelas tropas leais do rei Hussein da Jordânia. Hussein sentia-se ameaçado pela possibilidade da organização se transformar em um "Estado dentro do seu Estado" e o terrível episódio ficou conhecido como Setembro Negro. A principal conseqüência do Setembro Negro foi o deslocamento das bases da OLP para o sul do Líbano. Porém, em 1982, uma violenta ação armada comandada por Israel obrigou novamente a organização a sair, buscando novo refúgio na Tunísia.

  • GUERRA DO YOM KIPPUR
Desobedecendo às determinações da ONU, que exigia a devolução dos territórios, Israel manteve suas conquistas. Isso provocou, em 1973, a Guerra do Yom Kippur (quarta guerra árabe-israelense) e a crise do petróleo. Após a morte de Nasser, principal líder nacionalista árabe, em 1970, Anuar Sadat subiu ao poder. Os esforços de seu governo centraram-se na recuperação dos territórios que o Egito havia perdido para Israel em 1967. Para atingir esse objetivo, Egito e Síria planejaram uma nova ofensiva armada, concretizada em 6 de outubro de 1973, dia em que os judeus comemoravam o Dia do Perdão ou Yom Kippur. No início da Guerra do Yom Kippur, os árabes estavam em vantagem, mas a imediata ajuda norte-americana mudou os rumos da guerra e Israel manteve o domínio sobre as áreas ocupadas.

  • CHOQUE DO PETRÓLEO
Os países produtores e exportadores de petróleo aproveitaram o contexto político gerado pela Guerra do Yom Kippur para elevar os preços do barril: foi o chamado "choque do petróleo". Uma de suas principais conseqüências foi a grave crise econômica mundial, que atingiu principalmente Japão e os países do então Terceiro Mundo e da Europa. A crise do petróleo marcou profundamente a década de 1970, demonstrando o perigo da dependência global em relação ao petróleo árabe. Em tempos de conflitos, Estados Unidos e União Soviética passaram a buscar a pacificação do Oriente Médio. Esse esforço conjunto das superpotências resultou na aproximação entre Egito e Israel, formalizada em 1979 com a assinatura dos acordos de Camp David (EUA).

  • ACORDOS DE PAZ
Quando o presidente Anuar Sadat assumiu a presidência do Egito, assumiu uma postura de distanciamento da União Soviética e de aproximação dos Estados Unidos. Daí resultaram conversações de paz entre egípcios e israelenses que resultaram num acordo formalizado em Camp David, em 1979. Assinaram o acordo, sob os olhos do presidente norte-americano Jimmy Carter, o presidente egípcio, Sadat, e o primeiro-ministro israelense, o ultra-direitista, Menahem Begin. O acordo previa que Israel devolveria o Sinai para o Egito até 1982 e que em Gaza e na Cisjordânia nasceria uma "autoridade autônoma", da qual a OLP não participaria, e que governaria essas regiões por cinco anos, até a retirada definitiva de Israel.
O acordo não agradou nem aos judeus instalados nas colônias do Sinai, de Gaza e da Cisjordânia, muito menos aos árabes que esperavam maiores concessões por parte dos israelenses. Por isso, Sadat, considerado por muitos, traidor da causa árabe no Oriente Médio, foi assassinado em 1981. Na década de 1980, as negociações sobre o futuro do Oriente Médio não avançaram.
De um lado, os árabes iniciam a Intifada, rebelião popular em Gaza, cujo estopim foi o atropelamento e morte de quatro palestinos por um caminhão do exército israelense, em 1987. Adolescentes, munidos de paus e pedras, enfrentaram, nas ruas, os soldados de Israel e o levante se alastrou. A repressão israelense foi brutal. A partir de então, os choques entre palestinos e colonos nas áreas de ocupação israelense têm sido freqüentes.
Em 1992, porém, a eleição de Yitzhak Rabin, membro do Partido Trabalhista, para Primeiro Ministro de Israel, favoreceu a retomada das conversações de paz entre árabes e israelenses. Simultaneamente, Arafat, enfraquecido pelas dissidências internas da OLP, já adotava uma postura menos belicista e mais conciliadora.
A disposição de ambos levou-os, em 1993, a um encontro em Oslo, onde ficou decidido que, de forma gradual, Israel devolveria a Faixa de Gaza (área pobre onde se espremem 800 mil palestinos) e de Jericó, na Jordânia, para a administração direta e autônoma dos palestinos, apesar dos cerca de 100 mil colonos judeus ali instalados permanecerem protegidos pelo exército israelense. Ao acordo, opuseram-se as facções palestinas hostis a Arafat, alegando que as concessões de Israel eram pequenas frente aos desejos dos palestinos, e os israelenses que habitam as regiões a serem devolvidas.
Em 4 de novembro de 1995, durante um comício pela paz na Praça dos Reis, em Tel Aviv, um estudante judeu de 27 anos, membro de uma organização paramilitar de extrema direita, assassinou Ytzhak Rabin. As negociações de paz não avançaram depois da eleição de Benjamin Netanyahu, do LIKUD, partido de direita israelense, para o cargo de primeiro ministro. Netanyahu não estava disposto a fazer concessões aos palestinos.
Todavia, em 1999, realizaram-se eleições gerais em Israel e o Partido Trabalhista, representado agora por Ehud Barak, foi reconduzido ao poder, reabrindo as negociações de paz para a região. O grande obstáculo nesse momento é decidir sobre a situação de Jerusalém, cidade sagrada tanto para judeus quanto para muçulmanos. Em julho de 2000, em Camp David (EUA), Israel ofereceu soberania aos palestinos em certas áreas de Jerusalém Oriental e a retirada de quase todas as áreas ocupadas, mas Yasser Arafat (morto 11 de novembro de 2004, após ficar internado durante 14 dias em um hospital militar na França) exigiu soberania plena nos locais sagrados de Jerusalém e a volta dos refugiados. Israel recusou.
Todavia, em setembro de 2000, um episódio marcaria o acirramento das tensões entre palestinos e israelenses, quando Ariel Sharon, líder do Partido Conservador e principal expoente do conservadorismo judeu, "visitou" a Esplanada das Mesquitas em Jerusalém.
O ato pareceu uma forte provocação aos árabes e deu início à "nova intifada". Ataques terroristas e confrontos diretos entre palestinos e israelenses tornaram-se cada vez mais freqüentes, ameaçando perigosamente as conversações de paz.
A situação, porém, tornou-se mais violenta quando, no início de 2001, o mesmo Ariel Sharon foi eleito Primeiro Ministro de Israel, revelando o sentimento dominante entre os israelenses de não retomar as negociações para a criação do Estado Palestino enquanto durar a intifada. Diante da violência dos atentados terroristas promovidos pelo Hamas e pelo Hezbolah, grupos extremistas árabes que pregam o extermínio dos judeus, as ações do exército israelense também têm sido cada vez mais cruéis, atingindo, inclusive, a população civil das regiões dominadas.
Em 2002, Israel começa a erguer uma barreira para se separar das áreas palestinas com o objetivo de impedir a entrada de terroristas. Palestinos afirmam que a construção do muro é uma anexação de território. A construção inclui série de muros de concreto, trincheiras fundas e cercas duplas equipadas com sensores eletrônicos.
Em outubro de 2002, um enviado dos EUA apresenta pela primeira vez um esboço do plano de paz internacional elaborado pelo Quarteto (EUA, Rússia, União Européia e ONU). O novo plano segue as linhas traçadas pelo presidente dos EUA, George W. Bush. Prevê o fim da violência, seguido por reformas políticas e nos serviços de segurança palestinos e a retirada de Israel de territórios ocupados.
Forças israelenses cercam Arafat na Muqata (QG do líder) em meio a uma ampla ofensiva lançada após uma onda de ataques terroristas em Israel. Arafat fica proibido por Israel de deixar a Muqata. Fica confinado até antes de sua morte, em novembro de 2004.
O Plano de Paz Internacional é oficializado em 2003. Seu texto propõe um cessar-fogo bilateral, a retirada israelense das cidades palestinas e a criação de um Estado palestino provisório em partes da Cisjordânia e da faixa de Gaza. Em uma última fase, seria negociado o futuro de Jerusalém, os assentamentos judaicos, o destino dos refugiados palestinos e as fronteiras. Não é mencionado no texto a exigência do governo israelense de que o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Yasser Arafat, morto em 11 de novembro de 2004, seja removido do cargo. Apenas diz que os palestinos precisam de uma liderança que atue duramente contra o terror.
Em maio de 2005, assume o cargo de premiê palestino o moderado Mahmoud Abbas, indicado por Iasser Arafat após ampla pressão internacional. Abbas renuncia cerca de quatro meses depois após divergências com Arafat em relação ao controle da segurança palestina.
Ainda em 2005, foi lançado o plano de retirada, pelo premiê israelense, o plano unilateral de Sharon --que alega ter tomado essa iniciativa por não contar com interlocutores confiáveis no lado palestino-- visa retirar de Gaza e parte da Cisjordânia 25 assentamentos judaicos e suas forças militares. Convivem hoje no território 1,3 milhão de palestinos e cerca de 8.500 judeus. Facções contrárias à retirada adotam o discurso de não desistir de nenhum centímetro de terra.
Em janeiro de 2006, o então premiê israelense Ariel Sharon sofre um derrame cerebral e entra em coma. Ele é substituído interinamente pelo atual premiê, Ehud Olmert. Em março, eleições israelenses dão a vitória ao partido KADIMA (centro), de Olmert, e após formar uma coalizão o líder é confirmado no posto de premiê israelense.

Em 2007, Após meses de negociações, os partidos palestinos rivais FATAH (do presidente da ANP, Mahmoud Abbas) e HAMAS (do premiê palestino, Ismail Haniyeh) concordam com a criação de um novo gabinete com poder compartilhado. O acordo foi fechado em Meca (Arábia Saudita) em uma reunião com Abbas, Haniyeh e o líder político do Hamas na Síria, Khaled Meshaal, no dia 8 de fevereiro.
A negociação foi marcada pela violência interna que custou a vida de dezenas de palestinos entre dezembro e fevereiro. Apesar da comunidade internacional --incluindo Israel-- ter pressionado pela realização do acordo entre os dois movimentos, Israel não tem a intenção de tratar com o novo governo palestino.
O Hamas continua a não aceitar de forma direta ou indireta o reconhecimento de Israel, os acordos firmados e a renúncia à violência, informou um comunicado do Ministério de Relações Exteriores de Israel. Esses três pontos são as exigências da comunidade internacional para o fim do bloqueio financeiro à ANP.
E por fim, em janeiro de 2008, representantes de Israel e da ANP reúnem-se para recomeçar as negociações sobre o futuro de Jerusalém, os assentamentos, os refugiados palestinos, as fronteiras, a segurança e os recursos hídricos. É a primeira vez que os assuntos são tratados desde Cúpula de Taba, em janeiro de 2001. As conversas de paz, como muitas tentativas anteriores, não amenizam o clima de guerra entre palestinos e israelenses e os jornais noticiam freqüentemente ataques violentos das duas partes.
Em 13 de março, o Jihad Islâmico (grupo extremista palestino) em Gaza disparar mais de uma dúzia de foguetes contra o sul de Israel após forças secretas israelenses terem matado um de seus líderes em um ataque ocorrido na véspera na Cisjordânia. No dia seguinte, um enviado especial dos Estados Unidos chega ao país para tentar mediar conversações de paz, mas Israel nega cessar-fogo.
Em abril, o presidente da ANP, Mahmoud Abbas, reitera no Egito seu desejo de que o conflito palestino-israelense seja resolvido antes do final deste ano. "Pedimos a todas as partes (envolvidas no processo de paz) que empreguem o esforço máximo para alcançar um acordo antes do final do ano. Queremos conseguir uma solução antes do fim de 2008", afirmou à época.
Além disso, pediu ao presidente americano, George W. Bush, "que trabalhe para que (Israel) cesse a construção de assentamentos judaicos, com o objetivo de chegar a um tratado que garanta a recuperação das fronteiras anteriores a 1967."
Poucos dias depois, ele se reúne com o primeiro-ministro, Ehud Olmert, para discutir detalhes da visita de Abbas aos Estados Unidos e do presidente George W. Bush a Israel. A idéia seria encerrar o conflito que opõe os povos antes do fim do mandato de Bush, em janeiro de 2009.


DETALHE (Fábio): O fundamentalismo islâmico na nova ordem mundial trouxe de volta o "fantasma muçulmano" que ameaçou o Ocidente europeu a partir do século VIII. Interpretando rigidamente a sharia (a lei do Corão), os fundamentalistas querem a observação total das tradições religiosas no cotidiano político, econômico e social, a fim de formar um Estado islâmico puro. Num contexto de miséria e recessão econômica, os marginalizados constituem a base social de apoio a esses movimentos, que usam de ações clandestinas e violentas. Também no Oriente Médio o fundamentalismo vem alimentando conflitos.

 O Conflito entre o Irã e o Iraque:
O conflito entre o Irã e o Iraque, iniciado em setembro de 1980, iria durar quase uma década e poria em risco não só o abastecimento mundial de petróleo mas também o tênue equilíbrio político mundial.
A - A causa:   foi uma disputa de fronteiras, mis especificamente o controle do Canal Chatt Al Arab, que corresponde à parte meridional limítrofe entre os dois países e representa a única saída marítima do Iraque , sendo, portanto, de fundamental importância para o escoamento de petróleo do país.
O conflito iria durar quase uma década, ou seja, se prolongaria até 1988, onde ao longo da guerra os dois países se alternavam em vitórias e planos estratégicos.

OBS.: Durante o atrito com o Irã, o Iraque recebeu apoio tanto das duas superpotências quanto da maioria dos países do Oriente Médio, inclusive o Kuwait. Nesse momento, Saddan Hussein era visto, por todos esses países, como uma figura modernizadora, que serviria de anteparo contra o obscurantismo do Irã, dominados pelos aiatolás.
A guerra terminou da mesma forma que começou do ponto de vista territorial, ou seja, ambos continuaram com seus mesmos territórios. Porém do ponto de vista financeiro, o Iraque encontrava-se com uma grande dívida pois recebeu vultuosos empréstimos e doações financeiras para poder manter sua "máquina de guerra" contra o Irã.  A URSS, em maior escala, e vários países ocidentais forneceram modernos armamentos aos iraquianos. Terminada a guerra, o Iraque era um país atolado em dívidas, que necessitava de uma urgente reconstrução econômica, mas contava com uma formidável máquina militar.

 A Guerra do Golfo:
A - Causa: Invasão do Iraque ao Kuwait.
A.1- Justificativas:
-          O Iraque queria ampliar sua saída marítima para o Golfo Pérsico, pois o Chatt Al Arab é a sua única saída marítima e compartilhado ao meio com o Irã.
-          Saddan afirmava que as fronteiras do mundo árabe foram feitas pelos europeus, no início do século XX, de maneira arbitrária. Logo, alegava a eliminar as fronteiras artificiais criadas pelas potências colonialistas.
-          O Kuwait deveria ser parte de uma província iraquiana. Porém, fora tirado do Iraque em função de acordos que os ingleses teriam feitos com lideranças locais.
-          O Iraque acusava o Kuwait de Ter extraído petróleo na fronteira entre eles, alegando que parte desse petróleo teria sido "chupado" de reservas que estavam em território iraquiano.  Além do Iraque cobiçar há muito tempo controle da ilha Bubian, no Golfo Pérsico.

A invasão iraquiana teria resposta americana que iria defender seus interesses nessa região. Assim, para conseguir seus objetivos os, EUA montaram suas bases militares na Arábia Saudita além de contar com apoio de vários outros países aliados.  No final de novembro de 1990, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução, proposta pelos EUA, que marcava o dia de 15 de janeiro de 1991 como prazo final para que os iraquianos saíssem do Kuwait.

NOTA: O Iraque tentou transformar a crise numa luta do Oriente (árabe-mulçumano) contra o Ocidente. Saddan Hussein chegou algumas vezes, a apelar para a guerra santa, alegando que os "infiéis" ocidentais estavam conspurcando o solo sagrado do Islã, (referia-se às cidades de Meca e Medina, situadas na Arábia Saudita, onde se encontrava grande parte das forças norte-americanas). O Iraque afirmou ainda que se fosse atacado iria atacar Israel numa tentativa de atrair aliados mulçumanos.

B - Conseqüências:
-          O EUA realizou uma grande ação militar sobre a capital iraquiana
-          O Iraque de Saddan Hussein bombardeou Israel, tendo apoio dos palestinos e até do Irã.
-          O Iraque iria amargurar uma derrota.

NOTA: Diante da "vitória" na Guerra Fria, os Estados Unidos precisava arranjar um outro alvo para justificar os gastos militares perante os contribuintes. Surgiram então os ditadores que estariam "ameaçando" o mundo Ocidental.
O primeiro foi Sadam Husseim, presidente do Iraque, que ordenou a invasão do Kuwait no início da década de 1990. Sua intenção era aumentar o território do país e dominar as reservas de petróleo no mundo. no entanto, o líder iraquiano foi transformando em uma espécie de ameaça ao país para a opinião pública estadunidense.
No primeiro conflito com o Iraque, em 1991, os Estados Unidos conseguiram criar uma coalizão que envolveu vários países do mundo ocidental. Na época, a economia do país estava em crise. Foi preciso dividir as despesas e chamar outros aliados para disparar mísseis  contra um país que aspirava a condição de potência regional. Na ocasião, muitos analistas disseram que a superpotência estava enfraquecida, pois precisou de aliados para combater um país pobre e militarmente muito inferior. O que se verificou, porém, foi uma atitude cautelosa dos Estados Unidos. Envolvendo vários países, eles puderam atingir seu objetivo, enfraquecer a possibilidade de Saddan Hussein aumentar seu domínio sobre reservas petrolíferas do Golfo Pérsico, despendendo menos recursos.

O segundo conflito militar com o Iraque: em 1998, a situação alterou-se.
Causas:
Ø  Acusando Sadam Husseim de não cumprir as determinações do Conselho de Segurança da ONU estabelecidas ao final da Guerra do Golfo, os Estados Unidos novamente convocaram aliados para operação militar contra o oponente.
Ø  O presidente do Iraque não queria permitir que uma missão da ONU vistoriasse suas instalações, gerando suspeita de que ele estaria preparando uma bomba atômica e desviando o uso do conhecimento nuclear para o campo militar.

NOTA: Os Estados Unidos convocaram seus aliados e solicitaram a anuência do Conselho de segurança da ONU para compor novamente uma coalizão internacional para atacar o Iraque.
A China, a França e a Rússia foram contra, e o acabou ocorrendo foi um ataque aéreo com aviões dos Estados Unidos e do Reino Unido. Fracassou de uma guerra contra uma simples potência regional. O conflito durou poucos dias.


O RECENTE CONFLITO ENTRE EUA E O IRAQUE:
A) Causa: as justificativas dos EUA para invadir o Iraque foram:

A.1- O governo de Saddan Hussein era ditador e de tirania; inclusive realizando experiências biológicas sobre os Curdos.
A.2- O governo iraquiano foi acusado de investir em armas químicas e biológicas; além de grande poder de destruição em massa;

B) Estratégia norte-americana: Os 50 Motivos de Bush para o ataque ao Iraque

B.1- atender o comércio de armas reaquecendo sua economia e ao mesmo tempo consolidar sua hegemonia nesse setor;
B.2 - controle do território americano a fim de controlar as jazidas petrolíferas iraquianas ampliação;
B.3 - expandir a influência americana num território considerado fechado para os interesses dos EUA.
B.4 - estabelecer o controle sobre os 150 bilhões de barris de petróleo que poderão ser encontrados no subsolo Iraquiano, gerando uma receita de aproximadamente 5 trilhões de dólares (considerando a cotação atual do barril de petróleo).
B.5- cercar estrategicamente o Irã, já que os EUA já possuem bases no Afeganistão, Paquistão, Turquia E Armênia.
B.6B.6 conceder independência ou autonomia para a minoria Curda no Iraque, atenuando o desgaste político dos EUA pelo desprezo dispensado aos Palestinos, outro povo sem Pátria.
B.7B.7 impedir que o Iraque desenvolva armas de destruição em massa (nucleares, Biológicas E Químicas).
B.8 B.8 garantir a reeleição de George W. Bush em 2004, imaginando que o presidente, devido à guerra, se apresentaria como o líder destemido da nação mais poderosa do mundo.  

O CONFLITO NO AFEGANISTÃO:
1.0 - O Legado da História

O Afeganistão, ou o "teto do mundo", localizado no Himalaia, é um dos países mais pobres do mundo, e encontra-se em guerra há mais de 20 anos. País feudal, tribal e multiétnico criado como Estado-tampão entre os imperialismos russo e inglês no século IX, esta nação isolada dos grandes circuitos mundiais até recentemente adquiriu súbita importância geopolítica. Importante ressaltar, o islã só completou sua implantação no país durante o século XIX. Já o traçado da fronteira sul deixou parte de sua etnia principal, os pasthtus (39% dos afegãos), no Paquistão. Os tadjiques e usbeques (que a URSS constituíam repúblicas federadas) e os hazaras (xiitas) representam as minorias mais importantes, localizadas no norte e no centro do país, respectivamente.


Em 1919, foi o primeiro país do mundo a estabelecer relações diplomáticas com a Rússia soviética, com a qual assinou inúmeros acordos de cooperação em 1924, que vieram sendo renovados continuamente. Como país neutralista e relativamente isolado, o Afeganistão oferecia a segurança de que a URSS necessitava em sua fronteira perturbada após a implantação da república, em 1973, pelo príncipe Daud. Este dirigente, face às dificuldades econômicas e a crescente influência dos comunistas no aparelho estatal, modificou as alianças externas, aproximando-se do Irã do Xá Parhlevi, do Paquistão e dos Estados Unidos, passando a perseguir a minúscula esquerda urbana que o apoiara inicialmente.

2.0 - A "Vendéia" Comunista
Os comunistas reagiram desencadeando um golpe de Estado em 1978, a "Revolução de Abril", com apoio do Exército. O Partido Democrático do Povo Afegão (PDPA), como se denominavam os comunistas, era integrado especialmente por membros da classe média urbana e oficiais, e formado por uma facção radical (Khalk) e outra moderado-etapista (Parcham). Muitos dos seus integrantes, civis e militares, haviam estudado na URSS nas décadas anteriores, devido aos acordos de formação técnica. O novo poder de Kabul, liderado pelo respeitado Taraki, iniciou um ousado programa de reformas: agrária, nacionalizações, universalização do ensino e emancipação de jovens e mulheres (apenas 2% delas eram alfabetizadas).
O caráter retrógrado da sociedade, parte da qual ainda nômade, o perfil ateísta do regime e as estratégias voluntaristas empregadas nas reformas logo produziram a aparição de uma oposição armada. A família patriarcal tinha os nos jovens uma mão-de-obra indispensável e também não aceitou a emancipação da mulher, enquanto os mollahs (clérigos muçulmanos) opunham-se à reforma agrária. Escolas foram incendiadas e agentes governamentais mortos. Os guerrilheiros mujahidin, apoiados militarmente pelo Paquistão, EUA e Arábia Saudita, já controlavam grande parte das montanhas e zonas rurais. O regime, por seu lado, radicalizava-se, com a supremacia do Khalk (majoritariamente pushtu) e de seu líder, Affizulah Amin. Taraki foi isolado e o Parcham marginalizado.
A crescente perda de controle da situação pelo governo preocupava os soviéticos, que aconselhavam uma política mais moderada. Taraki, ao voltar de Moscou, foi assassinado por Amin, fazendo o Kremlin, já inquieto pela revolução iranianados aiatolás, pela crise polonesa e pela deterioração das relações internacionais, optar por uma intervenção que colocasse os moderados no poder. A intervenção, sincronizada de Natal de 1979, levando Brabak Karmal (líder Parcham) ao poder.
A guerra civil intensificou-se contra o regime e seus aliados soviéticos, que enviaram 120 mil soldados. A moderação política e a cooptação de alguns chefes tribais não alterou a situação. O regime controlava as cidades e eixos rodoviários, enquanto as diversas facções da resistência dominavam o interior apoiadas por bases no Paquistão e Irã, onde se encontrava grande número de refugiados. As drogas (ópio e heroína) oriundas das plantações de papoula, passaram a financiar parte das operações guerrilheiras. O moderado e lendário líder Jamiat-i-Islami (que controlava o Norte), Ahmed Sha Massud, e o fundamentalista Hekmatyar, chefe do Hesb-i-Islami (que dominava a fronteira com o Paquistão), eram os mais importantes comandantes mujahidins, infligindo consideráveis perdas aos soviéticos, que sofreram seu Vietnã.
Em 1986, sob pressão de Gorbatchov, implantou-se um governo disposto a negociar a paz (sob os auspícios da ONU) e a retirada soviética, liderado por Najibulah, um médico que chefiava a polícia política.
Em fevereiro de 1989, completou-se a retirada, enquanto o PDPA passava a chamar-se Watan (Pátria), com o objetivo de implantar um governo de coalizão. Socialmente o problema afegão lembrava a Revolução Francesa, quando os jacobinos tentaram implantar suas reformas sociais e modernizadoras e encontraram feroz resistência a região da Vendéia, uma das mais atrasadas e pobres da França, respondendo militarmente. Os segmentos sociais que teoricamente mais poderiam se beneficiar com o regime lutavam contra ele. O Ocidente, por seu turno, como forma de combater a intervenção soviética, prestou imenso apoio aos grupos fundamentalistas, que no caso de Hekmatyar, praticavam uma política obscurantista (usar o islã contra o ateísmo marxista).

3.0 - Do Socialismo ao Fundamentalismo
Surpreendentemente, o regime sobreviveu à saída dos soviéticos e à progressiva redução da ajuda econômica e militar. As ofensivas guerrilheiras, fortalecidas pela continuidade da ajuda externa, não conseguiram derrubar o governo, nem chegar a um acordo para formar um novo governo. Kabul se transformava numa cidade-Estado, onde refugiados do campo e segmentos urbanos apoiavam o governo, particularmente as mulheres. Com o golpe de agosto de 1991 em Moscou, a URSS desagregou-se, e a ajuda foi completamente cortada. Ainda assim, os comunistas resistiram até abril de 1992, quando a deserção do general Rashid Douston, chefe da milícia usbeque, causou o colapso do regime. Como o governo não possuía mais recursos para distribuir os comandantes regionais, ele se aliara à guerrilha.
Os vencedores não se puseram de acordo, e a guerra civil prosseguiu. Kabul, ocupada por diferentes milícias, foi praticamente destruída, com 70% da população fugindo para o campo. Os remanescentes do regime derrubado juntaram-se a diferentes grupos, que tenderam a se agrupar por etnias. Estes, por sua vez, recebiam apoio externo de potências regionais, desejosas de ocupar o vácuo de poder provocado pela fragmentação da URSS.

Muitos dos partidos vinculavam-se aos novos países da Ásia central, em que sua etnia era majoritária. Mas havia uma divisão dominante: os moderados (como Massud), desejosos de um governo de coalizão e independência externa, e os fundamentalistas (como Hekmatyar), ligados ao Paquistão e ao Ocidente.
O governo do presidente Rabbani, do campo moderado, foi reconhecido internacionalmente, mas combatido por Hekmatyar. Os recém formados paises da Ásia central, ricos em petróleo e situados entre a Rússia e a China, constituíam uma nova realidade geopolítica, cobiçada pelo ocidente. O Afeganistão, localizado entre o Irã e a China, ocupava uma posição chave, representando o único acesso à região. Companhias sauditas e americanas desejavam construir um oleoduto ligando o petróleo do Mar Cáspio ao Oceano Índico, evitando a Rússia e o Irã. Assim, necessitavam de um governo subserviente em Kabul.
Mas Hekmatyar fracassou militarmente. O Paquistão buscou, então, uma alternativa, com ajuda americana e saudita. Seus serviços de inteligência recrutam entre os campos de refugiados os "estudantes de religião" (talibãs, de etnia pashtu) das escolas corânicas, uma poderosa milícia, oferecendo treinamento, armas, dinheiro e apoio aéreo. Num país economicamente devastado, socialmente fatigado e politicamente decepcionado com a continuação da guerra civil pelos partidos tradicionais, o surgimento desses "puros" em 1994, que pregavam a unidade, a ordem e o fim da guerra, pareceu uma esperança para amplos segmentos da população. Após a conquista de Kandahar e Heart, no Oeste, eles avançaram gradativamente rumo à Capital.
Em setembro de 1996, conquistaram Kabul, executando os adversários e capturando Najibullah, que se encontrava refugiado na representação da ONU. Ele e seu irmão foram castrados, enforcados e, após trucidados em praça pública. Ao mesmo tempo, forma baixadas leis restritivas às mulheres, destruíram-se bibliotecas, televisores e vídeos, obrigaram os homens a usar barba e padronizaram o corte de cabelo e o vestuário masculino e feminino. Os estrangeiros passaram a sofrer restrições, enquanto o governo refugiava-se no Norte.
Em agosto de 1998, Mazar, Mazar-I-Charif, bastião usbeque de Douston, foi conquistado, bem como o reduto dos xiitas hazaras (onde estavam as estátuas de Buda). Nesta região, diplomatas iranianos foram assassinados, quase provocando uma guerra entre os dois países. O comandante Massud, último apoio do governo (que continua a ser reconhecido internacionalmente), controla, ainda 10% do nordeste afegão, a região dos tadjiques, que os talibãs não conseguiram controlar. Ele é apoiado pela Rússia, Índia e Irã.

4 - Obscurantismo e Geopolítica

Desde então, os talibãs começaram a escapar ao controle dos seus mentores, aprofundando seus vínculos com a produção e o comércio de drogas (de maneira independente) e envolvendo-se com o terrorismo internacional, como no caso do saudita Osama Bin Laden, responsável pelos atentados a duas embaixadas americanas na África. Mas os talibãs, liderados pelo Mollah Omar, continuam sendo reconhecidos diplomaticamente pelo Paquistão e apoiados por interesses ocidentais e sauditas, pois ainda que cada vez mais incômodos e constrangedores, continuam sendo aliados indispensáveis no tabuleiro político regional.
Os talibãs não possuem um programa político exeqüível na era da globalização, mas podem sobreviver largo tempo devido ao estado de anomia, fadiga e destruição a que foi submetida a sociedade afegã, num retrato dramático da sorte dos perdedores da Nova Ordem Mundial. Tantas ingerências externas e pressões contrárias à modernização acabaram produzindo um verdadeiro monstro. Como carecem de um projeto econômico e sócio-político consiste, na medida em que foram forjados como um instrumento destinado a varrer determinadas forças políticas, os talibãs começam a exercer uma violência "disfuncional", como proibir certos esportes tradicionais de algumas tribos ou buscar novas "cruzadas", como destruir as estátuas de Buda e relíquias históricas pré-islâmicas. Corrupção e criminalidade já começam a grassar nas fileiras dos "puros", bem como revoltas locais contra eles.
Contudo, é preciso evitar a tentação (estimulada por certos meios) de culpar o islã pelo fundamentalismo dos talibãs. Basta ver que um dos maiores inimigos desse regime é o Irã dos aiatolás, e que muitos dos que o apóiam direta ou indiretamente são democracias ocidentais ou seus aliados regionais. O fenômeno da intolerância, seja religiosa ou política, é um fenômeno mundial. Assim, os fanáticos talibãs podem ser um caso extremo, mas não são totalmente originais, pois cristãos fundamentalistas americanos realizam atentados a clínicas de aborto, hindus incendeiam mesquitas, judeus ultra-ortodoxos constrangem israelenses laicos e uma seita japonesa jogou gás letal no metrô de Tóquio em 1995.
A intolerância dos talibãs deve ser pensada no contexto do desenraizamento provocado pelas mudanças aceleradas em curso do mundo, conflitos armados devastadores e manipulação externa. O que choca, especialmente, é que a era da revolução científico-tecnológica, a era da Internet, é igualmente a do surgimento dos fundamentalismos. Mas essa é uma oposição dialética, e não formal. Sem acesso ao desenvolvimento, educação, saúde e modernidade, tal situação não será superada. Assim ainda que marcados por uma aura atávica, os talibãs podem ser melhor compreendidos pelos fenômenos do mundo moderno.

LEITURA COMPLEMENTAR


TALIBAN - O VANDALISMO DOS FANÁTICOS
Desde que instalaram um regime medieval no Afeganistão, há cinco anos, os integrantes da milícia do Taliban - nome originário de um movimento de estudantes islâmicos - tomam decisões de arrepiar os cabelos até dos mais ferrenhos seguidores de Maomé.
Mohamed Omar, que se autoproclamou emir do Afeganistão e é o líder da milícia, decidiu que todas as estátuas do país deveriam ser destruídas. Esse súbito surto de iconoclastia passaria despercebido se o Afeganistão não tivesse um acervo riquíssimo de monumentos budistas, herança do período pré-islâmico, anterior ao ano 1000, quando a região era centro de peregrinação.
Entre os alvos da maluquice, estão as duas estátuas gigantes de Buda, em Bamiyan, nos arredores da capital Caboul. Esculpidas na rocha há mais de 1.500 anos, elas medem 37 e 53 metros de altura e estão entre as maiores estátuas conhecidas de Buda. Omar, que por lá é conhecido como "mulá" (professor), deu a ordem, e imediatamente soldados começaram a circular pelo país com caminhões carregados de explosivos e lança-foguetes à caça das imagens. As primeiras estátuas destruídas foram retiradas das 6.000 peças do museu de Cabul. Países com grande comunidade budista, como o Japão, a Tailândia, a Índia, e organismos como a Unesco protestam em vão. "Estamos apenas destruindo pedras", Omar justificou.
Desde que se instalou no governo, o Taliban transformou o país num inferno. Execuções sumárias, amputações públicas e festivais de chibatadas acontecem em estádios de futebol lotados. As meninas são obrigadas a parar de estudar aos 8 anos.
As mulheres vivem cobertas por um manto, o burqa, que esconde até os olhos, e chegam a levar uma surra quando são apanhadas conversando com estranhos. Já os homens têm de vestir camisolões e são forçados a usar barba. O Afeganistão tornou-se o país da proibição. Televisão, música, fotografia e tudo que desvie a atenção de Deus é ilegal. Em meio a tantos absurdos, o Taliban acabou abrigando o sunita Osaman Bin Laden, terrorista acusado de planejar os atentados às embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, em 1998.
Apesar de pedidos de extradição, ele continua como um convidado de honra e, por isso, o país enfrenta um embargo internacional que privou os afegãos de quase toda ajuda humanitária, essencial numa nação devastada por duas décadas de guerra civil. Apesar de o Taliban controlar 90% do território, a comunidade internacional - à exceção de Paquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes - ainda não o reconhece como governo legítimo do Afeganistão. Enfrentando a pior seca das últimas três décadas, a agricultura do país está em frangalhos. Mais de 3 milhões de famintos se espremem em campos de refugiados nos vizinhos Paquistão e Irã. Dentro do país, as Nações Unidas estimam que 1 milhão de afegãos estejam à beira de ser dizimados pela fome.

Numa tentativa desesperada de agradar aos governos ocidentais, o Taliban anunciou o extermínio dos campos de papoula - o Afeganistão produz 75% do ópio mundial que, transformado em heroína, abastece o mercado europeu e o americano. Acabar com a maior fonte de renda do Estado parece ter sido um suicídio econômico que faz a destruição de estátuas parecer muito mais uma tentativa de chamar a atenção para a penúria do país. Mas transformar o passado em pó não vai melhorar a imagem do Taliban e a tendência é isolar ainda mais o Afeganistão. Rompantes de icnoclastia pontilharam a História. Em seus primórdios, o cristianismo, por exemplo, fez tudo o que pôde para acabar com toda a arte considerada pagã, inclusive grega. Mais recentemente, os espanhóis arrasaram as culturas pré-colombianas em nome de Deus e, durante a Revolução Francesa, estátuas da Catedral de Notre-Dame foram decapitadas pelos revolucionários.
O que dá um tom assustador à turma do Taliban é pulverizar objetos de arte de tamanha importância em pleno século XXI, acabando com a última riqueza do país: seu passado.

CRÔNICA DE UM OBSCURANTISMO ANUNCIADO


As mulheres do Afeganistão são as maiores vítimas do fundamentalismo talibã e do cinismo internacional.

Os recentes atos de vandalismo do regime taliban ("estudantes de religião"), destruindo estátuas de Buda datadas dos séculos 3 e 5, constituem mais um capítulo na crônica de um obscurantismo longamente anunciado. Isso, após já haver chocado o mundo com o tratamento dispensado às mulheres, proibidas de estudar, de exercer qualquer profissão ou mostrar qualquer parte do corpo, confinadas às funções de mães e donas de casa. Como foi possível a implantação de um tal regime teocrático-fundamentalista? Uma resposta demasiado fácil, e capciosa, seria acusar especialmente a intervenção soviética de 1979 no país, e a natureza do islã. É preciso mais para se entender a complexidade que produziu a tragédia afegã.

"A OUTRA FACE DO CAPITAL"

O mundo acompanhou o surgimento de um novo sujeito no cenário da globalizacão, um sujeito ao qual os grandes mestres do capital mundializado haviam prestado pouca ou nenhuma atenção quando de suas atuais estratégias de reestruturação produtiva planetária, um sujeito que irrompe como subproduto de uma propalada 'nova ordem mundial', esta que até o momento se apresentava sob um fortíssimo jogo ideológico, como uma ordem sem sujeito definido; surge então, n limiar do século XXI, o não - ocidente.
Finda a II Guerra Mundial, países do centro do mundo capitalista começaram a promover, não somente um processo de reconstrução e reestruturação de suas bases produtivas, mas principalmente, optaram como forma ideológica de expansão de seus interesses por um gigantesco processo de ocidentalização do mundo, que implicaria além da adoção dos modelos produtivos, numa 'adoção consentida' de um  modus vivendi e de um modus operandi,, uma forma de viver e agir que obedecessem aos padrões estabelecidos por esse centro do mundo capitalista que se estabelecia.
Esse imago mundi se constrói com o acirramento do conflito Leste-Oeste, no plano dos territórios e com a disputa ideológica do capitalismo versus socialismo, que se traduzia, cada vez mais, num alinhamento incondicional a um ou outro pólo de poder, sem espaço para a existência de um mundo alternativo, o “outro”, portanto, transformava-se dessa maneira no inimigo, a ocidentalização do mundo havia dado seu start.
É sob esse horizonte político e ideológico que se constrói o mundo do pós-guerra, um mundo onde as diferenças que não puderem ser incorporadas ao projeto de ocidentalização devem rigorosamente ser eliminadas ou quando muito isoladas do “contato civilizatório”. O ideário de civilização passa a ser confundido com o modelo das sociedades que detêm o poder bélico-econômico, o que no mundo capitalista significava o modelo das nações do capitalismo central. As guerras regionais, alternativas a guerra total (TOFFLER, 1979), se fazem tendo este objetivo como uma de suas demandas.
Centenas de povos, etnias, religiões, línguas, dialetos, territorialidades, são postas na ilegalidade, de um tempo a outro. Temporalidades são rompidas, segredos e sagrados são violados em nome de uma homogeneidade que estabeleceria a ordem. “Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas, as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes mesmo de ossificar-se. Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado [...I”. De um lado ou de outro do muro uma das poucas coisas que era consenso entre as potências dominantes era a negação da diferença como artifício máximo da construção da nova ordem mundial.
Essa é a imagem do mundo no período entre 60 e 80, com poucas alterações no cenário do poder mundial. Múltiplas crises econômicas e de força se seguiram, nesse período, sem que aquela orientação fosse mudada, visto que a manutenção da ordem estabelecida se fazia fundada na “paz armada”.
Quando as entropias começam a se avolumar as crises se tornam mais fortes e longas, ficando evidente a necessidade de uma nova reordenação do mundo. Crises conjunturais e estruturais se fazem sentir no capitalismo central, enquanto que no lado soviético uma euforia derradeira prenuncia o colapso. Novos países do centro capitalista tomam a dianteira do processo de financeirização das estruturas do sistema, enquanto que o capitalismo americano busca livrar-se das velhas estruturas produtivas, ao mesmo tempo em que tenta estruturar um novo pacto econômico, que o garantiria como centro do sistema de forças. E o momento da grande ascensão dos NIPs (Novos Países Industrializados).
É durante esse período de reestruturação da economia capitalista que o mundo soviético e o Leste Europeu entram em colapso, forçando uma mudança no eixo da reestruturação capitalista, principalmente do capitalismo americano, grande parte assentado na indústria bélica nuclear.
As diferenças no Mundo do Leste aparecem, marcadamente, em resposta aos autoritários processos de fusões e unificações que se exerceram naquele mundo. As diferenças ressurgem buscando, não somente uma afirmação identitária, mas principalmente, uma afirmação territorial. As diferenças contidas pela paz armada aparecem nas mais diversas facetas, numa multiplicidade de cores e credos, que se irradiam rapidamente por todo o sistema socialista, provocando o colapso em efeito dominó. Os países que resistem buscam realizar rapidamente profundas transformações no seu interior para evitar o caos político-econômico, que se verificaria pouco mais tarde.
A última década do século XX se inicia reclamando uma nova construção. Como testemunho dessa essência eclodem diversos conflitos étnico-nacionalistas no Mundo do Leste, enquanto que do lado capitalista o centro do sistema busca criar alternativas de solução para suas crises para que o mesmo não lhe aconteça.
Os arautos de uma propalada nova ordem aclamam o capitalismo como o vitorioso na disputa do “bem contra o mal”, e já anunciam as regras do new deal, a nova palavra de ordem chama-se globalização. O termo é elevado a quintessência e apontado como o único caminho a ser tomado para se escapar a bárbarie vivida no Mundo do Leste, ou ainda da falência material dos países que não se submeteram ou foram excluídos do processo de ocidentalização.
Enquanto que o mundo, cada vez mais tornado midiático, transforma-se em um simulacro do real, exigência vital para ocultar as atrocidades cometidas contra centenas de povos e nações, o discurso de um mundo cada vez mais globalizado toma corpo como substituto da ordem bipolar anterior. Enquanto isso, o mundo ocidentalizado se vê invadido por imagens novas e desconhecidas, imagens aterradoras de “lugares e povos distantes” que aparecem num processo de auto-destruição, esta provocada, segundo o discurso midiático, pela falência do sistema socialista.
Lugares e nomes novos aparecem na seara geográfica como que por encanto, lugares que até pouco tempo atrás pareciam que nem existiam e que a geografia oficial fazia questão de manter no anonimato, porque eram lugares em que germinava a diferença, e que portanto, contrariavam a ordem hegemônica. Antigas unificações forçadas se desfazem, surgindo não só novos lugares como também novos conflitos. São Chechenias, Bósnias, Herzegovinas, Sérvias, Croácias, Kozovos, nomes que põem a última pá de areia ao agora “embriagado sistema soviético” de Boris Yeltsin.
As imagens de barbárie, fruto da hegemonia midiática, que são transmitidas ao mundo ocidentalizado, vêm ao encontro dos interesses dos países centrais do sistema capitalista, pois reforçam o discurso da globalização e a via neoliberal da execução dessa globalização, como alternativa para salvar o “mundo civilizado” e levá-lo ao tão almejado “desenvolvimento harmônico das nações”.
Todo o mundo ocidentalizado se vê obrigado a promover reestruturações em obediência aos centros de comando do capitalismo mundial, termos como reestruturação produtiva, flexibilização dos circuitos de produção e trabalho, produção just in time’, toyotismo, neo-fordismo, assumem a ordem do dia e exigem cumprimento imediato sob pena de sanções. Os NIPs agora liberados dos sistemas autoritários correm contra o tempo buscando compensar o tempo perdido abrindo suas fronteiras ao capital especulativo, no intuito de aumentar os investimentos, mesmo que isso se faça em detrimento dos circuitos de produção e trabalho nacionais.
Mas se a diferença aflorou com toda sua força no Mundo do Leste, a eficácia da nova ideologia da globalização, veiculada pelos diversos sistemas de telemática retardam seu aparecimento no mundo ocidentalizado, o que permite que a reestruturação do sistema se faça sem uma oposição mais evidenciada. A nova ordem mundial parece se confundir, cada vez mais, com a globalização, enquanto que o papel dos Estados como únicos gestores dos territórios começa a perder espaço em função da nova ação pulverizada do capital, que se torna cada vez mais financeirizado e salta do mundo da produção para o mundo da circulação das redes de informação.
Assim o novo imago mundi divulgado pelo centro do mundo ocidentalizado vai assumindo os contornos de um meio técnico-científico ­informacional,  onde os novos circuitos de produção e trabalho são definidos pelos senhores dessa reestruturação produtiva, os centros do sistema financeiro mundial, formado pelos 7 países mais ricos do mundo (G-7) mais as grandes instituições financeiras do planeta.

O novo rearranjo global subjuga o local para impedir que as diferenças se manifestem. Os vários acordos estabelecidos nos diversos encontros do G-7 encaminham para a consolidação de uma nova ordem global, que tem sua expressão espacial nas centralidades territoriais, pois abandonariam a custódia dos Estados territoriais em favor de uma circulação tornada mundial e viabilizada pelas novas redes de informação e controle da produção e do trabalho.

A estratégia de isolar todos os movimentos locais que questionem o modelo adotado pelo sistema central do capital, foi adotada como método para garantir a continuidade do novo projeto, assim estaria controlado no próprio local todo e qualquer movimento anti-globalização ou até mesmo movimentos que propugnem modelos de globalização alternativos ao modelo imposto pelo G-7. Assim se cria a “unanimidade” em torno da globalização do mundo nos moldes impostos pelos grupos financeiros hegemônicos, uma globalização onde alguns parâmetros são essenciais, tais como: flexibilização, reestruturação produtiva, governabilidade, consenso. E movimentos de oposição ao modelo de globalização imposto começam a surgir nos jardins do sistema mundial do capital, movimentos estes que são rapidamente territorializados e isolados, para não permitir o “contágio” de outras áreas do mundo ocidentalizado, enquanto que o controle da informação se torna peça chave nesse jogo ideológico, visto que através da informação veiculada se estabelece o consenso sobre os caminhos a seguir.
As diferenças no mundo ocidentalizado são traduzidas como arcaísmos, como negações de desenvolvimento, obsolescências que devem ser superadas pelo mundo tecnológico. O não-ocidente começa a mostrar sua imagem e sua proposta para o mundo pretensamente globalizado e midiatizado. Por não-ocidente leia-se os movimentos e territórios que recusaram a ocidentalização do mundo, no seu modelo atual - a globalização - como única e inexorável forma de gestão da existência das sociedades.
A vez do mundo ocidentalizado se defrontar com suas negações se fez sentir, em escala mundial, com a Guerra do Golfo. Após esse movimento de negação outros começam a eclodir para o ocidente do consenso (PETRAS, 1998), assim aparecem o MST, no Brasil e o Movimento de Chiapas, no México. Todos esses movimentos e guerras são isolados na tentativa de demarcar o seu caráter local, na expectativa de contê-los no interior de suas fronteiras e reduzi-los a meros localismos ou regionalismos garantindo a manutenção e continuidade do processo de globalização.
Esquerdismo extremismos, fundamentalismos, arcaísmos, são algumas das peças envolvidas no discurso de desqualificação de movimentos nacionalistas, de movimentos políticos de oposição, movimentos étnico-religiosos, movimentos locais, a diferença é novamente posta como ‘inimiga da ordem’, marginalizada e demonizada. A unanimidade deve ser construída em torno da pedra de toque da atual fase do capitalismo, a globalização financeira e tecnológica.
O século XXI nasce reclamando o respeito à diferença e a diversidade multicultural, religiosa, política; e assim, como no Mundo do Leste, o ocidente de consenso é tomado de assalto pelos múltiplos movimentos de negação da ocidentalização, à uniformidade da globalização tecno-financeira. O desemprego nos países centrais, o flagelo da miséria absoluta que assola um terço da população mundial, o desequilíbrio financeiro dos países capitalistas periféricos, o aumento da distancia entre ricos e pobres, o abandono premeditado do continente africano às mazelas resultantes de anos de exploração lesiva, a questão ambiental, a retomada da nuclearização, são fatores que agudizam os reclames e os conflitos em escala mundial.
Os encontros do G-7 são marcados por negações, em forma de manifestações, de encontros alternativos, de pressões multilaterais por parte de ONGs, governos e nações prejudicadas. Nesse clima da pax Americana e Mundiale que o não-ocidente atinge seu ápice na destruição dos simbolos americanos da economia e do poder.
Assim, o mundo ocidentalizado vê surgir nas suas telas multimídias novos nomes, lugares e geografias. Novas demonizações são promovidas na busca de um consenso mortal, reduzindo diferenças culturais, religiosas e produtivas à imagem da barbárie. Povos e religiões inteiras são condenados à “vingança do império, o “atraso” precisa ser extirpado a todo custo em beneficio da paz global. A imprensa mundial dominante reduz as religiões a ismos e povos inteiros a terroristas, é o cerco aos homens das cavernas”, como assina a revista de maior circulação nacional, em sua edição 1721.

Rapidamente o ocidente assimila as novas imagens e nomes, divulgados na mídia mundial, sem uma análise mais aprofundada de sua historicidade e territorialidade, como se bastasse assistir a imagem produzida para deduzir centenas de anos de cultura e outros tantos de miséria, exploração, muitas vezes criadas e estimuladas pelo centro do sistema capitalista mundial. A negação da diferença e da diversidade agora ganha ares de guerra do mundo ocidentalizado contra o não-ocidente, nesse discurso todas as propostas de oposição ao modelo são elevadas a esfera do terrorismo anti-americano e anti-globalização.
Afeganistão, Paquistão, Tadjiquistão, Azerbaijão, são os novos lugares; Cabul, Jalalabad, Mazar-e-Sharif, Kandahar, são os novos alvos; Laden, Aí Qaeda, Aí Jazeera, os novos demônios. A regra é só uma, definida pelo centro do império: “quem não se alinhar ao modelo de mundo capitalista será considerado terrorista”, assim é a pax Americana que se impõe ao resto do mundo.

O FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO

As raízes do fundamentalismo islâmico moderno, estão nos movimentos tradicionalistas (ortodoxos) que surgem no Egito no inicio do século XX e ganham força após a 28 guerra mundial.
Originalmente, o terno ‘fundamentalista» surge para designar o surgimento de certas protestantes norte-americanas ortodoxas a partir do final do século XIX e início do século XX.
Hoje o termo designa toda e qualquer linha de pensamento religioso tradicionalista e liberaliza que procura restaurar valores religiosos em oposição a valores seculares (modernos) considerados imorais, materialistas, corruptos e pecaminosos.
Embora o fenômeno não esteja restrito ao chamado mundo islâmico, o surgimento de inúmeros movimentos fundamentalistas radicais no mundo islâmico e suas tentativas de derrubadas de inúmeros governos tem chamado a atenção do mundo ocidental.
O grande marco do movimento fundamentalista pós 2a guerra foi a Revolução iraniana de 1979 que com uma forte propaganda ideológica anti-americana e anti-ocidental, tentou exportar seus valores para o mundo islâmico.
O governo iraniano chegou a patrocinar a criação de um partido político no exterior o Hesbolah (Partido de Deus) atuante no sul do Líbano contra a ocupação israelense da região.
A guerra do Afeganistão no período 1979-1989 contra a União Soviética foi outro grande estímulo para o fundamentalismo islâmico.
Foi formado na época da guerra uma força internacional de guerrilheiros islâmicos os “mujahedins” para lutar contra a ocupação soviética no Afeganistão. Esta força internacional era composta por combates, sauditas, egípcios, paquistaneses, e na época contavam com o apoio do governo norte-americano.
A partir dos anos 90, grupos de estudantes islâmicos no Paquistão os talibans, conseguem vencer a guerra etono-civil afegão e instauram um governo teocrático sunita no país.
Apesar do sucesso político, o governo afegão só era reconhecido diplomaticamente por 3 países: Paquistão, Arábia Saudita e Emirados árabes.
O surgimento na década de 90 do grupo fundamentalista radical Aí Qaeda (a base, o fundamento), de Osama Bin Laden e sua acolhida pelo governo afegão tomam o Afeganistão peça chave na geopolítica americana de combate ao terror.
A grande contradição deste novo fundamentalismo islâmico, representado pela Aí Qaeda é que entre seus financiadores estão membros da monarquia saudita, o maior aliado americano no mundo árabe.


FATOS RECENTES IMPORTANTES NO ORIENTE MÉDIO
 ANO
FATO OCORRIDO
1979
Revolução Iraniana
1980-88
Guerra Irã x Iraque
1990-91
Guerra do Golfo (1º conflito)
11/09/01
Ataques ao WTC e Pentágono
14/11/01
Aliança do Norte (Afeganistão) controla Cabul

GRUPOS ISLÂMICOS RADICAIS
PAÍSES
GRUPOS ISLÂMICOS RADICAIS
Argélia
GIA (Grupo Islâmico Armado)
Egito
JIHAD AL ISLAMI (Guerra Santa)
Palestina
HAMAS e JIHAD (Movimento de Resistência Islâmica)
Líbano
HESBOLAH (Partido de Deus)
A. Saudita
AL QAEDA (Base ou Fundamento)
Afeganistão
AL QAEDA

IDÉIAS E IDEOLOGIAS

1- Guerreiros do Islã
"Muçulmanos que se encontram agora sentados perto da Casa de Deus! Orem por todos aqueles que resistem aos Estados Unidos e às outras superpotências e que compreendem que o povo do Iraque apóia nossa Revolução Islâmica. Nossa divergência é com os Estados Unidos, cuja mão se pode ver junto ao governo do Iraque. Com a graça de Deus, nossa luta há de continuar. Porque, como já disse inúmeras vezes, somos um povo guerreiro. Para nós, muçulmanos, a rendição não tem significado nenhum".
           
Mensagem do Aiatolá Khomeini aos peregrinos, 12/09/1980.

 02- "Os americanos precisam saber que a tempestade de aviões não vai terminar e há jovens que encaram a morte como os americanos encaram a vida".
Mensagem do porta voz da AL QAEDA respondendo ao ataque americano.



3 -  "Juro por Deus que a América não viverá em paz antes que a paz reine na Palestina e que o exército de infiéis desocupem a terra de Maomé".
            Mensagem de Bin Laden
4-  "Quem for contra o lobby judaico nos EUA corre o risco de ser excluído da vida política".
Leonardo Dimenstein (autor do livro: O Anti-Semitismo)